De descendência libanesa, Leila Malouf, 70 anos, sempre se orgulhou de suas raízes, principalmente na cozinha. Agora, preocupada com o estado do Líbano que enfrenta bombardeios oriundos da guerra entre Hezbollah e Israel, ela reza para que sua família esteja segura. “Já passamos por trinta anos praticamente de guerra, mas não destruiu a cultura. Temos família lá até hoje, muitos amigos. Ficamos muito receosos e com pena. Os radicais procuram fazer esse movimento horroroso de terrorismo, mas o libanês que habita lá é um povo alegre e festivo, não dá para entender a briga constante de potências”, desabafa.
No Brasil, Leila é referência no ramo dos buffet, que acaba de registrar no livro A Cozinha é Minha Vida (ed. Entrelinhas). Filha mais velha de quatro irmãos, ela criou o hábito de uma mesa sempre farta. Nascida em Cuiabá (MT), se mudou aos doze anos para São Paulo, onde viveu até ficar noiva do empresário libanês Khalil Malouf, quando retornou à cidade natal. As refeições que cozinhava, outrora feitas pela sogra e cunhadas, se tornaram presentes em sua casa. No entanto, se via tentada a testar novas receitas – e assim o fez. Seu marido se tornou presidente do Clube Monte Líbano de Cuiabá. Foi quando ela aproveitou a oportunidade para ser diretora social. Os almoços para sócios aos domingos se tornaram tão constantes quanto os domésticos – o que fazia em casa era o que servia, mas em quantidades maiores. Foi assim que o hobby se tornou profissão. Logo deixou de ser só cozinheira, para também ser organizadora de uma equipe. “A cultura libanesa não tinha tradição da mulher trabalhar fora. Foi uma ruptura cultural na época”, recorda.
Decidiu abrir uma empresa em 1994, dando pontapé ao seu buffet. Estar à frente das panelas se tornou sinônimo de felicidade. Tudo na cozinha estava sob seu comando: desde procurar ingredientes até arrumar as porções. “Hoje, ao todo, o grupo tem 450 colaboradores. Só o bufê, 150. Temos outras cinco empresas do ramo de gastronomia. O buffet é a empresa-mãe, o carro-chefe. Temos sete salões de festas, um para 700, outro para 300 e outro para 120. A gente faz vários perfis de eventos”
Leila também entendeu que poderia aprender muito além do que já não era novidade para ela – ampliando seu conhecimento através de criações de outros chefes. Por nunca ter feito faculdade de gastronomia, se apegou a quem já se destacava no meio. “A gente tem um lado de trazer especialistas, é a cultura da empresa. Desde quando comecei no negócio e fui buscando aprendizado e troca de informações com chefs e banqueteiros”, diz. A raiz libanesa, entretanto, continua sendo seu norte. De um jeito ou de outro, nos banquetes que promove ao gosto do cliente, arruma um jeito de apresentar a tradição gastronômica do Líbano. Nem que seja pela berinjela com molho tahine, inspirada no tradicional baba ghanoush.
Quando decidiu levar sua história ao papel, Leila apresentou o projeto do livro à editora do Senac. “Fui lapidando algumas receitas para que tenham minha identidade. Fiz questão de ter essa pegada pessoal, porque não dá para ter cara de restaurante, não é meu legado”, define. A obra contém 50 receitas de diversas raízes e culturas, com foto dos pratos para acompanhar, além de toda sua trajetória pessoal na cozinha – e fora dela. Um deleite e uma inspiração a cada página.