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‘Defensivo agrícola é remédio’, diz o ex-ministro Roberto Rodrigues

Especialista em agro celebra a volta do país no comércio mundial com o acordo entre Mercosul e UE e fala que desmatamento e queimada são casos de polícia

Oferecimento de Atualizado em 29 out 2019, 13h37 - Publicado em 29 out 2019, 12h52

O Brasil é apontado como um dos países que mais utilizam defensivos agrícolas em suas lavouras. Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura durante o primeiro mandato do governo Lula e atual Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, afirmou que isso acontece porque o Brasil é o único país do mundo que faz duas safras agrícolas por ano e é de clima tropical, com muito mais pragas e doenças que uma nação de clima temperado. “Defensivo agrícola é um remédio. A questão é usar o remédio certo, na dose certa, para a doença certa e na planta certa. Infelizmente, muitos aplicavam errado, porque não tinham os defensivos certos para determinada doença”, disse Rodrigues, em entrevista a Alessandra Kianek, editora de VEJA, no programa Páginas Amarelas.

Engenheiro agrônomo e professor, Rodrigues explica que, até quatro anos atrás, registrar uma nova molécula no país levava, em média, oito anos e meio, enquanto nos países desenvolvidos são cerca de dois anos. “O governo Temer e o de agora desburocratizaram o processo. As moléculas novas são mais sustentáveis que as antigas, menos agressivas ao ambiente e ao ser humano. Portanto, é importante liberar novas substâncias. Se usarmos o cálculo de utilização por quilo de defensivos por hectare plantado, o Brasil está em 6º lugar no ranking, atrás de Alemanha, Japão e outros.” 

Rodrigues defendeu o acordo fechado em junho pelo Mercosul e a União Europeia. “Ele coloca o Brasil de novo no tabuleiro global de comércio. Hoje, estamos fora disso, ficamos décadas sem fazer acordos. (…) A briga comercial entre os Estados Unidos e a China está produzindo um neoprotecionismo agrícola. E isso vai quebrar as pernas dos países emergentes, como nós. O acordo nos abre oportunidades e acaba mitigando esse risco do neoprotecionismo, que vinha crescendo”, afirmou.

O professor da FGV critica o desmatamento ilegal e as queimadas propositais. “É caso de polícia. (O governo) tem de punir exemplarmente quem desmatar ilegalmente e quem puser fogo irregularmente. É um tema que tem de ser resolvido pela polícia. É papel do governo evitar, tanto o federal como o estadual e o municipal. E o setor privado tem de ajudar.” Rodrigues afirma que os agricultores brasileiros condenam o desmatamento ilegal. “Quem faz desmatamento? É o madeireiro. É o garimpeiro. É o invasor de terra. Não é o produtor rural.”

Para o engenheiro agrônomo, é perfeitamente possível compatibilizar a produção agrícola com a sustentabilidade com um único caminho: tecnologia adequada. Ele alerta, porém, que a atual explosão tecnológica pode excluir o pequeno produtor. “Os grandes têm equipes técnicas que conseguem receber as informações e aplicar os produtos, aumentando a produtividade e reduzindo os custos. Já o pequeno não consegue aprender tudo. Para reverter essa situação, as cooperativas brasileiras precisam se ocupar da difusão de tecnologia e da conectividade, reduzindo o custo para todos, pequenos, médios e grandes produtores.”

Citado no relatório da CPI do BNDES, que acusa ex-ministros de governos petistas por omissão na liberação de empréstimos para operações internacionais de empreiteiras brasileiras, Rodrigues afirma que não teve nenhuma ligação com o caso. “Eu saí do governo em junho de 2006. Em 2007, o presidente baixou um decreto que mudava as regras da Camex (Câmara de Comércio Exterior) – cujo papel é definir dumping, tarifas, cotas de exportação e da qual eu era membro – , permitindo financiamento para as grandes companhias, como JBS, Odebrecht etc. Eu já tinha ido embora do governo quando isso aconteceu. A comissão reparou a injustiça, e o relatório final foi aprovado sem o meu nome.”

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