O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sugeriu nesta quinta-feira, 29, que poder haver uma suspensão parcial das operações militares em Gaza para permitir uma campanha de vacinação contra a poliomielite para crianças. A indicação ocorre em meio a temores de um surto do vírus no enclave palestino, após um bebê com paralisia em uma perna ser diagnosticado com a doença no início deste mês.
O gabinete de Netanyahu, em declaração, negou que haveria uma trégua geral durante a vacinação, como havia sugerido uma reportagem da televisão israelense. No entanto, afirmou que aprovou a “criação de locais específicos” em Gaza para a operação de agências humanitárias envolvidas na campanha, que começará nesta fim de semana.
“O plano foi apresentado ao gabinete de segurança e recebeu o apoio de profissionais relevantes”, disse o gabinete do primeiro-ministro.
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Uma possibilidade sugerida pelo comunicado é que bombardeios sejam interrompido em diferentes áreas de Gaza de forma sequencial, uma em seguida da outra, para permitir que as agências humanitárias de desloquem de acordo com o cronograma.
Ainda assim, a declaração foi deliberadamente vaga. Figuras ultrarreligiosas de extrema direita que fazem parte da coalizão no governo Netanyahu se opõem duramente a qualquer forma de trégua no enclave. Agências envolvidas na resposta à crise humanitária que afeta os palestinos, porém, deixaram claro que o surto de pólio, o primeiro a ser registrado em Gaza nos últimos 25 anos, se espalharia para Israel se não fosse contido de forma imediata.
A mídia israelense havia informado anteriormente que a pausa nas operações militares foi exigência do secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, quando visitou o país pela 15ª vez na semana passada.
Campanha contra pólio
A primeira de duas rodadas de vacinação deve começar no sábado, 31, na tentativa de controlar a disseminação do vírus depois que Abdel Rahman Abu al-Jedian, um menino palestino de 10 meses, foi diagnosticado com a doença e desenvolveu paralisia.
O bebê era cheio de energia, disse sua mãe, Nevine Abu El-Jedian, à agência de notícias Associated Press. “De repente, isso foi mudou. De repente, ele parou de engatinhar, parou de se mover, parou de ficar de pé e parou de sentar.”
Mais de 25 mil frascos de vacina, o suficiente para mais de 1 milhão de doses, já chegaram a Gaza, junto com as geladeiras para mantê-los resfriados durante o transporte. Especialistas alertaram, porém, que seria virtualmente impossível realizar uma campanha bem-sucedida sob bombardeios.
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Para impedir um surto, será preciso vacinar 90% das cerca de 640 mil crianças menores de 10 anos de idade em Gaza. Um desafio em meio a um número crescente de ordens de retirada emitidas pelos militares israelenses, que fazem a população se deslocar para locais cada vez mais remotos.
Juliette Touma, porta-voz da agência de ajuda da UNRWA, principal agência das Nações Unidas em Gaza, afirmou que a incerteza em torno das pausas humanitárias tornou qualquer planejamento extremamente difícil.
“Os planos são o feijão com arroz de qualquer operação humanitária bem-sucedida. Você tem que saber quantas pessoas vai alcançar, onde elas estão localizadas e como vai alcançá-las”, disse ela. “Mas, em Gaza, o planejamento é quase inexistente.”