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Crônicas de Peso

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O cirurgião bariátrico e pesquisador na área de obesidade Cid Pitombo reflete, em seus textos, sobre alimentação, movimento, ganho... e perda de peso

A ‘Terceira Guerra Mundial’: o efeito letal de balas e bombas de chocolate

Nos 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, colunista faz comparativo sobre o impacto da propaganda e da comida ultraprocessada na saúde pública

Por Cid Pitombo
Atualizado em 7 Maio 2025, 10h29 - Publicado em 7 Maio 2025, 10h22

Há 80 anos, terminava oficialmente o conflito mais sangrento que o planeta já vivenciou: a Segunda Guerra Mundial. Foi às custas de um ambicioso fanatismo que ganhou corpo na Alemanha e manipulou milhões de pessoas por meio de propagandas muito bem elaboradas que diversos povos sofreram, lutaram e morreram. Passado esse tempo todo, não podemos nos esquecer desse terrível conflito e das lições que ele deixou não apenas no campo bélico e político.

A manipulação da massa há muito é o assunto principal em uma mesa política. Adolf Hitler soube como ninguém aproveitar-se dela e, em consequência disso, milhões de inocentes perderam a vida – inclusive alemães persuadidos de que lutavam por uma boa causa.

A propaganda evoluiu e ainda dissemina, em outros contextos, problemas potencialmente fatais. Eu diria que ela contribui para nos levar a uma espécie de “Terceira Guerra Mundial”, mas esta no campo da saúde. Ela nos coloca diante de inimigos que são doenças pandêmicas: a obesidade e o diabetes.

O poderoso arsenal da indústria que nos põe em risco está presente em qualquer lugar, tem fácil acesso e chega até às crianças: são os alimentos ultraprocessados. 

Em um campo de batalha, a coisa mais importante é a logística, ou seja, a permanente oferta de munição, combustível, insumos médicos, armas e alimentos para milhões de soldados. Estima-se, por exemplo, que, no fim da guerra, só o exército soviético tinha cerca de 11 milhões de soldados para alimentar.

Durantes as guerras, um amplo e necessário mercado de desenvolvimento e venda de alimentos duráveis, com sabores agradáveis e embalagens práticas foi desenvolvido. Como os soldados iriam se alimentar na chuva, lama ou em locais sem acesso a fogão ou geladeira?

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Biscoitos, salsichas, doces, sopas e macarrões instantâneos, chocolates, balas… Tudo fazia parte desse cardápio. O excesso de sal, gordura e aditivos pouco importava para aqueles que não estavam preocupados em consumir uma bala – e sim em levar uma.

Passada a Segunda Guerra, a população mundial precisava se reorganizar, assim como os campos cultiváveis e toda a rede de distribuição de alimentos: rodovias, hidrovias e ferrovias que haviam sido destruídas por toda a Europa, parte da África e Ásia. Diante desse cenário, o consumo do ultraprocessado decolou.

Imaginem a situação do pós-guerra com muitas cidades sem água e luz adequada e milhões com a necessidade diária de se alimentar? Não havia a possibilidade de cozinhar ou conservar os alimentos.

Se isso fazia sentido naquela época, atualmente tem novas implicações. Hoje, na abundância de comida ultraprocessada, milhões estão pagando com sua saúde e sua vida, só que de forma silenciosa. Infarto, derrame, insuficiência renal… Tudo isso devasta diariamente pessoas e famílias pelo mundo.

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Valas frias e escondidas estão sendo cavadas e ninguém quer ser o culpado. Não parece uma guerra? A vida moderna está nos levando a um cotidiano pós-apocalíptico. O micro-ondas é mais utilizado que o fogão, existe mais alimento na dispensa do que na geladeira. Não cozinhamos mais, consumimos o que já está pronto, sem ao menos saber o que contém no produto.

As crianças, em geral longe das batalhas e sem poder de compra, são abastecidas pelos adultos nessa guerra química de doces, biscoitos e comidas instantâneas.

As indústrias aprenderam a utilizar sua máquina de propaganda para ludibriar e envolver a população a consumir alimentos que hoje sabemos serem nocivos. Falta fiscalização, falta conscientização. Sobram bombas (de chocolate) e balas (de menta).

Sabemos que não temos como produzir alimentos orgânicos, frescos e saudáveis para 8 bilhões de pessoas, mas, de alguma forma, temos que saber o que estamos comendo e melhorar esse processo. As formulações de muitos desses alimentos são um mistério até para os pesquisadores, mas é nítido seu efeito devastador no aumento da obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e até alguns tumores.

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O mundo perdeu em cinco anos de Segunda Guerra cerca de 50 milhões de pessoas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Internacional de diabetes (IFD), a obesidade mata anualmente cerca de 5 milhões de indivíduos e o diabetes, 6 milhões.

E o rolo-compressor não para. Novos homens vão parar na frente de batalha, desde a infância. Aliás, nessa “Terceira Guerra”, são os mais novos que caem no conto das propagandas e começam a ser levados ao front.

E hoje eles não possuem aliados o suficiente para se defender, pois cada vez estão mais sozinhos em um mundo virtual muito bem alimentado e processado para induzi-los a levar, ou melhor, comprar balas.

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