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Vício em comida ultraprocessada atinge 14% do mundo, diz estudo

No Brasil, cerca de 57 mil mortes prematuras de pessoas entre 30 e 69 anos por ano podem ser atribuídas a esse comportamento alimentar

Por Diego Alejandro
Atualizado em 2 nov 2023, 13h26 - Publicado em 2 nov 2023, 09h02

Um em cada sete adultos e uma em cada oito crianças podem ser viciados em alimentos ultraprocessados – como margarina, salgadinhos, biscoitos, frios, embutidos, industrializados entre outros produtos industrializados. É o que conclui um estudo publicado na revista científica British Medical Journal.

A dependência por ultraprocessados, porém, não é consenso entre os profissionais de saúde. Tanto que não existe nada similar no DSM-5, o manual referência da Associação Americana de Psiquiatria, que sirva como um norte para o diagnóstico desse transtorno mental. Contudo, um crescente número de pesquisas vem apontando para a existência de uma espécie de vício por esse tipo de comida.

“Esse tipo de alimento traz um mecanismo de recompensa importante, que pode levar a uma dependência. Isso preenche o critério de abuso de substância, mesmo que não seja classificado assim no DSM-5”, explica Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da Infância e Adolescência e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria. “A corrente que vai contra, entretanto, diz que o que mais importa é a dose e via de administração e não somente a substância – a berinjela, por exemplo, tem nicotina mas ninguém é viciado em come-la.”

De acordo com o novo estudo, a forma como algumas pessoas consomem esses alimentos também poderia “atender aos critérios para o diagnóstico de transtorno por uso de substâncias, que inclui desejos intensos, sintomas de abstinência, menor controle sobre a ingestão e uso continuado, apesar de consequências como obesidade, compulsão alimentar periódica, piora da saúde física e mental e menor qualidade de vida”.

A equipe revisou 281 estudos, de 36 países diferentes, e estimou que a “dependência de alimentos ultraprocessados” ocorre em 14% dos adultos e 12% das crianças. Para efeito de comparação, os autores apontaram que os níveis de dependência de outras substâncias legais em adultos são de 14% para o álcool e 18% para o tabaco. E o número de 12% para crianças é “sem precedentes”, ressaltaram.

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Como vicia?

“Carboidratos ou gorduras refinados evocam níveis semelhantes de dopamina em uma área do cérebro, com efeitos semelhantes aos observados com substâncias viciantes, como a nicotina e o álcool”, explica Alexandra Di Feliceantonio, professora do Fralin Biomedical Research Institute, nos EUA, e coautora do novo trabalho. A velocidade com que tais alimentos fornecem nutrientes ao intestino também pode desempenhar um papel no seu “potencial viciante”.

Além disso, os aditivos usados contribuiriam para o vício. Segundo os autores, o entendimento de que alguns tipos de comida têm essa característica ajudaria a melhorar a conscientização e a propor mudanças em políticas sociais e práticas clínicas.

“Existe um apoio convergente e consistente para a validade e relevância clínica da dependência alimentar”, disse Ashley Gearhardt, uma das autoras do artigo e professora de psicologia na Universidade de Michigan. “Ao reconhecer que certos tipos de alimentos processados ​​têm propriedades de substâncias viciantes, poderemos ajudar a melhorar a saúde global”, completa.   

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Mas os autores enfatizam que nem todos os alimentos têm potencial de vício. Embora sejam necessárias mais pesquisas para determinar como exatamente os ultraprocessados desencadeiam uma resposta de dependência, os alimentos ricos em carboidratos e gorduras refinadas, amplamente comercializados, são “claramente consumidos em padrões de dependência” e resultam em resultados prejudiciais à saúde.

Vale lembrar que, apenas no Brasil, cerca de 57 mil mortes prematuras de pessoas entre 30 e 69 anos por ano podem ser atribuídas a esse hábito alimentar, segundo estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine.

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