Sob suspeitas, governo suspende leilão de arroz e secretário pede demissão
Decisão foi anunciada nesta manhã em meio a suspeitas de favorecimento de empresas ligadas a secretário
O presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Edegar Pretto, anunciou nesta terça-feira, 11, que o órgão decidiu anular o leilão de arroz realizado na última quinta-feira, 6, para comprar arroz a preço tabelado e suprir uma eventual falta ou alta dos preços do produto em razão da tragédia climática pela qual passou o Rio Grande do Sul.
O certame estava sendo questionado pela oposição, principalmente pela capacidade técnica das empresas que venceram a disputa. Também há muitas suspeitas sobre a relação do secretário de Política Agrária, Neri Geller, com sócios das empresas que intermediaram o certame — na manhã desta terça, Geller pediu demissão. “Ele colocou o cargo à disposição, e eu aceitei”, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro.
Segundo Pretto, o governo vai retomar os leilões após uma análise dos procedimentos. “Decidimos anular esse leilão e vamos revisitar os mecanismos que são estabelecidos para esses leilões. Com apoio da CGU e da AGU, pretendemos fazer um novo leilão, quem sabe em outros modelos, para que a gente possa ter as garantias de que vamos contratar empresas que tenham capacidade técnica e financeira”, disse Pretto, em entrevista no Palácio do Planalto.
Segundo ele, um dos problemas era a desconfiança sobre a capacidade de as empresas vencedoras entregarem o produto. No leilão, o governo arrematou 263.730 toneladas de quatro empresas, a um custo de 1,3 bilhão de reais. “Não tem como a gente depositar dinheiro público sem termos as reais garantias de que o leilão e esses contratos posteriores serão honrados”, completou Pretto.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da decisão anunciada nesta terça. Ainda não há previsão de quando o novo certame vai ser realizado.
Defesa
Logo após anunciar a demissão de Geller, Fávaro defendeu o ex-secretário. “Quando o filho dele (Marcelo Geller) estabeleceu sociedade com a corretora, ele não era secretário de Política Agrícola. Portanto, não havia conflito ali. Não há nenhum fato que o desabone ou gere algum tipo de suspeita”, disse o ministro, que admitiu, em seguida, que o vínculo do ex-deputado gerou “transtorno”.
Robson Luiz Almeida de França, sócio-proprietário da Foco Corretora de Grãos, intermediadora de três das quatro empresas que venceram o certame anulado, foi assessor parlamentar de Geller e sócio do filho dele em uma outra empresa. Entre as arrematantes da quinta passada, estão uma empresa de trading de Santa Catarina, uma de locação de veículos em Mato Grosso e uma de comércio de polpas de frutas de São Paulo. Há ainda uma quarta empresa, representada por outra corretora, que funciona como uma padaria no Amapá.
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