A paulistana que é a expressão da fama na geração do iPhone
Depois de explodir na internet, aos 15 anos, Bibi Tatto se transformou em referência para o público de sua idade — e passou a ganhar muito com isso
“Fala, galera!”. “Fala, rapaziada!” Não há nada de propriamente original, convenhamos, no modo invariável como a paulistana Bianca Tatto Marques começa seus vídeos no YouTube. Depois da saudação, ela se põe a discorrer sobre vivências comezinhas da rotina dos jovens, conta piadas… até que cantarola paródias de hits da música pop imitando o Cebolinha, o personagem da Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, que tem a língua “plesa”. Pronto. É o bastante. Bibi Tatto, como ficou conhecida, pode, à primeira vista, parecer tão somente mais um fenômeno rotineiro da internet. Não, não é nada disso. Basta examinar os números que gravitam ao redor da moça de cabelos compridos, sobrancelhas grossas e ar sempre descolado. Eles não deixam dúvida de que Bibi já se transformou em uma referência de sua geração e se aproxima do êxito de youtubers mais experientes, como os incontornáveis Felipe Neto, de 31 anos, e Kéfera Buchmann, de 26. No YouTube, a principal plataforma de seu trabalho, mais de 9 milhões de pessoas já depararam 920 milhões de vezes com as publicações de Bibi. No Instagram, somam-se nada menos do que 3,1 milhões de fãs. No Twitter, são 621 000 seguidores.
“Sempre amei a ideia de ter gente me assistindo, fosse aos milhares ou aos milhões”, diz ela. Com a fama, Bibi expandiu os meios de atuação — outra característica da geração da qual faz parte. Em 2016, lançou Um Novo Mundo, livro sobre o videogame Minecraft (a primeira de três obras publicadas até aqui, que venderam algo em torno de 150 000 exemplares). Um ano depois, passou a compor e gravar músicas originais, com temas ligados às paixões adolescentes. Hoje, faz cerca de 25 shows por ano. Ela não compartilha quanto fatura com o trabalho. No entanto, para ter uma noção mínima, leve em conta que foram mais de 2 milhões de reais apenas com os anúncios colocados pelo YouTube antes de cada uma de suas gravações. Convenhamos: não é pouco, galera! Não é pouco, rapaziada!
“Sempre amei a ideia de ter gente me assistindo, fosse aos milhares ou aos milhões”
A busca pela notoriedade começou cedo. Ainda pequena, ela costumava fazer apresentações musicais para a família, ao lado do irmão Gabriel, um ano mais novo, que aparece com frequência em seus vídeos. E, sim, detalhe: Bibi gravava aqueles shows domésticos e corria para colocá-los no ar na web. Não por acaso, estrearia no YouTube com 12 anos. “Eu não sabia, e mal sei ainda, o nome das estrelas e astros da TV. Mas conhecia todos os youtubers!”, recorda a jovem. Foi Gabriel quem lhe apresentou, em 2012, o Minecraft, então uma febre infantil, cuja proposta é que os participantes construam mundos inteiros com pecinhas virtuais (daí o título do livro de Bibi). A garota se tornou fã dessa espécie de Lego computadorizado e criou um canal no YouTube em que se exibia jogando.
Nos primeiros meses, Bibi não conquistava mais do que três seguidores por dia. O tempo passava e ela não acontecia. A virada veio em 2015, quando gravou a canção Isolados, que debocha do próprio Minecraft. Foi avassalador: ela começou a atrair diariamente 5 000 novos fãs, média que se mantém. O clipe de Isolados ultrapassou a marca de 11 milhões de visualizações e se tornou o campeão de audiência do canal. Até 2017, os posts de Bibi continuavam a tratar de games. Ela decidiu, então, variar os assuntos. Gostou da brincadeira e, agora, fala e mostra “de tudo”. Em um dos quadros de maior receptividade, Bibi aparece experimentando comidas exóticas. “Mesmo com todo o meu empenho, pessoas mais velhas — professores, inclusive — ainda me dizem que o que eu faço não seria uma profissão”, relata Bibi, que hoje cursa a faculdade de rádio, TV e internet. Na verdade, ela teria muito a ensinar aos docentes. Até 2018, a própria Bibi produzia, editava e divulgava seus trabalhos. De lá para cá, contratou quatro auxiliares. Como a equipe, suas ambições só têm crescido. Eis uma profissional, sim, do presente — e do futuro.
Publicado em VEJA de 8 de janeiro de 2020, edição nº 2668