‘As máquinas farão tudo o que nós fazemos – e melhor’, diz bioeticista
Em conversa com VEJA, James J. Hughes falou sobre o futuro próximo e a importância do presente
O Festival PICNIC, encontro entre os dias 1º e 2 de novembro na cidade do Rio de Janeiro que tem como objetivo discutir as relações entre tecnologia, criatividade e sociedade, trouxe para o Brasil o bioeticista e sociólogo norte-americano James J. Hughes. Ele é o diretor executivo do Instituto de Ética e Tecnologias Emergentes (EUA) e autor do livro “Citizen Cyborg”, no qual discute a relação entre a democracia e o ser humano do futuro, recomendado pela revista Scientific American em 2005.
Nesta edição do evento serão discutidos temas como a substituição de seres humanos por máquinas, o progresso de inteligências artificiais e o futuro da sociedade democrática dentro do panorama atual. Hughes conversou com VEJA sobre esses e outros assuntos.
Palestrante no festival, o bioeticista não tem dúvidas sobre a troca de trabalhadores por robôs: “As máquinas eventualmente farão tudo o que nós fazemos, mas melhor, mais rápido e mais barato”. Por isso, ele vê a necessidade de começarmos a nos planejar imediatamente. Duas ações que julga necessárias são a divisão de riquezas de uma forma mais igualitária e a criação de uma maneira de fazer desses robôs legalmente responsáveis por suas ações, para que possamos monitorá-los de modo democrático.
O americano diz acreditar também que o próprio conceito de ser humano é mutável e continuará a se expandir conforme desenvolvemos novas capacidades e nos modificamos com as mais recentes tecnologias. “Os nossos ancestrais ficariam horrorizados e assustados com o que nos tornamos”, afirma, certo de que a ideia do que somos depende do tempo em que se vive.
Hughes contou também que enxerga a possibilidade de um futuro positivo para a humanidade, mas também de um pessimista. Para ele, tudo depende de como agiremos no presente e nos próximos anos. “As nossas decisões sobre como resolveremos os problemas atuais podem desviar o percurso da história em direção ao maravilhoso e para longe do péssimo”, opina.
Segundo o sociólogo, não precisaremos esperar muito para ver qual caminho tomaremos. “As gerações atuais talvez possam ver o mundo se transformar enquanto estão vivas. Os efeitos da nossa responsabilidade moral e política recairá, assim, sobre nós e nossos filhos, e não só sobre descendentes distantes”, projeta.
James comentou ainda os cenários de distopia que estamos acostumados a relacionar à nossa ideia de futuros repletos de tecnologias. Para ele, em “Admirável Mundo Novo” (clássico de 1932 de autoria de Aldous Huxley), não foram as novas drogas e a engenharia biológica que criaram o mundo distópico. Elas foram, diz Hughes, “apenas” mecanismos usados pelo governo autoritário.
Assim, os novos aparelhos e técnicas se configurariam não como força motriz dos movimentos despóticos, mas como modo de reforçar e mantê-los. “A tecnologia pode tornar a resistência a um futuro fascista impossível, mas não pode garantir que o fascismo vencerá. Isso depende de nós”, conclui.