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Parceria de Nasa e SpaceX obtém sucesso em primeiro lançamento tripulado

Depois da missão ser adiada na última quarta-feira, a nave Crew Dragon partiu de solo americano levando em segurança dois astronautas rumo a ISS

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 Maio 2020, 17h44 - Publicado em 30 Maio 2020, 16h24

A histórica união da Nasa com a SpaceX, do bilionário sul-africano Elon Musk, também fundador da Tesla, de carros elétricos, obteve exito em colocar no espaço a primeira missão tripulada partindo de solo dos Estados Unidos em nove anos, com dois astronautas da Nasa, neste sábado 30.

A contagem regressiva foi finaliza exatamente às 17h22 (de Brasília), e do Centro Espacial Kennedy, na Flórida, especificamente da plataforma 39-A, a mesma da qual partiu a primeira viagem até a Lua, os motores do gigantesco foguete Falcon 9, queimando milhares de litros de hidrogênio líquido, ergueram as 1 420 toneladas da nave, iniciando um novíssimo capítulo na história da exploração do cosmo.

Com dois astronautas abordo, os veteranos Robert Behnken, de 49 anos, e Douglas Hurley, de 53, que já foram ao espaço duas vezes em ônibus espaciais e que estão entre os membros mais experientes da equipe de astronautas da Nasa, o voo tem como destino final a Estação Espacial Internacional (ISS), em um trajeto que levará cerca de 19 horas. Não se trata de uma novidade na rota dos foguetes que levam humanos ao cosmos, mas foi o primeiro lançamento da agência espacial americana que seguiu o cronograma em meio de uma crise sanitária.

SpaceX NASA Astronautas
Douglas Hurley (à esq.) e Robert Behnken, os protagonistas desse voo espacial histórico (John Raoux/AP/VEJA)

A espaçonave que transportou os astronautas é uma evolução do modelo Dragon, concebida para transportar cargas até a órbita. Trata-se da Crew Dragon, projetada para levar até sete pessoas, mas que em futuras viagens a Nasa pretende levar até quatro astronautas e ocupar o restante do espaço com suprimentos. Ela é equipada com propulsores que permitem diferentes manobras e foi acoplada à estação espacial de forma automatizada. Diferentemente de outras aeronaves desenvolvidas para humanos, essa cabine tripulada terá controles em tela sensível ao toque em vez de botões físicos. No entanto, todas as funções do veículo podem ser operadas manualmente de forma analógica, um recurso que foi pensado para o caso de alguma falha ocorrer.

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Há de se destacar o pioneirismo da SpaceX que, ao longo de 10 anos, consolidou a tecnologia de reciclagem de foguetes, permitido rentabilidade financeira para a empresa que passou a ter um calendário constantes de lançamentos de cargas ao espaço. Nos lançamentos espaciais tradicionais, boa parte do material utilizado é descartada. Já nos foguetes de Musk os propulsores são reaproveitáveis — vão ao espaço e retornam, pousando em menos de dez minutos, e podem ser usados outra vez, em uma nova missão.

Ainda que outras empresas corram no páreo da era de exploração privada do espaço, em um mercado que, se hoje já vale em torno de 400 bilhões de dólares, até 2030 deve alcançar algo como 805 bilhões, a pole position, usando o termo das corridas de carros, foi garantido pela SpaceX com folga. Leve-se conta que a Boing, fabricante de aviões, também tentou levar o contrato com a Nasa, e a Blue Origins, do magnata dono da Amazon Jef Bezos, ainda recorre na Justiça por considerar que sua empresa foi preterida dos editais governamentais. Ainda assim, até mesmo o retorno à Lua já foi garantido em outra parceria com a SpaceX.

Para a Nasa, ainda que tenha tido rusgas com Musk sobre a condução das missão realizada no dia de hoje, não há duvidas que a empresa do bilionário sul-africano tem a tecnologia, digamos assim, mais confiável entre as demais. Em dezembro do ano passado ocorreu a primeira viagem da cápsula espacial Starline, fabricada pela Boeing, concorrente da SpaceX de Elon Musk. A missão foi considerada um fracasso devido à antecipação do retorno da nave, que ficou em órbita apenas em três dos sete dias planejados.

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Em retrospectiva, reitera-se que a jornada das privadas no espaço consolidou-se em 21 de julho de 2011, com a derradeira missão dos ônibus espaciais da Nasa. A partir dali, o governo americano assumiu o discurso de que confiaria a particulares a tarefa de enviar astronautas e cargas para fora do planeta, incluindo o povoamento e o abastecimento da Estação Espacial Internacional, como ocorreu neste sábado. “Ao comprarmos os serviços de transporte espacial, aceleraremos o ritmo das inovações à medida que startups de jovens líderes se estabeleçam para competir e projetar novos meios de transportar pessoas e materiais para fora da atmosfera”, disse Barack Obama, em seu último mandato.

A associação entre a agência espacial americana e o setor privado, que põe fim ao monopólio governamental da conquista do universo, configura-se como um desfecho incontornável do avanço das tecnologias aeroespaciais alcançado por companhias do mercado. A competição entre a SpaceX e a Blue Origin — de Jeff Bezos, dono da Amazon, o homem mais rico do mundo — fez cair em algo acima de 30% o custo de decolagens somente em razão da criação de um método para lançar foguetes e depois pousá-los de volta. Motores mais potentes desbancaram tudo o que foi criado nas décadas de 60 e 70, período em que o orçamento para as missões espaciais nos EUA superava 600 bilhões de dólares (hoje, não chega a 30 bilhões de dólares). Com o sucesso de hoje, um novo mercado se abre e lança a SpaceX na liderança da nova era da exploração espacial. 

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