Uma revolução saudável: a comida que parece, mas não é
Pressionadas pelos veganos, as indústrias começaram a se mexer e invadiram as prateleiras com produtos que fazem bem
O veganismo sempre foi um pequeno movimento dentro de outro movimento, o vegetarianismo. Pequeno mesmo. Nos Estados Unidos, 3,5% da população é vegetariana, não come carne, peixe nem aves; escasso 0,4% é composto de veganos, e eles torcem o nariz para tudo, absolutamente tudo o que tenha origem animal. No Brasil, não há estatística. Em 2019, essa minúscula turma passou a fazer barulho, numa das mais interessantes mudanças comportamentais de nosso tempo. Pressionadas pela sociedade, que exige alimentos mais saudáveis, menos gordurosos, menos salgados, de manipulação que não afete o ambiente, as indústrias começaram a se mexer, e aos poucos invadiram as prateleiras com produtos que podem não ser lá muito saborosos, mas fazem bem, e é isso que importa. Trata-se de uma revolução, aqui e agora. Um recente levantamento mundial da consultoria Deloitte mostra que nove em cada dez grandes empresas de alimentação levaram aos supermercados ao menos uma marca reformulada para atender ao paladar novidadeiro.
Em agosto deste ano, a rede americana de fast-food Burger King fez um dos anúncios mais radicais de sua história ao oferecer em suas lojas a versão vegetariana de um clássico do cardápio, o Whopper. O Impossible Whopper — eis o nome do sanduíche — foi batizado assim por usar o hambúrguer desenvolvido pela Impossible Foods, empresa especializada em produtos plant-based, ou seja, que são criados com a utilização de vegetais e que imitam a textura e o sabor da proteína animal. A novidade tem 40% menos gordura saturada em comparação ao similar tradicional. A iguaria, chamemos desse modo, aportou no Brasil no mês seguinte, com proteína fornecida pela Marfrig, uma das líderes na produção de carne bovina no mundo. O primeiro hambúrguer 100% nacional já havia estreado por aqui três meses antes, com o Futuro Burger, da Lanchonete da Cidade, rede de cinco endereços em São Paulo. A merenda leva proteína de ervilha e soja, além de grão-de-bico e beterraba. Para quem gosta de carne, é insosso. Para todo o restante da humanidade, virou símbolo de novíssimos sabores.
Publicado em VEJA de 1º de janeiro de 2020, edição nº 2667