Às vésperas de embarcar para Modena, na Itália, no início de novembro, Alex Atala ainda não sabia o que iria cozinhar para um grupo de cinco casais que participariam de uma experiência única. O programa reúne o chef brasileiro mais criativo das últimas quase quatro décadas ao italiano que comanda o restaurante mais famoso de seu país: a Osteria Francescana, de Massimo Bottura, dotada de três estrelas Michelin.
Mas isso não era um problema. “Somos freestyle, de uma geração que ousou usar tênis, não fazer a barba e ter tatuagem. Já cozinhamos juntos muitas vezes e acreditamos na cozinha regional e de autor”, afirma Atala. Os participantes foram convidados para se hospedar na Casa Maria Luigia, residência que abriga a coleção de obras de arte de Bottura, carros vintage, motos, vinis e, claro, muita comida italiana.
O roteiro passa pela região da Emilia-Romagna para conhecer a produção do parmigiano reggiano, queijo criado por monges na Idade Média; o famoso presunto de Parma, que vem da perna do porco; e também o cultivo de óleo de oliva e vinagre balsâmico. Todos os ingredientes são DOP (Denominazione di Origine Protetta, certificação que atesta um típico produto italiano, seu nome e origem). Como cereja do bolo (ou da crostata), uma visita à Ferrari, fabricante de cobiçados carros italianos.
A imersão na gastronomia, que é candidata a patrimônio imaterial do mundo, não é a única viagem diferente que Atala comandou neste ano. O chef viajou em agosto para Villa La Angostura, na Patagônia Argentina. Junto com ele, um pequeno grupo ficou hospedado em El Santuario, casa projetada pelo arquiteto Alejandro Bustillo em meio às montanhas, e o ponto alto foi um assado feito à beira do lago, cercado por vinhos argentinos e neve. Tudo no “improviso planejado”.
As viagens e outras atividades exclusivas, como camarotes em shows e festas, fazem parte das vantagens de ser sócio do Resid Club & Hotels, clube privado fundado pelo empresário Paulo Henrique Barbosa com Rafael Caiado, Francisco Costa Neto e Cláudia Ribeiro Bernstein. Uma tendência que vem se consolidando no mercado de luxo — não basta pagar caro, é preciso fazer parte de um grupo. Desembolsando a bagatela de 380 000 reais pelo título (e aumentando), com taxa anual de 15 000, o membro controla as atividades por um aplicativo. Mas, antes de ser aceito, passa por um crivo. “Buscamos diversidade nas escolhas e construir uma comunidade de pessoas que tenham interesses em comum. Nosso luxo é transgressor, mas simples”, diz Barbosa. Ele convidou Atala, também sócio, para ficar à frente da parte gastronômica (que inclui viagens e menus de hotéis de luxo espalhados pelo Brasil, como o Nas Rocas, em Búzios, que está sendo repaginado depois de um período áureo, esquecimento e, a partir de 2025, renascimento).
Depois de 38 anos de carreira, sendo 25 à frente do premiado D.O.M., Atala enxergou na empreitada uma oportunidade para continuar celebrando o Brasil e os ingredientes nacionais, respeitando a comunidade local. Evitando usar a palavra “sustentabilidade”, ele, que é defensor da sobrevivência da Amazônia, diz que é “preciso cuidar de quem recebe a gente também”. Para cada região do país, ele vai criar cardápios específicos. Em Búzios, vai trabalhar com a ressurgência, fenômeno dos oceanos em que as águas frias de profundidade sobem para a superfície do mar, gerando mais nutrientes e excelentes peixes. Fora do país, já estão sendo planejadas mais experiências no Japão e no México, na cidade de Oaxaca, onde Atala quer explorar o que considera ser um grande luxo e de grande valor para o viajante brasileiro: o orgulho de ser latino.
Publicado em VEJA, outubro de 2024, edição VEJA Negócios nº 7