Como novo ‘Branca de Neve’ se tornou o filme mais polêmico da Disney
Remake live-action de primeiro longa animado do estúdio se tornou foco de escândalos que a produção tenta esquivar antes da estreia em 20 de março

Com estreia em 20 de março, o live-action Branca de Neve e os Sete Anões foi anunciado em 2019 como mais uma das refilmagens aparentemente inofensivas de animações clássicas da Disney, após sucessos como Cinderela (2015) e O Rei Leão (2019). Previsível, o anúncio era outra das manobras comerciais do estúdio, que mina a nostalgia em busca de retorno financeiro descomplicado, mas a premissa logo se tornou uma enorme pedra no sapato da corporação. O acúmulo de polêmicas é tanto que, neste sábado, 15 de março, o longa terá sua estreia oficial em Los Angeles, como esperado, mas nenhum veículo tradicional estará presente no tapete vermelho para entrevistar elenco ou equipe. Saiba como o conto de fadas se tornou um pesadelo:
Rejeição à Rachel Zegler
A atriz americana Rachel Zegler, de ascendência colombiana e polonesa, foi anunciada como a personagem titular em junho de 2021, meses antes de ser alçada ao estrelato pela versão do musical Amor, Sublime Amor dirigida por Steven Spielberg. Apesar de branca, a atriz foi logo atacada por uma ala racista que a considerava morena demais para o papel devido às raízes latino-americanas. Além disso, a popularidade da atriz caiu entre puristas da Disney quando ela descreveu o original como uma história “datada”, na qual “o príncipe persegue a princesa”. Segundo ela, a releitura que estrela representa uma jovem que “não será salva pelo príncipe, nem sonha com amor verdadeiro”, mas que quer “se tornar a líder que sabe ser”.
As críticas ao clássico de 1937 não foram nada bem recebidas por seus fãs devotos. Para equilibrá-las, a produção recorreu à caracterização fiel à animação — que, por outro lado, evidencia falta de criatividade do projeto e não favorece a atriz. Questionada sobre a recepção negativa, a atriz disse enxergá-la como “paixão”. “É uma honra fazer parte de algo com que se importam tanto. Não vamos concordar sempre, mas podemos fazer nosso melhor”, disse à Vogue Mexico.
Acusação de capacitismo
Pouco tempo após o anúncio de Zegler no papel principal, o ator Peter Dinklage, de Game of Thrones, participou do podcast WTF with Mark Maron e foi incisivo em suas queixas sobre o projeto. “Não quero ofender ninguém, mas isso me fez dar um passo para trás. Eles se orgulham de contratar uma atriz latina como Branca de Neve, mas ainda estão contando a história de ‘Branca de Neve e os Sete Anões’. Parem e pensem no que estão fazendo”, disse. Para o ator, os sete amigos da princesa reforçam estereótipos antigos sobre a comunidade de nanismo e retratam pessoas com nanismo como criaturas dóceis submissas.
Em resposta, a Disney decidiu transformá-los em figuras mágicas e disse trabalhar com “consultores da classe” para garantir a sensibilidade apropriada. Não foi o bastante para aquietar a conversa. Ainda hoje, fãs do original se queixam da mudança, enquanto outros consideram desagradável o design computadorizado do novo septeto. Outros, por sua vez, criticam a decisão por ter retirado empregos de atores com nanismo. No resultado final, apenas um dos sete personagens é dublado por um ator com nanismo.
Sionismo de Gal Gadot
Ex-integrante das forças de defesa de Israel, a atriz Gal Gadot interpreta a Rainha Má no longa e é uma das maiores apoiadoras do Estado israelense em Hollywood. Ela até mesmo organizou a exibição de um filme produzido pelo exército em Los Angeles dois meses após o atentado do Hamas contra seu país de nascença em 7 de outubro de 2023. Algum tempo depois, em março de 2024, ela reforçou seu posicionamento em discurso para a ONG Liga Antidifamação: “Nunca imaginei que nas ruas dos Estados Unidos e em cidades pelo mundo, veríamos pessoas que não condenam o Hamas e ainda celebram, justificam e incentivam o massacre de judeus”. Publicamente, a atriz esquiva questionamentos sobre a autodeterminação palestina e as mortes causadas pela administração de Benjamin Netanyahu.
A bússola política da atriz não apenas desperta a ira de apoiadores da Palestina, como causa atrito com sua principal colega de cena, Zegler, que já pediu pela liberdade do povo de Gaza nas redes sociais. Em aparições públicas para a promoção do filme, o par é alvo constante de especulações que destrincham linguagem corporal e entonação para inferir uma desavença entre ambas. Mais recentemente, as duas atrizes apresentaram uma categoria do Oscar 2025 juntas e o andar apressado de Zegler foi interpretado como impaciente.
Ambas devem comparecer ao tapete vermelho neste sábado, mas só serão recebidas por fotógrafos e por uma equipe interna da Disney.
A trama de Branca de Neve e os Sete Anões
Dirigido por Marc Webb, o remake tem roteiro de Erin Cressida Wilson e já passou pelas mãos de Greta Gerwig, que não é creditada no resultado final. A partir da mesma trama do original, o filme promete expandir a história da princesa e seu embate contra a Rainha Má, além de apresentar novas canções escritas pelos compositores Benj Pasek e Justin Paul.
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