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Clonagem de animais de estimação ganha força e faz sucesso nas redes

Mas quem espera uma cópia com o mesmo temperamento do original pode se decepcionar

Por Sabrina Brito Atualizado em 4 jun 2024, 12h19 - Publicado em 3 abr 2022, 08h00
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  • Quem tem animais de estimação sofre só de pensar em perder o melhor amigo. Com o passar dos anos, a amizade construída entre o tutor e o pet passa a ser indissociável e não é raro que o animal ocupe o posto de companheiro número 1, sobrepondo-se até mesmo aos relacionamentos entre humanos. A dor da partida, portanto, pode ser dilacerante. A novidade é que, graças aos avanços tecnológicos dos últimos anos, passou a ser possível aliviar um pouco a angústia da morte de cães ou gatos. Conquistas sem precedentes na área da clonagem levaram empresas de genética a se especializar em criar cópias geneticamente idênticas dos bichinhos de estimação, dando origem a uma indústria tão inovadora quanto polêmica.

    Uma das maiores expoentes do ramo é a americana ViaGen, que oferece o serviço de clonagem de cães, gatos e cavalos. Em linhas gerais, os cientistas coletam amostras do pet vivo e depois cultivam as células em laboratório por meio de processos artificiais até que se transformem em um embrião (veja no quadro). Ele, então, é gestado para algum tempo depois resultar em uma cópia 100% fiel, pelo menos em termos genéticos, do pet original. Para clonar um cachorro, a ViaGen demora oito meses. Gatos — cuja sabedoria popular diz que são possuidores de sete vidas — dão mais trabalho, exigindo ao menos um ano para a conclusão do processo. O custo também é alto: 240 000 reais para caninos e 167 000 reais para felinos. Não que os valores assustem. A empresa tem fila de espera de tutores dispostos a contratar o serviço. Embora a companhia não divulgue o número exato de animais clonados, os negócios dobraram nos últimos cinco anos.

    arte Pets

    O fenômeno não está restrito aos Estados Unidos. Empresas como a Sooam Biotech, da Coreia do Sul, e a Sinogene, da China, também atuam no ramo da clonagem doméstica. Em vídeos no TikTok, diversos usuários mostram o dia a dia com os pets clonados. No Brasil, a prática ainda não é permitida. Mas em janeiro a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou um Projeto de Lei que regulamenta a pesquisa, produção e venda de animais domésticos clonados. Por enquanto, apenas bichos de interesse zootécnico — bois, ovelhas, cavalos, porcos, coelhos e aves, entre outros — podem ser copiados, mas já se discute a autorização para pets.

    O tema é fascinante, mas é preciso fazer uma ressalva: embora os animais resultantes da clonagem sejam biologicamente idênticos, o clone não terá o mesmo temperamento do pet original. Se o objetivo do tutor for “ressuscitar” o bichinho que morreu, ele provavelmente ficará frustrado com o processo. A ciência sabe que o ambiente em que o animal for criado e experiências diferentes ao longo da vida moldam a sua personalidade. Ou seja, um pet com comportamento brincalhão pode, por exemplo, dar origem a uma cópia agressiva.

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    A mesma regra, ressalte-se, vale para os chamados gêmeos monozigóticos, os humanos geneticamente idênticos. “O clone é como se fosse um irmão gêmeo”, reforça Marcelo Demarchi Goissis, professor do Departamento de Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. “Irmãos gêmeos, mesmo expostos a condições de desenvolvimento muito similares, têm comportamentos diferentes, cada um com sua individualidade.” No caso de animais de raças específicas, há um espectro de comportamento esperado, mas não dá para obter uma cópia idêntica.

    Devem-se acrescentar questões éticas ao debate. E se as famílias quiserem clonar seus parentes queridos? Até que ponto isso é moralmente aceitável? Quais são os riscos envolvidos na produção em larga escala de clones? A ciência não tem respostas definitivas para tais dúvidas, e elas certamente ganharão volume nos próximos anos. Existem, contudo, possibilidades mais promissoras. Desde que o britânico John Gurdon descobriu um modo de clonar sapos africanos, na década de 50, e principalmente após o nascimento da ovelha Dolly, o primeiro mamífero da história a ser clonado a partir de uma célula adulta, em 1996, os cientistas não param de se debruçar sobre o assunto. Um caminho que se desenha é a revitalização de espécies quase extintas por meio da clonagem dos escassos espécimes ainda vivos. É uma possibilidade real, embora assustadora, sinônimo da fascinante — e por vezes controversa — aventura da ciência.

    Publicado em VEJA de 6 de abril de 2022, edição nº 2783

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