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Cúpula do PT celebra ‘vitória’ da ditadura da Nicarágua

Partido cria realidade paralela e vê "grande manifestação popular e democrática" em pleito sem concorrência, com todos adversários presos e abstenção de 80%

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 nov 2021, 09h00
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  • A cúpula do Partido dos Trabalhadores resolveu presentear o ditador da Nicarágua Daniel Ortega, que completa 76 anos depois de amanhã. Em nota pública, celebrou sua “eleição” ao quarto mandato — sem concorrência—  como expressão de “grande manifestação popular e democrática” de seis milhões de nicaraguenses.

    A contagem em Manágua apenas começou. Ortega e sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, despontam com 75% dos votos válidos.

    Ao enxergar na “vitória” de Ortega-Murillo uma “grande manifestação popular e democrática”, a direção do PT atesta estar vivendo numa realidade paralela.

    Oito de cada dez nicaraguenses não votaram, informa a organização Urnas Abiertas, que calcula a abstenção média nacional em 81,5%. Ou seja, só dois de dez eleitores foram às urnas. E, entre esses, uma parcela significativa rejeitou votar no casal de ditadores.

    A burocracia petista optou pela cegueira deliberada do óbvio ao vislumbrar nos resultados “o apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um país socialmente justo e igualitário”.

    Ortega e Murillo não tiveram competidores nas urnas: mandaram prender todos. Há dois meses enjaularam sete candidatos adversários e, pelo menos, 130 dos seus simpatizantes.

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    Como regra, vetaram registros de candidaturas dos partidos de oposição. Na última hora do último dia do prazo, 2 de agosto, o Partido Ciudadano por la Libertad anunciou ter conseguido inscrever o candidato presidencial Oscar Sobalvarro e a vice Berenice Quezada. O Conselho Supremo Eleitoral simplesmente extinguiu o partido e suprimiu as candidaturas, quatro dias depois.

    Seguiu-se um enredo digno de ficção, relata a Comissão Interamericana de Direitos Humanos em análise sobre a concentração de poder e a falência da democracia na Nicarágua, divulgada no último dia 25 [clique aqui para obter uma cópia].

    Conta a comissão: “O conselho também solicitou o cancelamento da cédula de identidade da presidente do partido, [Carmella de Monterrey, conhecida como] Kitty Monterrey. No dia 8 de agosto, o Ministério de Governo confirmou o cancelamento da nacionalidade, assim como a cédula de identidade, a certidão de nascimento e anulou seu passaporte.” Ela tem mãe nicaraguense e pai americano. Escondeu-se para não ser presa.

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    (Reprodução/VEJA)

    É natural que dirigentes do PT celebrem os feitos dos seus aliados políticos. O problema está criação de uma realidade paralela motivada por antigos ressentimentos com os Estados Unidos, sequela dos tempos de Guerra Fria.

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    O ranço está induzindo a uma espécie de cegueira com a própria história —o partido nasceu do repúdio à ditadura.

    Em junho, por exemplo, a cúpula petista festejou a eleição do presidente do Irã, Ebrahim Raisi, cuja biografia é pontuada por acusações de crimes contra a humanidade, por assassinatos, desaparecimento forçado e tortura de adversários políticos.

    Antes, em janeiro de 2019, mandou representantes à celebração de Nicolás Maduro no comando da  Venezuela. Ele é o primeiro político latino-americano sob investigação do Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade. O TPI ainda não examinou os pedidos de inquérito contra Jair Bolsonaro, todos apoiados pelo PT.

    Os casos de Maduro foram relatados por uma comissão das Nações Unidas e têm similaridade com os de Raisi, no Irã, e da dupla Ortega-Murillo, na Nicarágua.

    Por coincidência, é o mesmo comitê da ONU ao qual o PT recorreu na tentativa de demonstrar “perseguição judicial” contra seu líder, Lula, candidato na eleição presidencial de 2022.

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