Real bate moedas de países em guerra e crise econômica e lidera queda frente ao dólar em 2024
Desconfiança de investidores estrangeiros sobre as contas públicas e juros altos nos Estados Unidos castigaram o real frente ao dólar

O real foi a moeda com a maior desvalorização frente ao dólar em 2024, segundo levantamento da Elos Ayta. Entre as 27 moedas analisadas pela consultoria, apenas o dólar de Hong Kong conseguiu terminar o ano mais valorizada em relação à moeda americana, com uma pequena alta de 0,51%. Já o real perdeu 21,82%, quando se considera o dólar PTAX Venda, calculado diariamente pelo Banco Central (BC) e usado como referência pelo mercado para liquidação de operações financeiras como contratos futuros e de derivativos.
Segundo a Elos Ayta, o desempenho do real foi o terceiro pior, em termos nominais, desde 2010. A queda registrada em 2024 só perde para a desvalorização de 31,98% vista em 2015, quando a então presidente Dilma Rousseff começava a enfrentar os sérios problemas políticos e econômicos que culminaram em seu impeachment no ano seguinte, e para a queda de 22,44% verificada em 2020, no auge da pandemia de covid-19.
A consultoria lembra que, desde 2010, o real apanhou sistematicamente do dólar e só registrou valorização em quatro anos: 2010, 2016, 2022 e 2023. “Nos últimos dois anos, em particular, o desempenho positivo estava ligado a fatores como o aumento das exportações e a manutenção de taxas de juros atrativas no Brasil, o que favoreceu o ingresso de capitais estrangeiros”, diz a Elos Ayta.
A expressiva queda do real em 2024 reflete fatores já conhecidos. No âmbito doméstico, a moeda catalisou o mau humor do mercado com a deterioração da dívida pública e a pouca disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ala política de seu governo de apresentar um ajuste contundente das contas, capaz de reverter a trajetória de alta do endividamento.
No ambiente internacional, a taxa de juros dos Estados Unidos encontra-se em patamares historicamente altos para os padrões americanos. Mesmo após o Federal Reserve iniciar um novo ciclo de cortes em setembro, os fed funds, como é conhecida a taxa básica de juros do país, terminaram o ano na faixa de 4,25% a 4,5%.
Além disso, o início do segundo mandato do republicano Donaldo Trump na Casa Branca, em janeiro, leva parte do mercado a apostar na manutenção dos juros pelo Fed. Alguns já cogitam uma reversão da política monetária rumo a nova altas, diante das medidas anunciadas por Trump e que podem pressionar a inflação, como a imposição de sobretaxas de importação para diversos produtos.
Sem motivos para confiar no Brasil e com os títulos americanos ofertando taxas mais altas, os investidores internacionais passaram o ano zerando posições no mercado verde-amarelo. Para se ter uma ideia, os estrangeiros retiraram mais de 30 bilhões de reais da Bolsa brasileira neste ano. Junto com a remessa de dividendos por filiais de multinacionais para suas matrizes, a grande demanda por dólares catapultou a cotação. Nem mesmo as intervenções do BC no mercado à vista e em contratos de linha com promessa de recompra conseguiram conter a desvalorização do real.
Com isso, a moeda brasileira conseguiu ser o destaque negativo global, batendo divisas de países que, em tese, apresentam problemas bem piores. A Argentina de Javier Milei, por exemplo, que sofre com uma década de déficits primários, inflação anual de 166% e medidas draconianas de cortes de gastos públicos que puseram 51% dos argentinos na pobreza, viu o peso cair 21,7%. Já a Rússia de Vladimir Putin, alvo de sanções internacionais desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, registrou uma desvalorização de 19,23% do rublo neste ano.
Veja o ranking das moedas que mais perderam valor diante do dólar em 2024, segundo a Elos Ayta.
País | Moeda | Variação frente ao dólar |
Brasil | Real (Dólar Ptax) | -21,82% |
Argentina | Peso Argentino | -21,70% |
Rússia | Rublo | -19,23% |
Brasil | Real (Dólar Comercial) | -19,15% |
México | Peso Mexicano | -17,51% |
Turquia | Lira | -16,47% |
Colômbia | Peso Colombiano | -13,17% |
Coreia do Sul | Won | -12% |
Chile | Peso Chileno | -10,84% |
Noruega | Coroa Norueguesa | -10,15% |
Japão | Iene | -10,05% |
Austrália | Dólar Australiano | -8,70% |
Suécia | Coroa Sueca | -8,43% |
Canadá | Dólar Canadense | -7,64% |
Suíça | Franco Suíço | -6,67% |
Taiwan | Dólar Taiwanês | -6,23% |
Dinamarca | Coroa Dinamarquesa | -5,86% |
Zona do Euro | Euro | -5,21% |
Indonésia | Rúpia Indonésia | -4,93% |
Filipina | Peso Filipino | -4,25% |
China | Yuan | -3,01% |
África do Sul | Rand | -2,66% |
Índia | Rúpia Indiana | -2,59% |
Israel | Novo Shekel | -1,37% |
Inglaterra | Libra Esterlina | -1,25% |
Peru | Sol | -0,67% |
Arábia Saudita | Rial Saudita | -0,18% |
Hong Kong | Dólar de Hong Kong | +0,51% |