Aos 80 anos, o ator Harrison Ford já não é mais um jovem cheio de energia que surgiu nas telas em 1981 como o arqueólogo Indiana Jones, mas continua destemido como nunca neste quinto filme, Indiana Jones e o Chamado do Destino, em cartaz nos cinemas. Se o quarto título da franquia, lançado em 2008, dividiu opiniões, com muitas pessoas criticando o resultado, nesta nova aventura os produtores parecem ter acertado em cheio na receita que se espera de um filme do personagem. O Chamado do Destino ostenta um balanceamento eficaz de humor, ação, aventura, suspense, perseguições, curiosidades, ficção e, claro, um tantinho de romance – elementos que transformaram a saga no sucesso que é até hoje.
O longa é ambientado no finalzinho dos anos 1960, mas logo de cara faz uma referência ao passado glorioso do personagem, rejuvenescendo digitalmente o ator em cenas que se passam cerca de vinte anos antes da narrativa, em 1945. Um aceno essencial ao público mais jovem, que se lembrava apenas do Indiana Jones já velho de 2008 e não do intrépido desbravador do passado. Como sempre, o arqueólogo está em busca de objetos judaico-cristãos. Enquanto nos filmes anteriores ele se envolveu na busca pela Arca da Aliança e pelo Santo Graal, neste há referências à Lança de Longino (ou Lança do Destino), mencionada no Evangelho de João como o objeto com que os romanos perfuraram Jesus na cruz para se certificar de que ele estava morto.
A menção à relíquia, no entanto, é passageira: o que interessa mesmo na história é a Máquina de Anticítera, dispositivo tido como um computador analógico d’antanho, cuja construção é atribuída ao matemático Arquimedes (287-212 a.C.), um dos maiores cientistas da Antiguidade clássica. É a busca por esse objeto, que no filme se acredita poder descobrir fissuras no tempo, que rege toda a ação. E bota ação nisso. Há perseguições a cavalo dentro do metrô de Nova York e outra insana correria de tuk-tuk no Marrocos, além de muitos perigos em uma caverna escondida na Sicília. Só faltaram as cobras, animais pelos quais o personagem nutre seu maior medo.
O filme também faz um freio de arrumação em relação à história do filho de Indiana Jones, Mutt Williams (no filme anterior da franquia, vivido por Shia LaBeouf ). No passado, chegou a haver esperança de que LaBeouf se transformasse em um Indiana Jones 2.0, mas a ideia não vingou e, para sacramentar seu fim, o novo filme apresenta um desfecho digno para o personagem. Para compensar, incluiu-se na trama a cativante afilhada de Indiana Jones, Helena Shaw (interpretada com brio por Phoebe Waller-Bridge). Apaixonada por arqueologia e sagaz em interpretar as escrituras do passado, não seria surpresa nenhuma que no futuro a personagem ganhasse um filme próprio. Os fãs agradecem.