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Marina Lima: ‘Me decepcionei com o mundo, comigo própria’

Recuperada de problemas com a voz, cantora comemora 69 anos com nova turnê e, em conversa com a coluna, recorda sua trajetória

Por Mafê Firpo Atualizado em 17 out 2024, 11h26 - Publicado em 17 out 2024, 07h00

Após ficar anos fora dos palcos se recuperando de um problema nas cordas vocais, Marina Lima está de volta, com a turnê Rota 69 – em alusão, diga-se de passagem – a sua idade. Sucesso na década de 1980, a cantora interrompeu a carreira musical devido a um erro médico na cirurgia das fendas vocais, o que acarretou numa depressão. Em conversa com a coluna GENTE, a cantora comenta como lidou com a pressão das gravadoras, admite que posou nua por recomendação médica e fala como enfrentou a caretice ao expor sua sexualidade. Avessa a entrevistas longas, Marina expõe seus pensamentos e ironias ao longo desse bate-papo.

Recentemente a senhora retornou aos palcos após anos sem se apresentar. O que representa a turnê de “Rota 69”? Bom, vai ser o terceiro show que faço nessa turnê. Fiquei 40 dias ensaiando em São Paulo, é o show que está na minha veia no momento. Fazer esse show no Rio, no Circo Voador,  o tamanho da expectativa que sinto… Você conhece o Circo? Então sabe do que estou falando. 

É um retorno aos holofotes?  Cara, que pergunta esquisita. Bom, holofote quer dizer palco, né? Tem holofote no palco, é difícil falar… Para o palco, tenho retornado já tem tempo. O negócio ganhou uma dimensão grande. Agora, a luz está sempre comigo.

A senhora conquistou um grande público LGBTQIAPN+. Como vê a diferença entre esse público nos anos 1980 para agora? Você está querendo que eu te diga o livro, né? O mundo mudou, foram conquistadas muitas mais leis para LGBT, pretos, pobres… Continua assim uma direita ferrenha, uma burguesia que não tem a menor empatia, isso continua. Mas até milionários do mundo inteiro estão tendo mais empatia com o povo pobre. E coloco LGBT, gays, mulheres, no mesmo lugar. Porque a gente é tida como minoria, então a própria união das nossas minorias nos dá um espaço enorme. O nosso gado é outro. Não dá para tapar a boca mais da gente.

Como assim? É outro mundo, é outra situação. Ao mesmo tempo, há mais violência sabida. Não sei se sem internet a violência seria tão grande, porque saberíamos menos, mas agora a gente sabe. Quando matam aquela mulher palhaça, que fazia trapézio, lá no Amazonas… Você leu isso? Mataram ela, era uma palhaça, estupraram e mataram ela. Esse tipo de coisa, antigamente, não saberia. 

Na década de 1980, se tornar ícone LGBT+ ao se assumir lésbica nao deve ter sido nada fácil… Não vou dizer que era fácil. Não é, mas por ter estrutura familiar, psicológica… Minha família é inteligente, moderna, com ética. O fato de eu me enquadrar gay ou lésbica ou bissexual, como cada um diz, na verdade… Acho que sou bissexual, mas não me incomodo com nomenclatura. Enfim, eu tinha aceitação na minha casa, não foi difícil lidar com as dificuldades da época. Isso me dava força, coragem. Era difícil alguém me derrubar.

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Nunca teve medo de falar da sua sexualidade? Nunca me escondi não, nunca tive medo, até porque não tinha tanto interesse em falar sobre isso. Falo se sinto que posso ajudar de alguma maneira esses grupos a se fortalecerem para ter minha voz junto. Mas antigamente não havia grupos e ninguém me perguntava sobre isso. 

Arrumou muita briga? Na época que eu comecei havia gravadoras. Sabe? Gravadoras! Isso que regia a coisa musical. Havia gravadora, rádio… Tinha outras prioridades. E mudei de gravadora seis vezes. Por que será, né? Não é porque me mandaram embora, é porque eu queria sair. Agora, consegui a proeza de brigar pouco. Fiz muita pouca inimizade no meio. Mas só fiz aquilo que acreditei. Isso que te falo, o negócio é ter estrutura, uma rede de apoio. Seja de família, de amigos, seja o que puder ter. Por isso algumas mulheres conseguiram sobreviver, aparecer e ter visibilidade, entende? 

Essa pressão de ser mulher se somava ao fato de se expressar de forma livre sexualmente? Em um sentido maior, imagino que mulheres em todas as profissões deveriam sofrer esse tipo de tentativa de direcionamento, ou de usurpar e tirar o comando delas. Na música, não havia ninguém fazendo musicalmente nada parecido com o que eu fazia. Vinha meio de MPB, e tinha o tropicalismo. Eu era uma mistura de coisas que fui gostando e aprendendo. Bebi de várias fontes e criei uma sobriedade na mistura de tudo isso. Não era de se estranhar que os homens em comando estranhassem a sonoridade, a independência e a segurança daquela mulher. Quando sentia que teria embate desagradável, que gerasse discussão, eu mudava de gravadora. 

Depois de perder a voz, a senhora disse que passou por uma grande depressão. Como foi isso? Olha, não entendi bem o que houve. Senti que eu, de alguma maneira, não queria mais. Me decepcionei com o mundo ao redor, com a minha vida, comigo própria… Não sei dizer. Mas sinto que tranquei minha voz durante um período e sofri por isso. Mas hoje minha voz voltou, e voltou completamente. Às vezes penso se isso não foi uma artimanha do acaso para eu prestar atenção num monte de coisas e voltar plena. Às vezes acho que foi um golpe de sorte, entende? Não sei te dizer bem.

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Por que um golpe de sorte?  Porque hoje em dia, com 69 anos, quando muita gente que conheço está meio desanimada ou meio descrente, estou animadíssima, a pleno pulmões, felicíssima com meus shows e louca pra espalhar o pouco ou muito que sei da vida… Fechou bem, né? Eu dou pouca entrevista… Tem muita coisa aí, garota… Tem muita coisa já dita, que se você ouvir bem, vai achar material…  Você quer sombra e água fresca…

Já vamos terminar. Sobre a fase de depressão, sentiu-se julgada à época? O que você imagina? Claro, né?  Não tem muito o que falar sobre isso… A vida é o seguinte: ou você leva a vida sabendo lidar com as adversidades, ou você se rende a elas. A vida é uma escolha, escolhi não me render. 

Como foi lidar com o diagnóstico? Cara, não sei. A primeira coisa que tem que fazer, se puder, é procurar ajuda, porque depressão é como se faltasse algo no cérebro, uma substância, é difícil lidar com isso sozinho. Ela não quer finalizar… Ela quer mais perguntas… Mas tudo bem… 

Você já comentou que posou nua para a Playboy por indicação de um psiquiatra. Por quê? Porque eu estava precisando de grana, ganhava grana trabalhando com música, aí perdi a voz, aí não tinha como ganhar grana… Aí como a Playboy a vida inteira me perseguiu, o psiquiatra falou: ‘Marina, você pode ganhar grana posando’. É, foi prescrição médica.

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Arrepende-se do ensaio? Se tivesse precisando de grana, faria (de novo), com certeza. Não vejo problema, não vejo tabu com corpo. Cada um tem olhar erótico de uma maneira, eu tenho o meu, vou atrás do meu.

Sentiu-se realizada? (Gargalhadas) Essa foi a melhor pergunta de todas. Olha, você está pensando em posar nua? A coisa mais importante, primeiro foi a grana. A segunda coisa mais curiosa que aconteceu foi chegar no aeroporto de Curitiba e sentir todos os Mauricinhos, classe média do aeroporto e executivos me olhando muito. Sentir que eles estavam me encarando com um olhar diferente foi engraçado. Sou muito curiosa. Vi algo que não conhecia e achei curioso… Seus cinco minutos acabaram, se quiser fazer uma capa da Playboy ou da Veja comigo, te dou uma hora de entrevista, pode ser? 

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