Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Não parece, mas é

Nada de passas nem de frutas cristalizadas. O panetone agora tem cores, sabores e recheios que passam longe da receita milenar inventada em Milão

Por Fabio Codeço
Atualizado em 4 jun 2024, 16h18 - Publicado em 23 nov 2018, 07h00

Tradição do Natal, o panetone, com sua massa entremeada de passas e frutas cristalizadas, sempre foi um corpo meio estranho na ceia brasileira. A primeira investida para aproximar o pão (sim, ele é um pão) natalino das preferências nacionais se deu há exatos quarenta anos, quando a Bauducco trocou as frutas por gotas de chocolate — e, afinal, quem não gosta de chocolate? O chocotone, hoje empatado em vendas com o original, foi a largada para reinvenções que, neste ano, atingiram um frenesi de criatividade: para onde quer que se olhe, há panetone de todas as cores e sabores — salgados, inclusive. “Queremos satisfazer o gosto dos clientes, e os jovens, principalmente, estão sempre atrás de novidades”, diz Alexandre Martins, diretor da Ofner, marca que tem entre suas catorze receitas o Red Velvet (veludo vermelho, em inglês). Inspirado no famoso bolo americano, esse irreconhecível panetone traz corante vermelho na massa, recheio de cream cheese levemente doce e cobertura de chocolate branco.

Panetone
À BRASILEIRA - Recheio de carne-seca: salgando o que era doce (//Divulgação)

Nas prateleiras das lojas e mercados, escolher é um exercício de desapego. Tem panetone de doce de leite, brigadeiro, bem-casado, morango. A Cacau Show lançou o de petit gâteau, com massa de cacau recheada de chocolate cremoso, para ser aquecido antes de servir. Sob o rótulo de “natural”, o pão de Natal pode levar farinha integral, castanha e damasco. Mais heterodoxa ainda, a versão salgada adiciona bacalhau, calabresa e carne-seca, entre outros sabores. Maior produtor da América Latina e segundo do mundo, o Brasil também é o segundo maior consumidor de panetone (perde em ambos os casos para a Itália, onde ele nasceu). De novembro de 2017 a janeiro de 2018, foram vendidas aqui 39 000 toneladas da especialidade, o que movimentou 600 milhões de reais. E a previsão é de um crescimento de 8% neste Natal. O panetone foi trazido para o Brasil pelos imigrantes italianos e popularizado após a II Guerra. Neste ano, o produto brasileiro será exportado para cinquenta países, como Estados Unidos — o maior comprador —, Peru (o terceiro maior consumidor), Angola, Argentina e Japão.

O panettone, com dois “t”, foi inventado em Milão — e esse é o único consenso entre as várias lendas que rondam sua origem. A mais romântica diz que Toni, um padeiro na Milão de Ludovico, o Mouro (1452-1508), apaixonou-se pela filha do dono da padaria, criou um pão doce para impressionar o pai da amada e ecco — o pane di Toni vendeu como pão quente.

Há referências ao pão de frutas em rituais celtas em 600 a.C. e em quadros renascentistas. No século IX, o ponto alto da noite de Natal entre as famílias milanesas se dava quando o patriarca repartia o “pão grande” como sinal de comunhão. Seis séculos adiante, aristocratas e plebeus consumiam na ceia natalina o mesmo pão, o pan de ton, ou pão de luxo, feito de trigo, manteiga, mel e uva.

Panetone
À FRANCESA - Petit gâteau com chocolate cremoso: é só aquecer e consumir (//Divulgação)
Continua após a publicidade

Fazer panetone dá trabalho. O processo leva no mínimo 24 horas e envolve etapas como alimentar o fermento, misturar os ingredientes, deixar a massa descansar, dobrá-la e assar. Para proteger a tradição, o governo italiano baixou um decreto, em 2005, que regulamenta a produção. O formato é de massa aerada de fermentação natural, base redonda e crosta crocante. Os ingredientes são farinha, sal, açúcar, ovos, manteiga, fermento natural e frutas cristalizadas em quantidade não inferior a 20% da receita total. Cedendo aos novos tempos, a norma permite outros sabores, desde que se preserve a massa-padrão. Isso mesmo: os italianos também inventam. Nas confeitarias de Roma, encontram-se opções de pistache, de creme de limão e de chocolate. Em Nápoles, foi lançado até um panetone em forma de pizza. “Mesmo assim, o original continua sendo nosso campeão de vendas”, orgulha-se Fabrizio Galla, membro da Academia Italiana de Mestres Confeiteiros. Toni, se existiu, ficaria feliz.

 

Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2018, edição nº 2610

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.