Seis mil anos de cocô de pinguim revelam história da Antártica
Pesquisa com DNA preservado no gelo mostra como animais se adaptaram às mudanças climáticas ao longo de milênios

A análise de material genético preservado em fezes de pinguins ao longo de 6.000 anos está ajudando cientistas a reconstruir a história ecológica da Antártica. Um novo estudo publicado na revista Nature Communications sequenciou 94 bilhões de fragmentos de DNA de sedimentos coletados na costa do mar de Ross, revelando como espécies como os pinguins-de-adélia e os elefantes-marinhos do sul responderam às mudanças ambientais ao longo dos séculos.
Os pesquisadores visitaram dez colônias de pinguins, ativas e abandonadas, espalhadas por 700 quilômetros de costa. Ao escavar camadas de solo de até 75 centímetros de profundidade, encontraram um verdadeiro arquivo natural, contendo penas, ovos e excrementos fossilizados. A análise revelou que os elefantes-marinhos do sul já ocuparam a região para reprodução, mas desapareceram há cerca de 1.000 anos, provavelmente devido ao resfriamento global e à expansão do gelo marinho. Com isso, os pinguins-de-adélia passaram a dominar a área.
Mudanças na alimentação dos pinguins
Outro achado interessante foi a transformação nos hábitos alimentares dos pinguins-de-adélia. Há cerca de 4.000 anos, os indivíduos da espécie se alimentavam majoritariamente de bald notothen, um peixe que hoje não é mais parte significativa de sua dieta. Atualmente, os pinguins consomem peixe-prata-antártico, uma espécie abundante nas águas do mar de Ross.
A mudança na alimentação sugere que os pinguins se adaptaram às condições do ambiente conforme as camadas de gelo marinho se expandiram ou retraíram ao longo dos milênios. A descoberta reforça a ideia de que a ecologia da Antártica é altamente dinâmica e responde diretamente às variações climáticas.
Como a pesquisa pode ajudar no futuro?
Os cientistas também observaram que algumas colônias da espécie cresceram nas últimas décadas, confirmando estudos anteriores sobre a expansão dos pinguins-de-adélia no leste da Antártica.
Além disso, os sedimentos analisados indicam que a microbiota da Antártica preserva DNA antigo com extrema eficiência, sugerindo que materiais ainda mais antigos — potencialmente com 1 milhão de anos — podem estar enterrados no continente congelado.
Os pesquisadores destacam que entender como esses animais responderam às mudanças climáticas do passado pode ajudar a prever os efeitos do aquecimento global no futuro. O estudo também pode contribuir para a formulação de estratégias de conservação, garantindo a proteção dessas espécies diante das transformações ambientais que o planeta enfrenta.