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Pedófilos utilizam YouTube para trocar pornografia infantil

Em vídeos de crianças, área para comentários vira ponto de encontro de criminosos que organizam formas de compartilhar conteúdos explícitos

Por André Lopes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 fev 2019, 18h49 - Publicado em 20 fev 2019, 20h39

O que pode ser uma rede de pedofilia dentro de uma das redes sociais mais populares do mundo, o YouTube, foi denunciada no dia 17 de fevereiro, em um vídeo onde são apresentadas evidências de que a plataforma estaria sendo usada para facilitar a troca de pornografia infantil.

O youtuber americano Matt Watson descobriu que ao buscar na plataforma por termos como “girls bikini” (meninas de biquíni, em tradução livre) que resulta em vídeos onde mulheres mostram diversos maiôs e biquínis, também retornava vídeos de crianças de biquíni brincando na praia ou praticando esportes. E que, ainda que não tenham conotação sexual, são acessados por adultos que sexualizam o conteúdo e utilizam o espaço de comentários para instruir as crianças em práticas sexuais, pedir vídeos de nudez, marcar frames onde aparecem nádegas expostas, roupas íntimas ou qualquer outra cena que julguem digna de excitação.

Algumas das crianças, a maioria das quais são meninas, não parecem ter mais que dez anos. Muitos dos vídeos têm centenas de milhares, por vezes milhões, de visualizações, com centenas de comentários.

E, por conta dos algoritmos do YouTube, ao acessar um desses vídeos a plataforma automaticamente sugere outros de mesma temática, criando assim um fio condutor para usuários que se atraem sexualmente por crianças. Em alguns dos casos, além de descreverem suas preferências, a seção de comentários era utilizada para formar grupos de WhatsApp com a intenção de compartilharem links de conteúdos com pornografia infantil.

Outra tática denunciada é a criação de canais que fazem uma curadoria de trechos de vídeos questionáveis. Exemplo: o canal Girls Couture Club, em operação desde 2013 e que hoje possui cerca de 80.000 inscritos, reúne dezenas de vídeos com trechos de desfiles de moda ou peças publicitárias de crianças vestindo roupas de banho. 

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Contudo, destaca-se que situações que insinuam, instigam ou levam a crimes não são novidade no site. Vídeos de decapitações realizada por membros do ISIS, discurso de ódio feito por grupos de extrema direita, transmissões ao vivo de suicídios e até mesmo desenho infantis piratas com cenas, por vezes, violentas e perturbadoras já foram flagradas na plataforma nos anos anteriores. Ao ponto de que o Youtube desenvolveu uma inteligência artificial dedicada a vasculhar e excluir tudo que fosse considerado inapropriado.

Em 2017, nos primeiros três primeiros meses de atuação do robô, foram 5 milhões de exclusões por violações da política de conteúdo, sem contar o que é avaliado pelos funcionários da empresa. Mesmo assim, ao que tudo indica, não foi o suficiente para livrar a plataforma de ser explorada para promover práticas criminosas, como da atuação de pedófilos.

Para o YouTube a preocupação é muito mais do que ética, pois é também financeira. Uma vez que, no passado, anúncios de marcas grandes como Mondelez (Cadbury, Nabisco, Lacta), Mars (M&M’s, Pedigree, Snickers, Whiskas), Diageo (Smirnoff, Johnny Walker), BT, HP, Deutsche Bank, entre outras, foram veiculadas em conteúdos impróprios. Algumas delas removeram a totalidade de seus anúncios do YouTube e só retornaram após a moderação mitigadora da empresa. Outras, como Mars, a Diageo, a HP, a Mondelez e o Deutsche Bank não voltaram.

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Agora, no caso dos vídeos comentados por grupos de pedófilos, entre as empresas que tiveram suas marcas associadas às publicações denunciados estão Nestlé, McDonald’s, Disney, Epic Games, AT&T e a própria Google. Em apuração de VEJA também foram vistos anúncios da LATAM e da Uber. Até o momento, tão-somente a Epic Games anunciou que encerrou com todo tipo de publicidade que a empresa fazia do jogo Fortnite na plataforma.

É importante ressaltar que os vídeos que fazem parte desse “circuito de pedofilia” não possuem conteúdo explícito. Assim, não é como se o YouTube estivesse propositalmente vinculando a publicidade neles. Muitos dos vídeos possuem comentários em português e espanhol, por isso desconfia-se que o algoritmo tenha dificuldade em banir esses usuários, uma vez que a inteligência artificial tem um banco de dados mais aprimorado apenas na língua inglesa.

Com a palavra o YouTube

Em comunicado o YouTube no Brasil afirmou que nas últimas 48h um total de 400 contas foram deletadas, milhares de vídeos removidos da plataforma e dezenas de milhões de comentários foram deletados. “Fechamos os canais e reportamos todos esses comentários e material para as autoridades competentes nos Estados Unidos para que possam conduzir investigações nesse sentido. Temos um trabalho muito próximo das autoridades quando se trata desse assunto”, disse um porta-voz a VEJA.

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