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China aposta na ciência e ganha força como potência de inovação

País dita tendências ao superar os Estados Unidos em relevância de estudos e registros de patentes

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h10 - Publicado em 17 set 2022, 08h00
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  • Nas últimas décadas, a China ficou conhecida no imaginário do Ocidente como o país dos reis da imitação. De fato, dedicou-se durante boa parte do século XX a copiar o que outros faziam de melhor, seja na indústria automotiva, seja no ramo de jogos eletrônicos ou na fabricação de celulares. Na verdade, em qualquer área. A lógica funcionou por muito tempo, mas acabaria subvertida por um pilar ainda mais poderoso: inovação. Em nenhum outro lugar ela é um bem tão cultuado, a ponto de se tornar política de Estado. E como se produz inovação? Não há outro caminho a não ser pela ciência — e é exatamente nesse campo que os chineses estão deixando o planeta inteiro para trás.

    Um estudo do Instituto Nacional de Política Científica e Tecnológica do Japão descobriu que, entre 2018 e 2020, a China foi o país que mais realizou pesquisas científicas. Foram mais de 407 000 estudos, muito acima dos 293 000 artigos publicados em periódicos de relevância por americanos, que historicamente dominam esse ranking. Sozinha, a China foi responsável por 27,2% das pesquisas que estão no seletíssimo grupo das mais citadas do mundo, uma métrica que indica o respaldo e a relevância das investigações para outros cientistas. Não é só isso. Pelo terceiro ano consecutivo, em 2021 o gigante asiático superou os Estados Unidos em pedidos de patentes. Foram 69 540 solicitações ao Tratado de Cooperação em Matéria de Patentes, ante 59 570 dos americanos. No total, a China tem 75% de todas as patentes de inteligência artificial da última década e 40% das tecnologias relacionadas ao 6G, futuro sucessor da quinta geração de tecnologias de comunicação sem fio.

    AULA - Universidade de Pequim: jovens são estimulados a trabalhar em startups -
    AULA - Universidade de Pequim: jovens são estimulados a trabalhar em startups – (Roman Pilipey/EFE)

    Não é de hoje a preocupação da China em estimular o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Quando Deng Xiaoping (1904-1997) assumiu como líder máximo, em 1978, fez um discurso histórico conclamando os cientistas do país a buscar conhecimento de forma obsessiva. Mais de quarenta anos depois, o presidente Xi Jinping reforçou o compromisso. O recente Plano Quinquenal do governo chinês estabeleceu como meta alcançar, até 2025, grandes avanços em tecnologias essenciais nas áreas de energia, computação quântica, genética, biotecnologia e semicondutores.

    Para isso, o mundo corporativo e as instituições de ensino têm papel vital. A empresa de tecnologia Tencent, dona do aplicativo de mensagens WeChat, se tornou uma das recordistas em depósito de patentes e está construindo um câmpus de 130 hectares em Shenzhen que deverá colocá-la em posição melhor para o despertar de inovações. O local, chamado Net City, terá como um de seus focos o desenvolvimento de sistemas inteligentes na área das comunicações. Por sua vez, as grandes universidades estimulam seus alunos a fazer intercâmbios internacionais e apoiam o ingresso precoce deles no mercado de trabalho, especialmente em startups.

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    arte China

    Para obter vantagens competitivas, exige-se obviamente grande injeção de recursos. Em 2021, a China investiu o equivalente a 2 trilhões de reais em pesquisa e desenvolvimento — o volume equivale a quase um quarto de todo o PIB brasileiro. “Não é possível estimular a inovação sem boas políticas públicas”, afirma o professor Evandro Menezes de Carvalho, coordenador do núcleo de estudos Brasil-China da FGV Direito Rio. De fato, a inovação se tornou uma política de Estado. Para estimular o empreendedorismo na área de ciências, o governo lançou um programa de subsídios à pesquisa que concede prêmios em dinheiro a empresas que mais depositam patentes. Com isso, criou-se no país um ambiente favorável à inovação. O avanço aparentemente irrefreável da China preocupa outras nações. No fim de agosto, o presidente americano Joe Biden lançou o programa Chips and Science Act, que consiste no desembolso de 52 bilhões de dólares para a indústria de semicondutores, dependente demais dos chineses. Na velocidade com que a China vem se transformando numa potência tecnológica, a resposta pode ter chegado tarde demais.

    Publicado em VEJA de 21 de setembro de 2022, edição nº 2807

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