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Destilado “clandestino” dos EUA, moonshine ganha edição nacional

Tipo de whisky não envelhecido, El Miraculoso Calibrador de Mira de Widowmaker Joe tem rótulo inspirado em boticas antigas e filmes de faroeste

Por André Sollitto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 jun 2022, 18h21 - Publicado em 10 fev 2022, 12h48
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  • Alguns destilados têm uma história repleta de lendas e causos tão interessantes que mesmo quem nunca provou um gole da bebida em si já ouviu falar. Como o absinto, combustível para a criação de poemas e quadros na Europa do final do século 19. Ou o aquavit norueguês, colocado em barris no porão de navios para que o movimento das ondas e a alta umidade acelerassem a maturação.

    É o caso do moonshine, produzido principalmente de forma ilegal nos Estados Unidos desde a Revolução Americana. Originalmente um tipo de whisky não envelhecido, de cor clara e base de malte de cevada ou milho, passou a ser feito com uma variedade de grãos diferentes, sempre à noite, para driblar a vigilância. Com as condições precárias e o uso de ingredientes baratos, dá para imaginar a qualidade dessa bebida. Nos últimos anos, no entanto, conquistou o interesse das destilarias artesanais, que desenvolveram versões mais caprichadas (e menos nocivas à saúde, com certeza).

    Agora, o moonshine ganha uma limitada edição nacional. El Miraculoso Calibrador de Mira de Widowmaker Joe, produzido pela cervejaria Juan Caloto em parceria com a destilaria Geest, é feito com cevada maltada, centeio e milho (dois grãos muito usados nos whiskies americanos), além de malte turfado (matéria vegetal decomposta pela água, a turfa é adicionada ao processo de queima para acrescentar sabores levemente defumados e, em alguns casos, marítimos e salgados) vindo da Escócia, da tradicional região de Islay.

    Com móveis garimpados em leilões, o bar tem clima de esconderijo de bandoleiros do velho oeste -
    Com móveis garimpados em leilões, o bar tem clima de esconderijo de bandoleiros do velho oeste (Juan Caloto/Divulgação)

    “O moonshine, tradicionalmente, era feito com qualquer álcool. Para um americano, poderia ser água e açúcar fermentado. O nosso tem malte, fizemos a destilação controlada da maneira como se fôssemos envelhecer, evitando subprodutos não desejados nesse processo”, afirma Marcelo Maaz, fundador da Geest e sócio da Juan Caloto. “Então, mesmo os moonshines americanos artesanais têm mais gosto de álcool, talvez um pouco de cereal. O nosso vem carregado de sabor”.

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    Essa primeira versão é totalmente não envelhecida, o que permite uma apreciação da turfa de maneira mais natural, já que normalmente os whiskies turfados são envelhecidos e o sabor é mesclado com a madeira. Mas há intenção de lançar versões posteriores, envelhecidas, mostrando a evolução dos sabores ano a ano. “As pessoas vão poder provar como funciona esse processo. Em breve queremos começar a envelhecer. Pode ser em seis meses, se for uma barrica virgem, ou mais tempo, um ano, se usarmos barricas de vinho, algo assim”, diz o sócio Felipe Gumiero.

    A partir desta quinta-feira, 10 de fevereiro, o moonshine será a atração principal do Esconderijo Juan Caloto, bar da cervejaria inaugurado no finalzinho de novembro de 2021. Há uma carta inteira de drinques produzidos com o destilado, incluindo releituras de clássicos, como o moonsour, o old fashioned ou Joe’s Cooler, uma versão do highball. E também será possível levar para casa uma das 150 garrafas numeradas (R$ 135, 700 ml). É a primeira vez que ele estará disponível para compra. Antes, foi servido apenas como teste em alguns drinques da casa.

    O Esconderijo é a materialização de toda a identidade da cervejaria, contada nas latas das cervejas produzidas desde sua fundação. O bar tem um clima de faroeste spaghetti (como eram conhecidos os westerns feitos na Itália da década de 1960, como “O bom, o mau e o feio”, clássico de Sergio Leone com Clint Eastwood no papel principal), mas não como um saloon. A ideia é que a casa, na Vila Clementino, foi usada como esconderijo pelo bando de Juan Caloto, o personagem principal de toda essa narrativa de western. Todos os móveis foram garimpados em leilões, antiquários e vendas do tipo “família vende tudo”. Há um centenário piano americano, antigas garrafas de whisky e até uma parede com cartões de visita de fotógrafos da virada do século. “Com o tempo, as pessoas começaram a trazer coisas pra gente. Coleções que tinham valor para familiares, móveis antigos. E elas estão aqui, fazendo parte dessa história”, diz o sócio Marcelo Bellintani.

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    Os sócios Felipe Gumiero, Marcelo Maaz, Ricardo Rovella e Marcelo Bellintani
    Os sócios Felipe Gumiero, Marcelo Maaz, Ricardo Rovella e Marcelo Bellintani (Juan Caloto/Divulgação)

    Até as comidas servidas foram pensadas para casar com o clima do bar. São sanduíches com carnes curadas, acepipes de boteco e porções com conservas como kimchi (a acelga fermentada com pimenta típica da gastronomia sul-coreana) e o rollmop, um pedaço de cebola envolto em um peixe salgado. Como se os lanches pudesem ser preservados no antigo oeste, sem refrigeração – mas calma, no Esconderijo há todas tecnologias mais modernas para preservar os alimentos, como geladeiras.

    E, é claro, há cervejas. São oito torneiras com criações da própria Juan Caloto, como a juicy IPA El Último Trem para Sabata Valley, com os lúpulos sabro e strata, além de rótulos de convidados e parcerias com outras cervejarias, como a sour El Cajueiro Y La Traición del Capim Santo, feita com a Vórtex, feita com caju e capim limão.

    Para quem prefere drinques, além da carta especial do moonshine, a casa conta com um menu especial de verão e coquetéis do cardápio fixo, feitos com destilados da Geest. Alguns são exclusivos do Esconderijo, como o absinto ou um aperitivo que leva Frangelico, vodka e cherry brandy.

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