O diretor americano Wes Anderson é afeito a elencos gigantescos — e sempre recheado de estrelas hollywoodianas. Em seu novo filme, Asteroid City, estão nomes como Tom Hanks, Scarlett Johansson, Jason Schwartzman e Bryan Cranston. Apesar do excesso de celebridades, na saída da coletiva de imprensa do filme, no Festival de Cannes, na quarta-feira, 24, era notável o desejo da multidão de se aproximar e tirar fotos com o cineasta pop, mais do que com seus atores. Na sala, se as perguntas não eram diretamente para ele, eram sobre ele: “Como é mergulhar na mente peculiar de Wes Anderson?”, questionou um jornalista.
A questão tem raízes em sua estética pop e facilmente reconhecível, tanto que virou queridinha da Inteligência Artificial — que vem reimaginando clássicos com o estilo simétrico e em tons pasteis que viraram marca do diretor. “Tudo é construído para criar algo que nenhum outro indivíduo exceto Wes [Anderson] entende completamente”, afirmou Cranston. “É como se ele fosse o maestro de uma orquestra. Nós estamos ali para tocar nosso instrumento e contar a história.” Anderson, em partes, discorda: “De certo modo, tudo é improvisado, e a grande improvisação vem da emoção dos atores”. Em Asteroid City, uma cidade, chamada Asteroide, como diz o título, é palco de uma peça de teatro sobre uma convenção de astrônomos mirins — trama que ainda conta com uma invasão alienígena, uma quarentena imposta pelo governo americano e um estranho programa de TV.
Asteroid City foi filmado durante a pandemia e, como os personagens da trama, os atores ficaram em quarentena em um deserto na Espanha para a filmagem, criando uma espécie de comunidade ou pequena família. Para além de criar um mundo paralelo no cinema, Anderson criou também uma vida incomum para todos que trabalhavam no filme. Era ele quem definia o menu do jantar de todas as noites e montou uma espécie de locadora com DVDs de todas as suas referências. A ideia era os atores conhecerem essas obras e, como numa locadora tradicional, cada um colocava nome e data de devolução, e os filmes iam passando de mão em mão, até que todos tivessem visto. A Crônica Francesa, filme de 2021 do cineasta, que traz muitas semelhanças com Asteroid, foi um dos títulos a que assistiram todos juntos. “Mesmo em Cannes, estamos todos juntos. Jantamos juntos, vamos nadar juntos”, conta o ator Rupert Friend.
Todos os atores tinham exemplos dessa proximidade. “Quando Wes vê uma cena”, contou Jason, que trabalha com o cineasta há 25 anos, “ele começa a se inclinar para a gente, como se entrasse, literalmente, na cena”. Às vezes, mesmo quando o que foi gravado parece perfeito, ele pede para fazerem mais uma vez, como se estivesse esperando ser surpreendido. Não existe nada de presunção, os atores contam. “Ele manda esses lindos e-mails poéticos em letras minúsculas”, relatou Steve Park, que trabalhou com o diretor algumas vezes.. E ele entra diretamente no tema. ‘Querido Steve, tenho um papel que acho que talvez você se interesse em ler'”.
Perguntados como seria agora que a grande família iria se separar, Friend disse: “Talvez não. Muitos de nós já estão participando do novo filme dele” — um velho hábito de Wes Anderson, que a cada filme adiciona mais e mais atores favoritos ao seu casting quase contínuo. O próximo projeto será uma adaptação de três contos adultos de Roald Dahl, conhecido por livros infantis como A Fantástica Fábrica de Chocolate ou Matilda. Mais uma experiência em tons pastéis, estética favorita de Anderson, está no forno.