Haddad vê inflação acima da meta até junho e diz que Banco Central deve ser “inteligente”
Ministro diz que inflação pode cair antes que o esperado e conta com a ajuda do dólar e da safra de alimentos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acredita que a inflação permanecerá acima do teto da meta até junho, em linha com a análise do Banco Central (BC). Em entrevista à canal de notícias GloboNews na noite desta quinta-feira 5, Haddad afirmou, contudo, que a alta dos preços já começa a convergir para a meta “no horizonte relevante”, jargão do mercado financeiro para o período de tempo considerado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC para tomar suas decisões sobre a taxa básica de juros, a Selic.
No comunicado de sua última reunião, quando elevou a Selic em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano, o Copom indicou que olha atualmente para a curva da inflação até setembro de 2026. Por essa análise, o colegiado de diretores do BC projeta uma alta de preços de 5,2% em 2025, e de 4% no terceiro trimestre do ano que vem.
A meta de inflação é de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Com isso, pode oscilar entre um piso de 1,5% e um teto de 4,5%. No ano passado, os preços acumularam alta de 4,83%, estourando o teto da meta. Neste ano, a grande maioria dos economistas de mercado projetam uma inflação ainda maior. O último Boletim Focus do BC mostra que os analistas esperam um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 5,51% em 2025.
Para conter os preços, o BC acelerou a alta da Selic desde a reunião de dezembro passado, quando decidiu elevar os juros em 1 ponto percentual, para 12,25%, sinalizando com duas altas de igual magnitude nas reuniões de janeiro e março, caso as projeções de inflação não convirjam para a meta. Sob o comando de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também nomeou a maioria da atual diretoria, o BC cumpriu a promessa no encontro deste mês e ajustou a Selic para 13,25%.
À GloboNews, Haddad justificou a expectativa de que a inflação fique acima da meta até meados do ano, lembrando que há uma defasagem de tempo até que a alta dos juros surta efeito na economia. Ele defendeu, contudo, que “o Banco Central tem que ter inteligência” para lidar com a questão, e pregou a necessidade de doses moderadas de aperto monetário. “A política [monetária], não numa dose para matar o paciente, mas para trazer a inflação gradualmente para o centro da meta”, disse à jornalista Miriam Leitão.
“Eu acredito que podemos ter boas novas no front inflacionário, se a política [monetária] for bem conduzida, com a safra e o câmbio”, afirmou Haddad à GloboNews ontem à noite. Com isso, o ministro voltou a demonstrar que aposta numa mudança da conjuntura favorável ao controle dos preços, composta pelo recuo do dólar, que já acumula uma queda de cerca de 6% neste ano frente ao real, e na esperada supersafra de alimentos dos próximos meses. Como se sabe, a alimentação foi um dos fatores que mais pesaram no bolso dos brasileiros no ano passado.
Segundo o ministro , há condições para que a inflação caia antes que o esperado. “Aqui no Brasil, acredito que a resposta [da inflação] vai ser mais rápida”, disse à GloboNews. “Acredito que possa ter uma acomodação mais rápida também”.