Startups brasileiras de impacto social são impulsionadas pelo Facebook
No segundo ano da iniciativa, empresas focadas em soluções para o meio urbano e para melhorar a vida de pessoas recebem aceleração
Pelo segundo ano consecutivo, o Facebook, em parceria com a organização Artemisia, está realizando um programa de aceleração de startups brasileiras focadas em produtos de impacto na sociedade. O projeto se dá na Estação Hack, centro de inovação da companhia de Mark Zuckerberg em São Paulo, e envolve dez startups, todas focadas em ações com repercussões sociais que foquem em pessoas ou no ambiente urbano. As inscrições para a próxima turma de startups já estão abertas e terminam no próximo dia 3 de junho.
De acordo com Eduardo Lopes, gerente de políticas públicas do Facebook e porta-voz da Estação Hack, o objetivo do Facebook é incentivar negócios que, no mercado, poderiam ser esnobados por demorarem para trazer algum tipo de retorno financeiro. Como, segundo ele, empresas de cunho social tendem a levar mais tempo do que a média para começar a lucrar, não é raro que elas sejam vistas feito segunda opção quando se trata de investimentos.
Já o foco na vida nas cidades vem do fato de que o processo de urbanização está crescendo em grande parte do mundo, inclusive no Brasil. “As cidades grandes ainda recebem gente, mas as pequenas e médias estão aumentando de modo acelerado”, comentou Lopes. “As soluções em que pensarmos têm que ter o público urbano como alvo.”
O dia a dia das startups selecionadas pelo Facebook é intenso. O programa dura seis meses. Durante as primeiras três semanas, os participantes recebem um diagnóstico de seus erros e acertos, com base na informação fornecida durante o processo seletivo. É aí então que as metas para os próximos meses são estabelecidas.
Em seguida, cada empresa recebe um consultor da Artemisia e um mentor do Facebook, encarregados de ajudar especificamente esse grupo com suas metas e projetos. Além disso, os membros também podem consultar especialistas do mercado — nas últimas edições, executivos de negócios, como representantes da iFood e da Gympass, serviram de apoio aos empreendedores. Enquanto essa parte específica se desenvolve, todos os fundadores das startups comparecem a workshops e palestras sobre temas mais genéricos, a exemplo de media training, vendas, impacto social, dentre outros.
Uma das startups selecionadas para a terceira edição do projeto é a Livre, fundada em 2014. Com a intenção de fornecer equipamentos que ampliam a mobilidade a indivíduos portadores de deficiência, a empresa busca resgatar, como diz, a “liberdade perdida dessas pessoas”. O Kit Livre é um mecanismo que suporta qualquer peso e, ao ser agregado à cadeira de rodas, a torna um triciclo elétrico motorizado que permite uma autonomia de cerca de 25 quilômetros de deslocamento. O equipamento também é adequado para andar sobre calçadas irregulares, locomover-se sobre guias, grama e terrenos arenosos.
“Nosso objetivo na Estação Hack é mudar o nosso modelo de negócios”, afirmou Júlio Oliveto, engenheiro mecatrônico e fundador da Livre. “Queremos transformar o nosso foco atual, que é a venda direto para o consumidor, em uma distribuição para instituições e parceiros comerciais que possam facilitar o acesso do usuário ao kit.” A esperança, disse ele, é diminuir a dificuldade que o grupo tem de atingir seu público-alvo.
Outra empresa escolhida foi a Pulsares, fundada em Santa Catarina e que tem como objetivo atuar na área da saúde no país. A startup transforma as receitas médicas escritas à mão em versões digitalizadas, com letras de fácil entendimento, e adiciona ilustrações às instruções de uso de medicamentos, visando uma compreensão mais fácil do que está sendo pedido.
Por exemplo, essa nova versão digital da receita vem com desenhos de um copo de água e de pílulas (dependendo de quantas o médico receitou), indicando como o remédio deve ser usado e em qual dose. Além disso, há imagens de relógios marcando as horas indicadas para o consumo do medicamento, com o fim de descomplicar a leitura do horário.
O investimento em startups não é exclusivo do Facebook. Muitas empresas, a exemplo da Samsung, do Google e das brasileiras Movile e Itaú, têm aderido à tendência. O motivo é simples: bancar esse tipo de empreendimento resulta em uma evolução da área em que a própria empresa atua, o que pode significar mais espaço ou mais mecanismos para que ela se desenvolva. Ou seja, investir em uma startup pode ter como resultado incrementar o ecossistema em que seus financiadores atuam, proporcionando o crescimento conjunto.
Além disso, abrigar esse tipo de projeto pode fazer com que os investidores acabem encontrando ideias e produtos realmente inovadores. Caso apliquem seu dinheiro em uma companhia e ela se torne muito bem-sucedida, os financiadores multiplicarão o investimento.