Nada contra o MasterChef. Inclusive tenho amigos que são.
Mas ele me causa uma pequena agonia, da mesma maneira que me incomodam os campeonatos no estilo Bocuse d’Or. O programa vai contra minha “filosofia de fogão”.
Cozinhar não é competir, não é picar cebola mais rápido que o amiguinho. Cozinhar é um ato de generosidade. O foco não é a técnica, o prato ou o chef, e sim a celebração do ato de comer e a felicidade de quem está a mesa (pode ser o cliente ou a sua família).
Cozinhar pode ser menos tenso, mais leve, mais divertido. Tem que aproximar as pessoas, precisa ter humor, ter amor na parada. Ninguém deveria perder ou ganhar na cozinha…
Estou ligado que é só TV, mas deturpa a coisa toda. Do lado profissional, cria uma nova geração de cozinheiros ainda mais competitiva e egocêntrica. Do lado amador, faz surgir uma legião de “foodies” colocando broto de beterraba em tudo e desconstruindo a lasanha antes de aprender a construir.
Sou mais a Julia Child, com aquela voz insuportável, que ensinava o americano médio a fazer um boeuf bourguigon.
*Texto originalmente publicado pelo chef Raphael Durant Despirite, do restaurante Marcel, em sua página de Facebook