Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Os tropeços de marcas que sofrem para se adequar aos novos tempos

Elas lutam para dissociar a sua imagem dos valores ruins do passado e são alvos até de boicotes

Por Marilia Monitchele
Atualizado em 4 jun 2024, 10h38 - Publicado em 14 Maio 2023, 08h00

Durante muito tempo, a publicidade foi acusada de reforçar estereótipos de raça e gênero ao ocultar em suas campanhas a diversidade do tecido social. Nos últimos anos, contudo, a indústria do marketing decidiu trocar a surrada estratégia por ações comerciais mais abrangentes. Uma das pioneiras foi a marca de sabonetes Dove, que lançou uma propaganda estrelada por mulheres que estavam longe dos padrões consagrados de beleza. Poderia ter começado ali um novo marco estético, com anúncios mais heterogêneos, mas nem todos os consumidores parecem dispostos a aceitar as mudanças da sociedade. Há algumas semanas, uma campanha da cervejaria Budweiser protagonizada por uma mulher trans irritou parcela considerável dos fãs de seus produtos.

Dylan Mulvaney é uma influenciadora com 1,8 milhão de seguidores só no Instagram. Carismática, ela compartilha detalhes de sua rotina nas redes sociais, assim como muitas outras celebridades digitais, mas com uma diferença significativa: seu conteúdo é baseado no processo de transição de gênero. A forma de compartilhar a experiência criou um público fiel e, consequentemente, chamou a atenção do mercado publicitário. Mulvaney foi contratada para estampar sua imagem nas latinhas de cerveja, o que revela a nobre intenção da empresa em dialogar com os novos consumidores. No entanto, a investida deixaria um gosto amargo. Um boicote promovido pelos fãs da marca levou à queda de 17% nas vendas da Budweiser e à perda de 6 bilhões de dólares em valor de mercado. Encurralada, a companhia tirou a campanha do ar.

REVOLTA CONTRA A MOTO ELÉTRICA - Uma das mais icônicas fabricantes de motocicletas, a Harley-Davidson provocou a ira dos fãs ao anunciar investimentos em veículos elétricos. Eles afirmaram não admitir uma Harley sem o conhecido ronco dos motores
REVOLTA CONTRA A MOTO ELÉTRICA – Uma das mais icônicas fabricantes de motocicletas, a Harley-Davidson provocou a ira dos fãs ao anunciar investimentos em veículos elétricos. Eles afirmaram não admitir uma Harley sem o conhecido ronco dos motores (Neilson Barnard/Getty Images)

Mais do que um caso isolado, o episódio mostra a dificuldade de empresas identificadas com os valores do passado para se adequarem aos novos tempos. Em 2019, a Gillette lançou um comercial questionando comportamentos masculinos tóxicos. A campanha recebeu uma enxurrada de comentários negativos. Em 2022, a Volkswagen anunciou o Novo Polo em uma postagem nas redes sociais. O casal gay que estrelava o anúncio gerou reação inédita nas contas da montadora. Milhares de comentários se dividiam entre congratulações e insinuações homofóbicas.

Os exemplos não cessam nem é preciso limitá-los a certas bandeiras. No início de 2023, o CEO da Harley-­Davidson anunciou investimentos em frotas elétricas. O que deveria ser um fato positivo e condizente com o momento de discussões ambientais causou saudosismo precoce entre os fãs, que afirmaram não admitir uma Harley sem o seu conhecido, e controverso, ronco gerado pelos motores a combustão. “As rejeições não têm a ver necessariamente com os conceitos das campanhas”, diz Noah Scheffel, consultor em diversidade e liderança inclusiva. “Elas dizem respeito ao ego do consumidor, que leva a mudança como algo pessoal, como se a marca o abandonasse.” A também consultora Natalia Fernandes amplia a discussão. “Não adianta aderir ao discurso da diversidade sem conhecer o perfil de sua audiência”, diz.

Continua após a publicidade
HOMOFOBIA NAS REDES SOCIAIS - Em 2022, a campanha do Novo Polo, da Volkswagen, exibiu um casal gay e ficou marcada por críticas à empresa nas plataformas digitais
HOMOFOBIA NAS REDES SOCIAIS – Em 2022, a campanha do Novo Polo, da Volkswagen, exibiu um casal gay e ficou marcada por críticas à empresa nas plataformas digitais (Ford/Divulgação)

O dilema expõe as diferentes demandas de consumo e o papel das empresas como vozes que espelham a sociedade. Ele também evidencia a fina linha em que muitas marcas tentam se equilibrar. Ao mesmo tempo que se esforçam para se manter relevantes e sintonizadas com a nova era, em excelente postura, lutam para não deixar escapar a fidelidade dos consumidores apegados ao passado. Mas é preciso ficar claro: ao contrário do que diz o velho ditado, nem sempre o cliente tem razão.

Publicado em VEJA de 17 de maio de 2023, edição nº 2841

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.