Em 2026, todos os diretores do BC serão indicados de Lula; veja composição
Governo atual é o primeiro integralmente sob autonomia do Banco Central; diretoria decide nesta quarta-feira qual deve ser a nova taxa Selic

O terceiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que começou em 2023 e vai té 2026, é marcado por uma particularidade: é a primeira gestão presidencial integralmente sob a lei que garantiu a autonomia do Banco Central, aprovada em 2021. Na prática, isso mudou coisas importantes relativas à gestão da autarquia que cuida dos juros, da inflação e da moeda do país, além de fiscalizar os bancos e cuidar de outros meios de pagamentos como o Pix.
Entre as principais alterações que estão no coração da lei da autonomia, está o descasamento dos mandatos de sua diretoria com os do presidente da República, deixando a lógica da formação da cúpula um pouco mais parecida com o que acontece com o Supremo Tribunal Federal (STF), um poder independente em que os presidentes saem e os indicados continuam, e um pouco menos com os ministérios, em que a cada nova gestão muda tudo de novo. No caso do novo organograma do BC autônomo, tanto o presidente da autarquia como os diretores têm mandatos fixos de quatro anos, renováveis por mais quatro – prorrogação que cabe ao presidente da República da vez decidir (veja a lista da composição da diretoria atual mais abaixo).
Por conta disso, Lula começou o seu governo tendo que conviver não só com o presidente do BC indicado pelo antecessor Jair Bolsonaro, Roberto Campos Neto, como com todos os diretores deixados por ele. Os primeiros dois diretores da lavra de Lula vieram apenas em julho de 2023, corridos sete meses de governo – a dupla inicial foi formada por Ailton dos Santos, atual diretor de Fiscalização, e Gabriel Galípolo, que, antes de ser o escolhido de Lula para assumir a presidência em janeiro deste ano, entrou como diretor de Política Monetária, a pasta focada na dinâmica dos juros e da inflação.
Atualmente, sete dos nove dirigentes que comandam o BC, incluindo o presidente da autarquia, já são de indicados de Lula. É este colegiado que, também, forma o Comitê de Política Monetária, o Copom, grupo responsável por dirigir a Selic, a taxa básica de juros da economia, e que anuncia nesta quarta-feira 19 qual deve ser o novo nível da taxa. O amplo consenso é que o Copom eleverá a Selic em 1 ponto percentual, de 13,25% para 14,25%, conforme já estava prescrito nas reuniões anteriores.
Os mandatos dos dois últimos indicados da gestão Bolsonaro – Diogo Guillen, diretor de Política Econômica, e Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, braço do BC que cuida, entre outras, coisas do Pix – acabam em 31 de dezembro de 2025. Isso significa que, a partir de 2026, Lula poderá ter indicado toda a diretoria do BC.
A lei da autonomia do BC (Lei Complementar 179/2021) estipula mandatos fixos de quatro anos para o presidente e cada um dos oito diretores. O início desses mandatos, entretanto, são escalonados ao longo dos quatro anos de cada presidente da República: em cada um dos anos o presidente indica dois diretores, de maneira que, até o quarto ano, terá renovado todos os oito. O presidente do BC assume sempre no início do terceiro ano do mandato do presidencial – ou seja, sempre conviverá com seu “padrinho” nos dois últimos anos de governo e com o sucessor nos dois primeiros.
Os mandato começam sempre em 1o de janeiro de cada ano, e todas as indicações devem ser aprovadas pelo Senado. Todos os dirigentes podem ser reconduzidos ao cargo para mais um mandato de quatro anos uma vez, nesse caso por decisão do presidente da República em exercício e sem necessidade de aprovação no Senado.
A lei também veda a demissão de todos eles. O presidente e os diretores do BC só podem ser afastados de seus cargos em um punhado de situações bem específicas pré-determinadas: a pedido, por doença, se condenados por algum crime ou, no caso de de mau desempenho, apenas se solicitado e justificado pelo Conselho Monetário Nacional e também aprovado pelo Senado Federal.
As legislações referentes ao Banco Central também determinam que todos os indicados às diretorias devem ser “brasileiros idôneos, de reputação ilibada e de notória capacidade em assuntos econômico-financeiros ou com comprovados conhecimentos que os qualifiquem para a função”.
Veja a seguir a composição atual da diretoria do BC e também do Copom, bem como a experiência de cada um.
Indicados por Lula:
(1) Gabriel Galípolo
Presidente
Mandato: 1 de janeiro de 2025 a 31 de dezembro de 2028
(2) Nilton David
Diretor de Política Monetária
1 de janeiro de 2025 a 31 de dezembro de 2028
É chefe de operações de Tesouraria do Bradesco, com passagens pelo Citibank, Goldman Sachs e Morgan Stanley, no Brasil e no exterior
(3) Izabela Correia
Diretora de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta
1 de janeiro de 2025 a 31 de dezembro de 2028
Foi professora de gestão pública no Insper, assessora da Controladoria-Geral da União (CGU) e é servidora do Banco Central desde 2017
(4) Gilneu Vivan
Diretor de Regulação
1 de janeiro de 2025 a 31 de dezembro de 2028
Atual chefe do Departamento de Regulação e servidor do Banco Central desde 1994, com passagens anteriores pela Caixa Econômica e Unibanco
(5) Paulo Picchetti
Diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos
2 de janeiro de 2024 a 31 de dezembro de 2027
Professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas desde 2006. Coordenou índices de preços da FGV e da Fipe
(6) Rodrigo Alves Teixeira
Diretor de Administração
2 de janeiro de 2024 a 31 de dezembro de 2027
Professor da PUC-SP e da Faap. Analista do BC desde 2002, com passagens pelo Ipea, Ministério do Planejamento, Casa Civil e Apex.
(7) Ailton de Aquino Santos
Diretor de Fiscalização
12 de julho de 2023 a 28 de fevereiro de 2027
Servidor de carreira do BC desde 1998, onde foi auditor-chefe, chefe do departamento de contabilidade e orçamento e inspetor de fiscalização.
Indicados por Bolsonaro:
(8) Diogo Guillen
Diretor de Política Econômica
27 de abril de 2022 a 31 de dezembro de 2025
Formado pela PUC-Rio, foi economista-chefe da Itaú Asset Management e economista-sênior da Gávea Investimentos.
(9) Renato Gomes
Diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução
27 de abril de 2022 a 31 de dezembro de 2025
Foi professor da Toulouse School of Economics (2010-2017) e diretor de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), na França.