Robótica: da sala de aula para a indústria
De olho no ritmo acelerado da automação industrial, SESI investe em método educacional que serve de base para futuros profissionais
A automatização industrial tem ido muito além do chão de fábrica. Na medicina, por exemplo, foram realizadas cerca de 800 cirurgias robotizadas de 2012 até setembro de 2018 no Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). E não para por aí: até novembro, robôs começarão a circular pelos corredores do hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR). Eles são do projeto Pharmy, inédito no país, criado pela startup Lince IT. E vão automatizar a distribuição de medicamentos da farmácia hospitalar para os postos de enfermagem a fim de evitar extravios, atrasos na entrega e a perda de tempo com o preenchimento de protocolos. Com visão computacional para evitar obstáculos, serão capazes de reconhecer e cumprimentar as pessoas.
Rompendo as fronteiras industriais e médicas, a robótica também ajuda na educação. Desde 2016, o Serviço Social da Indústria (SESI) investe no uso de robôs em salas de aula. “O aprendizado fica mais divertido porque é na prática que o estudante constrói seu conhecimento e se interessa mais pelo tema. Isso desenvolve a criatividade e o raciocínio lógico”, afirma Douglas Macharet, doutor em ciência da computação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Atualmente, todas as 459 escolas do SESI que atuam com ensino fundamental e ensino médio oferecem aulas de robótica educacional. São quase 190 000 alunos que se beneficiam da prática pedagógica, que estimula o interesse por ciências, química, física, matemática e engenharias. Veja o caso de Lucas Remoaldo Trambaiolli, hoje doutor em neurociência. “Todo aprendizado de lógica, programação e estruturação de códigos que uso hoje são aprendizados da época da robótica”, diz.
Ele participou do torneio SESI de Robótica First Lego League, que reúne anualmente milhares de estudantes de 9 a 16 anos, de escolas públicas e particulares. A cada temporada, temas atuais são colocados como desafios para as equipes. Agora, em 2018, o desafio Into Orbit (Em Órbita) incentiva a busca por soluções inovadoras para viagens e a vida no espaço. “Foi no torneio que comecei a pensar na tecnologia para resolver os problemas das pessoas”, afirma Trambaiolli.
Na opinião do diretor de operações do SESI, Paulo Mól, a robótica na escola é importante porque estimula os estudantes a pensar em soluções para diversos problemas do dia a dia. “O torneio é ainda melhor porque, além de aplicar os conhecimentos adquiridos em sala de aula, tem a lógica de trabalho em grupo para o desenvolvimento de projetos e produtos”, afirma.
Para quem deseja usar o conhecimento em robótica para investir em profissões do futuro, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) também adaptou cursos técnicos de automação industrial e mecatrônica para formar alunos aptos a ocupar como o de robotista, capaz de programar robôs industriais. A profissão ainda não é regulamentada no Brasil, mas permite rápida ascensão, em especial nos setores automotivo e alimentício, que demandam profissionais familiarizados com ferramentas de automação.
Na SPI, empresa de produção de software e sistemas de automação, em São Caetano do Sul (SP), foi preciso improvisar por falta de profissionais qualificados. “Treinamos pessoas mais cruas na própria fábrica. Há oportunidades de emprego, mas tem de ter qualificação. E entre os profissionais de software, mecânica e elétrica, o robotista tende a ser o mais bem remunerado”, diz Felipe Madeira, diretor regional da SPI.
Vitória brasileira nos EUA
Em 2018, o SESI tornou-se referência internacional no ensino da robótica ao conquistar o primeiro lugar no principal torneio mundial, o World Festival. Considerada a “Copa do Mundo” da robótica, a competição reuniu 108 equipes de 60 países, como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Arábia Saudita, Argentina, dentre outros. A disputa aconteceu na cidade de Houston, nos Estados Unidos.
O primeiro lugar foi conquistado por estudantes da equipe Red Rabbit, do SESI de Americana (SP). A conquista em Houston reforça uma trajetória de bom desempenho do Brasil. Desde 2013, as equipes brasileiras sempre voltam premiadas dos torneios internacionais, seja entre os primeiros lugares ou recebendo prêmios em programação, design do robô, inovação e projeto de pesquisa. No ano passado, por exemplo, o país esteve no pódio em todas as disputas.