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A corrida tecnológica resulta em modelos de TV cada vez mais sofisticados

Os aparelhos podem custar centenas de milhares de reais. Mas, com o tempo, os preços cairão

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 14h13 - Publicado em 19 jun 2020, 06h00

De tempos em tempos, os fabricantes de TV lançam novidades que acabam por impactar todo o setor. Em 1982, a japonesa Epson apresentou o primeiro aparelho LCD do mundo com a famosa tela de cristal líquido, que mais tarde seria incorporada pelos principais rivais. Em 1997, a holandesa Philips criou a TV de plasma, que abriria caminho para os equipamentos com estrutura compacta, sem o trambolho dos tubos. Em 2009, seria a vez de a sul-coreana Samsung revolucionar o mercado com o sistema LED, que permitiu telas ainda mais finas e com maior brilho e contraste. Três anos depois, a japonesa Sony surpreendeu com a resolução 4K, passo fundamental para a conexão dos televisores com smartphones, tablets e computadores. Em 2013, a também sul-coreana LG trouxe a inovação Oled, com definição espetacular ancorada em milhões de pixels. Nos próximos dias, uma parceria da dinamarquesa Bang & Olufsen com a LG adicionará mais um capítulo às inovações da indústria de eletrônicos ao colocar nas prateleiras a primeira TV com display Oled 8K do planeta.

Batizado de Beovision Harmony 88, o televisor chamou a atenção do mercado por dois motivos principais. O primeiro deles está ligado à tecnologia prometida pelas empresas. De acordo com elas, os 33 milhões de pixels do display Oled 8K de 88 polegadas garantem uma qualidade de imagem dezesseis vezes superior à das TVs Full HD — o que é, de fato, assombroso. Significa que, se os cálculos dos fabricantes estiverem corretos, a imagem tem qualidade equivalente à das telas de cinema. O aparelho traz também um sistema de inteligência artificial que regula a qualidade da imagem de acordo com o canal escolhido. Se a pessoa vê uma transmissão esportiva, o ajuste é específico para aquela ocasião. Se prefere um filme, a TV adapta a imagem para torná-la adequada ao modo cinema. O segundo motivo que inclui a Beovision Harmony entre os marcos da indústria é o preço. Para encomendas pela internet, a Bang & Olufsen cobrará 49 000 dólares (algo como 250 000 reais), o equivalente a um apartamento popular, ou uma casa pequena.

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É tradição na indústria de eletrônicos cobrar caro por uma inovação que, algum tempo depois, será adotada por outras empresas. Quando a tecnologia passa a ser corriqueira, integrando televisores de todos os fabricantes, os preços inevitavelmente caem. As primeiras TVs de alta definição surgiram no início dos anos 90 e custavam perto de 60 000 dólares. Hoje em dia, sistemas HD se tornaram obrigatórios em qualquer modelo. Resultado: alguns deles custam menos de 1 000 dólares. Em 1997, a Philips cobrou 25 000 dólares pela primeira TV de plasma. Nos anos 2000, o plasma deixou de ser novidade e televisores equipados com a tecnologia saíam das lojas por 1 500 dólares. É difícil cravar quando o sistema Oled 8K se popularizará, mas isso certamente ocorrerá em um período não muito distante. Apesar do preço exorbitante, a Beovision 88 não é o modelo de televisão mais caro da história. No ano passado, a Sony apresentou ao mercado um aparelho também dotado de tecnologia 8K que custava 70 000 dólares. Há extravagâncias produzidas apenas por encomenda. Recentemente, a marca de luxo britânica Stuart Hughes preparou um televisor de 55 polegadas com 28 quilos de ouro e contornos com pele de jacaré. O mimo é vendido por impressionantes 2,2 milhões de dólares.

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O avanço dos sistemas de fabricação e o aumento brutal da produtividade das empresas fizeram com que o processo de barateamento das novas tecnologias fosse repetido em diversas áreas de negócios. “Por volta de 1950, um carro-padrão do ano custaria o equivalente a 500 000 reais hoje em dia”, diz Antonio Seabra, professor do departamento de engenharia de sistemas eletrônicos da Poli-USP. “Atualmente, um automóvel-padrão vale em torno de 60 000 reais. É uma redução de preços inimaginável. Ou seja, a indústria da tecnologia permite uma economia de escala monumental.” Na área de eletrônicos, essa dinâmica é ainda mais acelerada. Trata-se, obviamente, de algo bastante positivo, mas também obriga os consumidores a se manter atualizados. A única maneira de fazer isso e não perder o que há de melhor no mercado é comprar novos produtos, num ciclo insaciável alimentado com mestria pelas empresas. Essa é uma das lógicas que movem o capitalismo no século XXI.

O mercado brasileiro de TVs depende, como em nenhum outro país, de uma sazonalidade: em anos de Copa do Mundo, as vendas disparam. Em 2019 — sem o torneio de futebol, é bom lembrar —, o setor avançou 3%, e a expectativa para 2020 era alcançar um desempenho ainda melhor. A crise do coronavírus, porém, interrompeu o processo, o que obrigou a indústria a rever os seus planos. Os aparelhos de alta tecnologia têm obtido bons resultados no país. No ano passado, as vendas de Smart TVs cresceram 5%, acima da média do setor. Segundo a LG, os modelos premium (Oled, 4K e 8K) representam 10% do volume total de negócios da marca no mercado brasileiro, e essa participação vem crescendo a cada ano. O Brasil, aliás, é um mercado com grande potencial. Pesquisas mostram que as ultrapassadas TVs de tubo têm forte presença nos lares brasileiros, apesar do desenvolvimento tecnológico observado nos últimos anos. Outro estudo revelou que, desde 2013, o tempo médio que o brasileiro passa na frente da TV aumentou em uma hora, o que em boa medida se deve aos serviços de streaming.

Nos últimos anos, muitos analistas chegaram a afirmar que a indústria das TVs sofreria um revés com a concorrência de computadores, tablets e smartphones. De fato, houve algum impacto, mas bem menor do que o alardeado pelos pessimistas. De acordo com os mais recentes dados disponíveis, as vendas anuais no mundo somam 214 milhões de unidades. Em 2012, eram 243 milhões. Uma das saídas encontradas pelas empresas para equilibrar seus balanços é justamente investir em modelos mais caros, que proporcionam margens financeiras maiores. Isso explica por que há uma corrida desenfreada de gigantes como Samsung, LG,Sony e Xiaomi por aparelhos cada vez mais tecnológicos — e mais caros. Para os consumidores, a boa notícia é que, cedo ou tarde, essas inovações caberão no seu bolso.

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Publicado em VEJA de 24 de junho de 2020, edição nº 2692

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