“O Facebook poderia ser mais ético”, diz fundador do Wikipedia
Jimmy Wales faz críticas às fórmulas de rentabilidade de algumas das grandes empresas de tecnologia
Fundador da Wikipedia, Jimmy Wales faz severas observações às fórmulas de rentabilidade de algumas das grandes empresas de tecnologia, como Google, Facebook e Twitter. Em entrevista a VEJA, ele critica o fato de magnatas da internet lavarem as mãos quanto ao papel das redes na sociedade.
Qual a responsabilidade das redes pelo conteúdo que divulgam? Primeiramente, não queremos um mundo em que os terraplanistas não tenham permissão de divulgar seus vídeos. Isso poria a internet livre em risco. Mas, se o modelo de negócios se baseia em convencer as pessoas de forma torpe, isso é péssimo para a rede. Mark Zuckerberg, do Facebook, tem mais controle sobre sua empresa do que qualquer outro CEO de grandes sites e não se move.
Qual a culpa de Zuckerberg? É a escolha que ele fez. O Facebook deveria ser mais ético. Zuckerberg poderia aceitar que sua empresa perdesse receita nos próximos cinco anos para que isso acontecesse. Entendo a decisão de um executivo que não quer perder o emprego, mas Mark poderia remodelar o Facebook, porque é dele. É uma questão moral.
A internet deu voz a pessoas que disseminam informações falsas. Como corrigir isso? Todos temos um tio maluco que faz comentários preconceituosos no Natal. E a internet não está cumprindo o papel de ensinar essas pessoas, como quando o YouTube, por exemplo, promove teorias da conspiração porque isso rende cliques. Acho que podemos pensar e fazer melhor as plataformas. Para corrigir isso, precisamos dar às pessoas o poder de comunidade.
Como avaliou a recente decisão do Twitter de vetar propaganda política? Foi acertada. Já o Facebook se negou a fazer o mesmo. Deveria reconhecer o problema.
A publicidade deveria ser combatida? Esse modelo não se traduz em qualidade. Embora não haja conteúdo grátis, imagine se houvesse, na página da Tesla na Wikipedia, um anúncio dela. Perderíamos credibilidade.
Publicado em VEJA de 4 de março de 2020, edição nº 2676