Durante a década de 1960, voos nos polos da Terra detectaram um fluxo de partículas atmosféricas escapando em velocidade supersônica para o espaço, que ficaram conhecidos como ventos polares. Cientistas hipotetizaram que eles seriam causados por um campo elétrico em torno da Terra, mas só agora, seis décadas depois, conseguiram provar a sua existência.
Chamado de campo ambipolar, ele foi descrito em um artigo na Nature, nesta quarta-feira, 28. De acordo com os pesquisadores, é responsável pelo tal vento, mas também tem um papel na manutenção da ionosfera, uma das camadas mais externas da atmosfera. “Qualquer planeta com uma atmosfera deve ter um campo ambipolar”, disse Glyn Collinson, pesquisador da Nasa e coautor do artigo, em comunicado. “Agora que finalmente o medimos, podemos começar a aprender como ele moldou nosso planeta, assim como outros, ao longo do tempo.”
Como os pesquisadores descobriram o campo elétrico?
Devido a característica do campo magnético, era esperado que houvesse algum “vazamento atmosférico” nos polos, mas ele deveria ser lento e causado pelo aquecimento das partículas. Contudo, o que foi detectado na década de 1960 foi um vazamento de partículas frias e muito mais rápidas do que o previsto.
A hipótese do campo elétrico foi rapidamente aceito, mas por ser fraco, com a voltagem semelhante à de uma bateria de relógio, não podia ser detectado com as tecnologias disponíveis. Em 2018, Collinson e seu grupo de pesquisa finalmente desenvolveu uma ferramenta sensível o suficiente para detectá-lo, por meio de um foguete suborbital.
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O voo partiu do arquipélago de Svalbard, na Noruega, ponto mais extremo de onde um foguete pode ser lançado. Ele durou cerca de 20 minutos antes de mergulhar no mar da Groenlândia. O experimento teve sucesso em detectar o campo elétrico.
Qual a importância do campo elétrico?
Quando hipotetizado, cientistas imaginavam que o campo elétrico poderia ser tão importante para a Terra quanto o gravitacional ou o magnético. De fato, isso se provou real. Mesmo com uma potência baixa, ele é mais de 10 vezes mais forte que a gravidade para acelerar os íons de hidrogênio. Isso é suficiente para expandir a ionosfera, o que pode ter sido importante para modelar a evolução do planeta e, consequentemente, a maneira como a vida progrediu.