Em Curitiba, capital do Paraná, a psicóloga e terapeuta de família, Vera Maria Carvalho, de 63 anos, está há quase um mês em isolamento social, junto com o seu marido, de 72 anos, e sua mãe, de 86, por causa do coronavírus. Os três, por serem idosos, fazem parte do grupo de risco. Vera conseguiu se adaptar profissionalmente, começou a fazer atendimentos por chamadas em vídeo, mas sabe que terá que ficar distante dos netos. Um deles, o caçula, mora em Londres, na Inglaterra, e a distância sempre fez parte da relação. Contudo, o mais velho, de 11 anos, mantinha uma rotina de convivência próxima. “Para quem tem os netos por perto, é uma experiência muito dolorida. Bate uma sensação de estranheza, uma certa depressão. O vírus faz uma curva e a gente também”, afirmou Vera.
Fora da quarentena, semanalmente há o dia certo para o garoto dormir na casa dos avós. No dia seguinte, acordam juntos, tomam café e os avós o levam à escola. Duas vezes por semana, ele almoça na casa dos avós e são eles os responsáveis por levarem o neto às aulas de taekwondo. Para contornar o vazio imposto pelo coronavírus, Vera decidiu explorar a plataforma online Letters4Kids, serviço que permite criar um diário digital para as crianças. A plataforma permite armazenar vídeos, áudios, arquivos em texto e destacar datas especiais. “Sou de uma geração em que a gente escrevia carta. Muitas cartas. Por isso, acho que será um exercício muito proveitoso”, afirmou. Pela profissão que exerce, Vera reconhece a importância de organizar as lembranças. “Costumo trabalhar com essas memórias. Me interessei pela plataforma porque peço para as famílias organizarem as memórias afetivas e emocionais. No momento em que estamos vivendo, acho que faz todo o sentido”, explicou.
Outra adepta da experiência é Alba Simões Maestrini, de 55 anos. Mesmo não sendo idosa, ela está em isolamento social com o marido, de 58 anos, e o casal não se encontrou mais com os netos. O mais velho tem 4 anos e o caçula completou 5 meses. Moradores de Vitória, e ambos aposentados, eles costumam viajar a Fortaleza e Governador Valadares, onde os filhos moram. “Nesta fase da pandemia, estamos dentro de casa. O importante é cada um fazer a sua parte”, afirmou. Para Alba, a experiência que os netos terão quando acessarem o conteúdo será única. “É uma forma descontraída e pessoal de compartilhar os momentos do nosso dia a dia. No futuro, será mágico quando eles puderem entender os pensamentos e as emoções que os avós tiveram no passado”, explicou.
De acordo com a Letters4Kids, no fim de março, quando o mundo já estava vivendo o momento crítico com a pandemia de coronavírus, o acesso à plataforma cresceu 25% em comparação ao mês anterior. Segundo a empresa, avós e parentes mais próximos estão usando a plataforma para registrar fatos e acontecimento, que servirão de base histórica para os netos no futuro. O público principal é formado pelos avós, que estão confinados e isolados, sem acesso ao ambientes familiares e encontros com os netos.