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Críticas e análises sobre o universo da televisão e das plataformas de streaming

‘A Diplomata reflete o extremismo político atual’, diz criadora da série

Debora Cahn fala a VEJA sobre a nova temporada da série de sucesso da Netflix, na qual uma embaixadora americana lida com uma crise mundial na Europa

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 1 nov 2024, 11h49

A produtora e roteirista americana Debora Cahn encontrou um nicho para chamar de seu: criadora da série A Diplomata, da Netflix, ela tem no currículo também passagens pelos dramas aclamados The West Wing (1999-2006) e Homeland (2011-2020) — trio de produções que explora os bastidores da política americana e sua relação com o mundo. Na série atual, que acaba de ganhar uma segunda temporada na plataforma de streaming, a diplomata do título é Kate Wyler (Keri Russell), embaixadora americana em Londres que se equilibra entre lidar com uma complexa trama geopolítica, iniciada após um atentado contra um navio militar britânico, e sua vida pessoal, com um marido intrometido e o flerte constante com o ministro de Relações Exteriores inglês — tempero que dá um toque novelesco ao clima sério da história. Enquanto investigam qual país foi o culpado pelo ataque que matou mais de 40 cidadãos britânicos, o grupo se depara mais com os perigos do extremismo político europeu do que com velhos inimigos, como Rússia e Irã — inicialmente acusados de serem os mandantes do atentado. Confira a seguir entrevista com a criadora da série:

Quais são os principais desafios e alegrias de escrever séries sobre política? É prazeroso, mas bem complicado e difícil de acertar. É difícil representar toda a real complexidade deste meio. Existe o perigo de simplificar demais de modo que passe mensagens equivocadas sobre como chegamos ao ponto em que estamos no mundo.

Qual tipo de pesquisa costuma fazer? Eu escrevo pelo ponto de vista de uma curiosa, não de uma especialista. Então gosto de conversar com pessoas que trabalham nesse meio. Tento entrar na cabeça delas e entender como elas enxergam o mundo. E, geralmente, são pessoas muito interessantes, realmente inteligentes. Elas tem um entendimento amplo sobre o mundo. Enxergam a complexidade de tudo. Então, ao conversar com elas, consigo entender porque estamos nessa situação ridícula da política mundial.

Em que sentido? Temos o hábito de olhar para um político e taxá-lo como malvado ou estúpido, mas, no fundo, o modo de se fazer política é muito mais complicado.

Essa nova temporada se aprofunda mais na guinada ao extremismo, tanto na Europa quando nos Estados Unidos. O cenário atual do mundo, então, foi uma inspiração? Com certeza. A Diplomata reflete o extremismo político atual. É um momento peculiar na política, que interfere ainda nas relações entre as diferentes partes do mundo e o modo como esses países enxergam uns aos outros. Há 20 anos estávamos em um momento melhor. Espero que a gente não volte mais atrás para chegar na política de 70 anos no passado.

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Como fazer séries de política sem deixá-las chatas? A política é um tema fascinante de se escrever sobre. O que eu gosto de fazer é colocar pessoas reais no meio disso tudo. Humanizar esses ambientes: por exemplo, no meio do caos, de repente, uma dessas pessoas precisa dar uma pausa a si mesmo para focar no café que derrubou na própria roupa.

Nessa toada, você criou um casal bastante interessante, no qual a mulher está em uma posição acima do marido. Por que essa dinâmica? Conheço muitas pessoas que já se apaixonaram no trabalho por alguém que compartilha do mesmo interesse e o compromisso com alguma causa. Costuma ser emocionante no começo. Mas dez, quinze ou vinte anos depois, a pessoa acaba morando com um colega de trabalho e, às vezes, até um concorrente. É um desafio misturar vida pessoal e profissional. As pessoas atingem seu ápice em momentos diferentes da vida. E relacionamentos  amorosos começam com um certo status que muda depois de vários anos. Algumas pessoas lidam com isso graciosamente, mas outras, não.

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