O Brasil é um país de incontáveis oportunidades. E muitas delas, infelizmente, têm sido desperdiçadas ao longo de nossa história. Uma reportagem desta edição, “Velhos e Pobres?”, está dedicada à evolução da demografia brasileira e suas consequências econômicas e sociais. Como o título sugere, o diagnóstico e os prognósticos são preocupantes. A tradicional pirâmide com as faixas da população por idade já mudou seu formato — é agora uma figura bojuda, mais recheada no meio. Isso representa o envelhecimento do país. Passamos a ter uma proporção menor na base, formada por quem tem abaixo de 30 anos de idade. E aumentou a camada dos mais velhos. É uma boa notícia: mais brasileiros estão tendo uma vida prolongada. Mas a mudança impõe desafios que já eram previsíveis e não foram devidamente respondidos até agora.
Deixamos passar uma fase especial, a do chamado bônus demográfico, quando as proporções demográficas foram as melhores possíveis, com o máximo relativo de gente ativa para sustentar os que não trabalham. Países que enriqueceram tiraram proveito desse intervalo. Fizeram, por exemplo, um grande esforço de educação. O Brasil até conseguiu colocar a maioria de suas crianças em escolas, mas há décadas o avanço em qualidade do ensino é lento. Neste momento, há um evidente potencial a ser explorado com o patrimônio natural do país, assunto da reportagem “O Dinheiro é Verde”, sobre a movimentação de negócios de crédito de carbono e outros do gênero. Aqui, há bons passos de empresas, mas no setor público decisões para regular e impulsionar o mercado se arrastam. Enquanto isso, continuam a correr sem freio as queimadas e o desmatamento ilegal, que põem a perder florestas e a nossa rica biodiversidade, sem par no mundo.
Para se desenvolver de verdade, e ainda almejar ser um país rico, está na hora de o Brasil tomar jeito e deixar de desperdiçar tantas oportunidades.
Publicado em VEJA, outubro de 2024, edição VEJA Negócios nº 7