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Do pessimismo à estratégia: como enfrentar as incertezas da bolsa em 2025

Estrategistas indicam o método Warren Buffett de investir: o segredo é olhar sempre para o longo prazo e para empresas sólidas

Por Tássia Kastner
20 dez 2024, 06h00

Considerado um dos maiores investidores de todos os tempos, o americano Warren Buffett bate sempre na mesma tecla: para ter bons retornos na bolsa de valores, é importante olhar para o longo prazo e comprar ações de empresas sólidas, líderes em seus mercados, geradoras de caixa e relativamente baratas. Essas premissas serão um mantra para as aplicações em renda variável — a classe de ativos que mais enfrentará dificuldades em 2025. Os gestores e estrategistas de bancos e corretoras consultados por VEJA NEGÓCIOS estão pessimistas. Nas carteiras, o posicionamento é “neutro”, sem grandes movimentos de compra ou venda de papéis. “Gostamos de empresas com poder de pagar dividendos e que conseguem repassar preços ao consumidor”, afirma Daniel Gewehr, estrategista-chefe de ações para o Brasil do Itaú BBA.

Quem olha para trás vê que a bolsa só tropeçou em 2024. Até o fechamento desta reportagem, o Ibovespa, o principal índice da bolsa de valores de São Paulo, esboçava uma recuperação em dezembro, mas acumulava queda de 3% no ano, na faixa dos 128 000 pontos. É um desempenho decepcionante se comparado ao de outros índices. Nos Estados Unidos, o S&P 500 subiu 28% no mesmo período, enquanto o índice Nasdaq avançou 36% — ambos em suas máximas históricas. O cenário é ainda mais desolador na comparação com o fim de 2023. Quando 2024 começou, a aposta era de que a taxa Selic cairia a 9% ao ano, com a inflação dentro da meta. A atividade econômica desaceleraria, mas ainda com um crescimento de 1,5%, após dois anos de expansão acima de 3%. Até o ambiente político parecia favorável para uma agenda sólida de reformas, logo após a primeira aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados. Do lado corporativo, as notícias também eram boas: os lucros das empresas da bolsa cresciam ao redor de 20% ao ano.

As esperanças não eram amparadas apenas pelo ambiente doméstico. Nos Estados Unidos, o grande ímã dos recursos globais, havia a aposta de que Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o banco central americano, reduziria os juros, fazendo fluir para países emergentes o dinheiro represado em Wall Street. Contudo, a realidade foi de frustração. O primeiro corte de juros americanos, esperado para o começo do ano, só veio em setembro, já que a economia seguia aquecida e com risco de repique inflacionário. O resultado foi uma fuga de capitais brutal da B3 — até o início dezembro, os estrangeiros retiraram 25 bilhões de reais da bolsa de São Paulo.

Plataforma da Petrobras: as empresas de commodities estão entre as apostas dos analistas
Plataforma da Petrobras: as empresas de commodities estão entre as apostas dos analistas (Mario Tama/Getty Images)
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Se 2024 começou com boas perspectivas, o mesmo não se pode dizer de 2025. A chegada de Donald Trump à Casa Branca deve ser um fator determinante, com chances de ser um governo protecionista e inflacionário. Isso poderá impor ao Fed uma rota de aperto da política monetária, o que significa menos dinheiro estrangeiro para o Brasil e uma valorização do dólar. Internamente, o cenário também é mais hostil. A projeção é de desaceleração da economia para um crescimento perto de 2%, um desempenho ainda fomentado pelo consumo. Isso se reflete no avanço da inflação, que já está acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5% ao ano. Diante disso, a Selic voltou a subir, com muitos economistas apostando em uma taxa próxima aos 15%. “Precisamos encarar a realidade”, afirma Roberto Chagas, chefe de renda variável da Santander Asset Management. “O cenário brasileiro é sempre desafiador, especialmente para investimentos em bolsa.”

O nível elevado de juros torna difícil atrair recursos para as ações. O mercado financeiro estima que a Selic precisa estar em 9% ao ano para os investidores voltarem a se mover para ativos de risco — uma carta fora do baralho atualmente. “Vai ficar mais complicado o investidor doméstico ir para a bolsa”, diz Gewehr, do Itaú. “O brasileiro quer 1% ao mês de rentabilidade e vai conseguir esse retorno sem precisar tomar muito risco na renda fixa.”

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Para investir na bolsa, será vital adotar um processo rigoroso de escolha de boas empresas. Entre as alternativas, o destaque vai para as exportadoras, as companhias de infraestrutura e de serviços básicos e o setor financeiro. No caso das exportadoras, o estímulo vem do dólar fortalecido, cenário esperado no governo Trump. Isso pode elevar o faturamento tanto de companhias do setor de matérias-primas quanto de setores industriais. E é justamente nesse último caso que estão indicações como a fabricante de motores WEG e a siderúrgica Gerdau. No ramo de commodities, as petrolíferas Petrobras e PRIO se destacam. No setor de infraestrutura, analistas dão ênfase a concessionárias de saneamento e eletricidade, que têm receitas previsíveis e contratos reajustados pela inflação. Nesse caso, as recomendações passam por Equatorial, Eletrobras e Sabesp. Também é preciso considerar o setor financeiro. Embora a alta da Selic prejudique a oferta de crédito, as instituições se beneficiam do aumento dos spreads bancários — a diferença entre a taxa de captação de recursos e os juros cobrados nos empréstimos. No setor de seguros, os valores arrecadados em prêmios passam a render mais, investidos com uma Selic mais alta. Nos destaques do setor estão Itaú e BB Seguridade.

Jerome Powell, presidente do Fed: corte tardio de juros nos Estados Unidos afetou mercado brasileiro
Jerome Powell, presidente do Fed: corte tardio de juros nos Estados Unidos afetou mercado brasileiro (Kevin Dietsch/Getty Images)

Um consenso entre os analistas é de que o cenário macro não definirá, sozinho, o sucesso ou o fracasso de um setor da bolsa. Alguns segmentos, porém, estão mais expostos. O principal exemplo é o setor de varejo, especialmente o comércio digital, que viveu uma euforia no pós-pandemia e agora vê suas ações negociadas por valores 90% abaixo do pico — caso das varejistas Magazine Luiza e Casas Bahia. A Selic em alta, que reduz o acesso ao crédito e freia o consumo, deverá continuar pesando sobre essas empresas, embora alguns casos sejam exceção, como o marketplace Mercado Livre, a rede de joalherias Vivara e a empresa de supermercados Grupo Mateus.

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A alta dos juros também costuma corroer o resultado das construtoras, dependentes dos financiamentos imobiliários. Há, ainda, as small caps, empresas de menor valor de mercado, que dificilmente atrairão novos investidores em um cenário de maior cautela. Na medida do possível, recomenda-se seguir a estratégia de Warren Buffett: foque no longo prazo e evite correr riscos desnecessários.

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Publicado em VEJA, dezembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 9

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