São Paulo ganha mural gigante que pede um basta à destruição da Amazônia
Grafiteiro Mundano inaugura obra próximo à Avenida Paulista, em São Paulo, para cobrar sustentabilidade das empresas do agronegócio
Apesar do reconhecimento internacional do artista, as obras do grafiteiro Mundano chegam a ser mais famosas do que o próprio autor. Primeiro por causa do tamanho. Com proporções gigantescas, normalmente surgem sobre empenas cegas de prédios localizados no centro de metrópoles como São Paulo. As pinturas chamam a atenção, provocam impacto, até para o mais desligado dos passantes, que pode não conhecer o autor, mas não esquecerá do grafite. Segundo ponto, porque tratam de temas sociais importantes, como preservação ambiental e direitos humanos, que estabelecem afinidade rapidamente com o público. Há quatro anos, por exemplo, a tragédia do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, foi tema de um grafite assinado pelo autor. Mundano pintou 22 rostos de brasileiros, com a lama dos rios contaminados pelo despejo de minério, em homenagem aos mortos e as pessoas que perderam, em um só dia, tudo que construíram na vida. Agora chegou a vez da Amazônia dominar parte do cenário da maior metrópole do país.
O tema não poderia ser mais atual e de urgência. Em uma empena cega de mais de 1500 metros quadrados de área, a líder indigenista Alessandra Munduruku praticamente brota do chão rachado, pela seca e pelas queimadas. Nas mãos, segura um cartaz com a mensagem: “Stop the destruction #keep your promise” (Pare a destruição #mantenha sua promessa). A imagem foi pintada com cinzas da Floresta Amazônica, do Cerrado, do Pantanal e da Mata Atlântica, biomas que foram devastados com os incêndios, na maioria criminosos, durante este ano.
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Inaugurada nesta quarta-feira, 23, a duas quadras da Avenida Paulista, o grafite é um protesto à destruição promovida por grandes empresas do agronegócio internacional, mais especificamente, segundo o autor, contra a Cargill Inc. Em 2023, a empresa prometeu eliminar todos os produtos oriundos de desmatamento da cadeia produtiva até 2025. Além de não ter cumprido a promessa até agora, a empresa apoia o mega-projeto da Ferrogrão, ferrovia de quase 1.000 km de extensão no meio da Amazônia, que pretende ampliar a produção e exportação da soja pelo rio Tapajós. A obra vai atingir unidades de conservação, terras indígenas e comunidades locais, que não foram consultadas. Na região onde a construção está prevista, a Cargill já possui um terminal para os grãos, construído sobre um cemitério indígena em Santarém, no Pará. “Meu país foi engolido pela fumaça da ganância”, diz Mundano. Mas ainda tem saída, desde que o desrespeito às leis ambientais passe a ser duramente punido.