Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

O espaço é logo ali

Abrir a Estação Espacial Internacional a missões comerciais é o próximo passo da Nasa para transferir os custos das viagens à iniciativa privada

Por Alexandre Salvador Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 15h56 - Publicado em 14 jun 2019, 07h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • arte-espaco
    (./.)

    Em 1967, dois anos antes de Neil Armstrong pôr os pés na Lua, e logo depois de os soviéticos pousarem uma sonda, a Lunik-9, em seu chão rochoso, Gilberto Gil escreveu uma de suas mais bonitas composições, celebrando o feito, mas preocupado com o futuro. “A mim me resta disso tudo uma tristeza só / Talvez não tenha mais luar para clarear minha canção / O que será do verso sem luar? / O que será do mar, da flor, do violão?” Ao alcançarmos o inalcançável, talvez tenhamos perdido um pouco de poesia, vá lá, mas deu-se um imenso salto científico — doze astronautas pisaram na Lua, 561 foram ao espaço. O encanto agora é outro, o cosmo deixou de ser algo apenas ao alcance de uma estrofe lírica para o comum dos mortais. Na sexta-feira 7, a Nasa, a agência espacial americana, anunciou que abrirá as portas da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) a missões privadas, a qualquer pessoa. Ou seja: a partir do ano que vem, será possível reservar assento numa das viagens tripuladas rumo à ISS, que viaja a 28 000 quilômetros por hora na órbita terrestre.

    Só terá chance de embarcar quem for aprovado numa bateria rigorosa de testes de capacidade física e de saúde — quase nada, em comparação com o salgado preço da aventura. O voo de ida e volta sairá por 50 milhões de dólares por passageiro. A diária chegará a 35 000 dólares — e como cada visita prevê no mínimo trinta dias de estada, somando-se adaptação e permanência, acrescente-se aí pouco mais de 1 milhão de dólares. Estão incluídas amenidades como oxigênio, água e pensão completa. Haverá internet disponível, mas cada gigabyte enviado e recebido custará 50 dólares. O preço exorbitante da empreitada evidencia não se tratar de um destino meramente turístico, embora a Nasa deixe aberta essa possibilidade. O anúncio envolve outro grande passo para a humanidade (ou melhor, para os Estados Unidos): a ideia central é acelerar a transição da exploração espacial dos cofres públicos para a iniciativa privada.

    Desde a aposentadoria do programa de ônibus espaciais, em 2011, o governo americano não tem meios próprios para mandar novos astronautas à ISS. Há contratos assinados com dois fornecedores privados para enviar carga e tripulantes ao espaço, ao custo estimado de 7 bilhões de dólares. Um deles é a divisão espacial da Boeing, a fabricante de jatos comerciais, em parceria com a Lockheed Martin, gigante do setor de defesa. O outro é a SpaceX, companhia criada pelo empresário sul-­africano Elon Musk, que fundou o PayPal e hoje comanda a montadora de carros elétricos Tesla. O britânico Richard Branson, dono do conglomerado Virgin, é outro magnata que investe no setor. Sua intenção é promover voos na fronteira da Terra para os interessados em desembolsar cerca de 250 000 dólares pelo passeio. Não bastasse a vista espetacular a 100 quilômetros de altitude, haverá a experiência de alguns minutos em gravidade zero, quando as pessoas poderão flutuar livremente pela aeronave.

    O incentivo ao dinheiro das empresas, para além de evitar rombos suplementares ao contribuinte em troca de promessas futuras, pouco palpáveis, encaixa-se perfeitamente na nova estratégia da Nasa. Ao dividir os custos operacionais da ISS (4 bilhões de dólares anuais) com marcas comerciais, a agência espacial pretende destinar seus recursos a voos mais longos, num aceno à conquista de cinquenta anos atrás. No ano passado, Donald Trump anunciou uma nova missão tripulada à Lua até o ano 2028 — prazo encurtado pelo vice-presidente Mike Pence para 2024. Em seu estilo, misturando alhos e bugalhos, um tanto no mundo da Lua, quase incompreensível, Trump tuitou no dia seguinte ao do anúncio do turismo espacial na ISS: “Eles (a Nasa) deveriam estar focados em coisas muito maiores, incluindo Marte (de que a Lua faz parte), defesa e ciência!”. Lua, parte de Marte? Críticas a uma iniciativa que vai poupar recursos públicos e concentrá-los no real objetivo? Só no peculiar universo de Donald Trump.

    Publicado em VEJA de 19 de junho de 2019, edição nº 2639

    Continua após a publicidade
    carta
    Continua após a publicidade
    Envie sua mensagem para a seção de cartas de VEJA
    Qual a sua opinião sobre o tema desta reportagem? Se deseja ter seu comentário publicado na edição semanal de VEJA, escreva para veja@abril.com.br
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

    a partir de 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.