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‘Vilões’ puxaram inflação impactados por dólar e preço de commodities

Óleo de soja e arroz dispararam 103,79% e 76,01%, respectivamente, durante o ano passado; das 20 maiores altas, 19 são de alimentos

Por Larissa Quintino Atualizado em 12 jan 2021, 15h18 - Publicado em 12 jan 2021, 11h18
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  • Quem sai para o mercado sabe que, em 2020, o valor usado para uma compra básica no início de 2020 não era o mesmo para a mesma despesa no fim do ano. A inflação, que subiu 4,52% em 2020, foi impactada, principalmente, pela aceleração no preço dos alimentos. Tanto que esses itens aceleram quase quatro vezes mais que o índice geral, fechando em alta de 14,19%. Em um ano atípico, mais gente passou a fazer compras para consumir alimentos dentro de casa devido à pandemia. O aumento nos preços, entretanto, passa diretamente por variáveis macroeconômicas que não necessariamente chamam atenção no dia a dia dos brasileiros: a desvalorização do real frente ao dólar e o aumento no valor das commodities no mercado internacional tiveram grande participação para que itens da cesta básica do brasileiro fossem os ‘vilões’ da inflação de 2020.

    Dos 20 itens que mais subiram no ano passado, 19 são do grupo de alimentos. Os preços do óleo de soja e do arroz dispararam 103,79% e 76,01%, respectivamente. Segundo Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IPCA, esse crescimento no valor dos alimentos foi provocado, entre outros fatores, pela demanda por esses produtos, a alta do dólar e dos preços das commodities no mercado internacional, um movimento global de alta nos preços dos alimentos, num ano marcado pela pandemia de Covid-19.

    O óleo de soja, produto que mais subiu, é um exemplo claro disso. Utilizado para o preparo de alimentos, o item é um derivado da soja. Essa commodity, da qual o Brasil é um dos maiores produtores, se valorizou mais de 20% em dólar no mercado internacional. E, com a desvalorização do real em relação ao dólar, o aumento de preços para o Brasil é ainda maior. A crise do novo coronavírus, que ditou os rumos de quase todas as variáveis de 2020, tem grande influência nesse cenário. Isso porque houve um aumento global da demanda por alimentos e o dólar, porto seguro dos investidores em tempos de crise, subiu em relação ao real. Até novembro, por exemplo, o real se desvalorizou 35% em relação à moeda americana, utilizada nas transações internacionais. Quando o ano começou, cada dólar valia 4,023 reais. Em 31 de dezembro, a moeda valia 5,17 reais.

    O arroz, que também é commodity, teve movimento semelhante. Com a desvalorização do real e a maior procura de alimentos, os preços do Brasil passaram a ficar mais interessantes para compradores internacionais. Como a demanda aqui — assim como em todo mundo — subiu, os preços também ficaram mais altos, explica André Braz, economista do IBRE da FGV. “Pela lado da demanda, houve um aumento na procura por causa do auxílio emergencial e da oferta, a alta do dólar, a restrição de alguns itens e a alta das commodities”, resume Kislanov.

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    Futuro

    O resultado do IPCA de 2020, surpreendeu economistas. A XP Investimentos estimava a inflação oficial em 4,40% para 2020. “As maiores surpresas em alta vieram de bens industriais (principalmente eletrodomésticos e preços de veículos). A inflação das tarifas bancárias acima do esperado também contribuiu para uma pequena surpresa inflacionária vinda dos serviços. O núcleo da inflação também veio ligeiramente acima de nossa expectativa”, afirma. Com os resultados do fim do ano, a XP afirma que bens industriais podem continuar a impulsionar o IPCA, assim como dólar. “O câmbio mais pressionado nos últimos dias também pode afetar um pouco o IPCA dos primeiros meses de 2021”.

    André Perfeito, economista-chefe da Necton, afirma que a força da inflação pressiona o Banco Central a voltar a subir a taxa básica de juros, a Selic. Nesta terça, o IGP-M, medido pela Fundação Getulio Vargas, ficou em 1,89% na primeira prévia de janeiro, quando a expectativa era para 1%. Apesar do índice do consumidor ter desacelerado, o aumento de preços no custo para o produtor — principalmente com o aumento do preço no minério de ferro — ligam o alerta. “Estes dados dão o tom que o BCB deve iniciar a alta da SELIC em breve – acreditamos entre o primeiro e o segundo trimestre – e taxa deve fechar o ano em pelo menos 4%”, afirma. A aposta do Boletim Focus, divulgado na segunda-feira, é que a Selic encerre o ano em 3,25%. Atualmente, a taxa básica de juros está em 2%, menor patamar da história.

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