Carta ao Leitor: O futuro chegou
A IA já não pode ser desdenhada. O conhecimento é a melhor resposta para as dúvidas de quem teme o andar da carruagem

Com ironia, sem a qual seria impossível sobreviver em tempos de guerra e de aceleradas inovações, no início da segunda metade do século XX Albert Einstein cunhou uma máxima indelével: “Nunca penso no futuro, ele chega rápido demais”. Foi sempre o avesso, a rigor, com as promessas oníricas atropeladas pela realidade, em um amanhã tão sonhado e nunca alcançado. Agora, talvez pela primeira vez na história recente da civilização, o relógio foi antecipado — e os prognósticos de como seria o mundo com a ascensão dos recursos de inteligência artificial (IA) soam adiantados. Eles são palpáveis, e não há setor de maior preocupação do que o mercado de trabalho.
Afinal, os robôs de IA roubarão nossos empregos? Não é bem assim, como mostra cuidadosa reportagem da edição. Algumas carreiras, como as de dublador, atendente de telemarketing e agente de viagem, estão fadadas ao desaparecimento. Outras, como as de assistente social, programador de games e artista, que pressupõem sensibilidade e habilidades de leitura e escrita, seguirão vivas. Estima-se, até 2030, a supressão de 92 milhões de postos de trabalho, segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial. Contudo, outros 170 milhões serão criados. Trata-se, enfim, no admirável mundo novo, de aprender a lidar com o salto tecnológico, e não de o desafiar, por ser inútil. Chegará ao fim da estrada quem souber compreender as portas abertas pela velocidade das máquinas. Não há o que temer, a não ser a ignorância.
O medo da tecnologia a bulir com o cotidiano existe desde sempre. Foi assim quando Johannes Gutenberg desenvolveu o sistema mecânico de tipos móveis, no século XV, para horror dos copistas e escribas. Foi assim no fim do século XVIII e início do XIX, com a introdução dos teares e das máquinas a vapor no alvorecer da Revolução Industrial. Foi assim com a eclosão dos computadores e programas de uso doméstico, com o adeus aos grandalhões mainframes das empresas. Temia-se, em todas essas situações, o pior dos cenários, a debacle que não veio. Ao contrário, deu-se o despertar de uma era de inovação e riqueza — e das dificuldades, do espanto pelo inédito, abriram-se portas para o que o capitalismo tem de mais louvável: o direito à livre-iniciativa. VEJA, em mais de cinco décadas de jornalismo profissional, esteve atenta aos avanços tecnológicos em sucessivas capas e, agora, na dinâmica da internet. O conhecimento é a melhor resposta para as dúvidas de quem teme o andar da carruagem. A IA já não pode ser desdenhada. Deixou de ser curiosidade. Silenciosamente entrou em nossas vidas. Não havendo como ignorá-la, o caminho sensato é dar as mãos a ela e ensiná-la a nos ajudar. O futuro chegou.
Publicado em VEJA de 17 de abril de 2025, edição nº 2940