‘Poderia Me Perdoar?’ e a tragédia cômica de Melissa McCarthy
Acompanhe o 'Em Cartaz' desta semana com a colunista de VEJA Isabela Boscov
No ‘Em Cartaz’ dessa semana, a colunista de VEJA Isabela Boscov comenta a estreia da semana: ‘Poderia Me Perdoar?‘. Foi por acaso – e por raiva, e por frustração – que, em 1991, a escritora Lee Israel descobriu que tinha um talento infalível para imitar o estilo particular de autores bem mais famosos que ela, como a americana Dorothy Parker e o inglês Noël Coward. A descoberta veio a calhar: Lee estava completamente quebrada, sem um tostão para pagar o aluguel ou o tratamento do gato doente, e as cartas que ela forjava e assinava como essas celebridades rendiam quantias modestas mas benvidas no comércio caseiro de memorabilia dos sebos de Nova York. No começo, Lee falsificava uma ou outra carta ou bilhete; depois, ajudada pelo amigo Jack Hock (Richard E. Grant), que, como ela, caíra pelas frestas da vida, falsificou-as às centenas – e é claro que isso não poderia acabar bem. Ou poderia?
Melissa McCarthy, de ‘Mike & Molly’, ‘Missão Madrinha de Casamento’ e ‘A Espiã que Sabia de Menos’, é uma grande atriz dramática disfarçada de comediante, e aqui encontra o material certo para explorar esse talento. A história é real e se baseia na autobiografia de Lee Israel, mas é o destemor de Melissa – além de sua química maravilhosa com Grant – que torna tão engraçado, e tão trágico, o dilema de uma pessoa que faz o que é errado sem conseguir evitar o orgulho por fazê-lo tão bem, e que anseia por alguma conexão mas destrói compulsivamente todas as suas ligações pessoais. O roteiro é uma beleza também, e a direção de Marielle Heller, simples mas muito eficaz e afetuosa.