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Cofundador da Apple cria empresa de energia renovável

Steve Wozniak, o engenheiro que pensou o primeiro computador da empresa para Steve Jobs brilhar, quer agora salvar o mundo

Por Amauri Segalla
Atualizado em 4 jun 2024, 13h43 - Publicado em 18 dez 2020, 06h00

Os gênios por trás das tecnologias que transformaram o mundo podem ser divididos em três grupos. No primeiro estão personalidades como Steve Jobs, fundador da Apple, e Elon Musk, da Tesla. Impetuosos, midiáticos e dotados de grande poder criativo, eles são os homens das grandes ideias, embora muitas vezes não saibam como executá-las tecnicamente. O segundo grupo é formado por pessoas como Bill Gates, da Microsoft, e Mark Zuckerberg, do Facebook. Eles são os típicos nerds: conhecem a fundo a engenharia do produto e não medem esforços para alcançar os objetivos — nem que, para isso, tenham de destruir os rivais (ok, Gates mudou ao longo dos anos, mas no começo sua fúria empreendedora não só era reconhecida como também temida). Mas há uma terceira vertente de gurus tecnológicos que não se enquadra nos estereótipos. São os inventores tímidos e evasivos, avessos aos holofotes e que só desejam desfrutar de sua criação, sem ligar para a ideia petulante de “revolucionar a sociedade”, como pretendiam Jobs, Musk, Gates e Zuckerberg. O melhor exemplo do último grupo é o americano Steve Wozniak, que agora se aventura em um projeto na área de energia renovável.

Wozniak é o engenheiro eletrônico que projetou, em 1976, o primeiro computador pessoal da história, o Apple I, equipamento que daria origem à empresa da maçã. Enquanto Jobs, o parceiro e sócio, cuidava das ideias e da construção do espírito inovador que marcaria a Apple para sempre, Wozniak desenvolvia os produtos. Ele deixou a Apple em 1985. Entre outras razões, porque estava incomodado com a megalomania de Jobs. Desde então, Woz, como é conhecido, distanciou-se do universo dos negócios, lançando esporadicamente um ou outro projeto sem maiores ambições. Por isso mesmo, é surpreendente sua investida no setor energético. Apresentada oficialmente há alguns dias, a empresa chama-se Efforce e tem um modelo de negócios diferente.

QUE DUPLA - O inventor Wozniak, com Jobs (em pé): parceria durou uma década -
QUE DUPLA - O inventor Wozniak, com Jobs (em pé): parceria durou uma década – (Db Apple/Fotoarena)

Em linhas gerais, trata-se de uma companhia de investimentos dedicada a fomentar projetos de energia renovável — eólica, solar, biomassa, entre outros tipos. O cliente que se beneficia dos programas financiados pela Efforce devolve uma parte dos recursos economizados. Para ficar mais claro: se uma corporação gasta 10 000 dólares por mês com despesas de energia antes da Efforce e depois passa a desembolsar 6 000 dólares, sobram 4 000 dólares ao fim do período. Desse montante, uma fatia é repassada à empresa de Wozniak. Assim, todos os envolvidos saem ganhando: além do cliente e da Efforce, o próprio planeta, pois haverá uma firma a menos a poluir a atmosfera. Em larga escala, acredita Wozniak, a iniciativa poderá levar a mudanças ambientais significativas.

Outra inovação da Efforce é o fato de possuir uma moeda digital chamada Wozx. Ancorada na tecnologia blockchain, ela funciona exatamente como o bitcoin e seus congêneres. O setor financeiro gostou da proposta. Em sua estreia na HBTC, uma espécie de bolsa de valores de empresas que negociam criptomoedas, o valor de mercado da Efforce chegou a aproximadamente 1 bilhão de dólares, o dobro da estimativa inicial. O potencial parece mesmo ser imenso. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), 250 bilhões de dólares foram destinados, em 2019, para financiar projetos ligados ao aumento da eficiência energética por parte das empresas. Em 2025, estima-se que esse mercado deverá movimentar 500 bilhões de dólares.

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SUSTENTÁVEL - Turbina eólica na China: aerodinâmica que não emite poluentes -
SUSTENTÁVEL - Turbina eólica na China: aerodinâmica que não emite poluentes – (Li Long/Getty Images)

O interessante é que, dessa vez, Wozniak tomou para si a missão de transformar o mundo, como fizeram alguns dos grandes gênios da tecnologia tempos atrás. A diferença é que, aparentemente, não fez isso movido por vaidade ou ambições monetárias — seu patrimônio pessoal é calculado em 120 milhões de dólares. Ele quer apenas e simplesmente evitar a destruição ambiental do planeta. “O consumo de energia e as emissões de dióxido de carbono têm crescido de maneira dramática em todo o mundo”, disse no lançamento da Efforce. “Podemos mudar isso aumentando o uso de fontes renováveis.”

Embora Steve Jobs ocupe o papel de estrela máxima da Apple, é inegável a importância de Wozniak para a história dos computadores. Graças a ele, equipamentos simples, pequenos e eficientes começaram a ser produzidos em escala, o que mudou para sempre a relação das pessoas com essas máquinas. Também é preciso admitir que Woz tem, embora negue, um carisma irresistível. “Quando fundamos a Apple, Jobs queria ser Shakespeare, Newton ou Mozart”, disse. “Eu me satisfazia em ser apenas um engenheiro.” À sua maneira, o brilhante engenheiro planeja agora salvar o mundo. Não é pouca coisa.

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Publicado em VEJA de 23 de dezembro de 2020, edição nº 2718

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