Regime Maduro reitera ameaça de prender González se opositor voltar à Venezuela
Exilado na Espanha, parte da comunidade internacional o considera presidente eleito – e ele fala em retornar ao país para tomar posse em 10 de janeiro

O regime da Venezuela reiterou na segunda-feira 17 que líder oposicionista Edmundo González Urrutia, exilado na Espanha, será preso se voltar ao país caribenho. A ameaça veio depois que o porta-estandarte das forças antichavistas, considerado por parte da comunidade internacional como presidente eleito, ter manifestado a intenção de tomar posse em Caracas em 10 de janeiro, apesar de Nicolás Maduro ter sido proclamado vencedor do pleito marcado por fraude.
“No dia 10 de janeiro, o único que vai tomar posse se chama Nicolás Maduro. Não há uma única possibilidade, nenhuma, nem mesmo meia possibilidade, (de que) o imundo Sr. González coloque os pés na Venezuela sem ser preso”, disse o ministro do Interior, Diosdado Cabello, durante uma entrevista coletiva no Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), transmitida pelo canal estatal VTV.
Cabello, conhecido pelas mãos de ferro e supervisor da repressão a dissidentes, afirmou que González “não é corajoso” ao lembrar que se escondeu na embaixada da Holanda em Caracas por mais de um mês, para evitar um mandado de prisão por “conspiração”, entre outras acusações, e depois pediu asilo político à Espanha, onde está desde setembro.
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“Garanto que nem no dia 10 de janeiro nem em qualquer outro dia (González tomará posse). Zero possibilidades neste momento”, reiterou o ministro.
“Estarei na Venezuela”
Na terça-feira passada, González afirmou em entrevista ao jornal espanhol El País que voltaria ao seu país natal para tomar posse. Ele justificou que foi “votado” pela “maioria dos venezuelanos”, numa referência às eleições presidenciais, cujo resultado oficial é considerado “fraudulento” pela coligação antichavista que ele representa, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), e por grande parte da comunidade internacional – incluindo União Europeia, Estados Unidos, Peru, Equador, Costa Rica, Argentina, Uruguai e Panamá.
“A determinação é estar na Venezuela para tomar posse, para o qual fui eleito por mais de 7 milhões de venezuelanos e, se tivesse sido permitido votar no exterior, esse número teria sido ainda maior”, afirmou ele. “Saí da Venezuela temporariamente, sabia que voltaria a qualquer momento e o momento é 10 de janeiro, data da posse.”
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O político de 75 anos foi questionado sobre uma antiga declaração, na qual disse não ter uma passagem de avião para retornar à Venezuela. Sem oferecer detalhes, ele rebateu que “existem outras maneiras de chegar lá” e que acredita que não será preso caso pise novamente no país.
O opositor do regime chavista negou quaisquer planos de governar no exílio, acrescentando: “Isso é claro: estarei na Venezuela”. Ele destacou que está comprometido “a fazer uma transição ordenada, pacífica e democrática”, mas definiu como “enfraquecida” a mediação do Brasil, Colômbia e México para a troca de poder. González pontuou, no entanto, que continua a “apoiar a ideia de uma transição pacífica com a ajuda de algumas potências estrangeiras”.
Na última quarta-feira, o opositor fez uma aparição inesperada, por videoconferência, no dia de encerramento do Fórum Estratégico Mundial (FSM) que reuniu figuras globais da política e da economia no Hotel Biltmore em Coral Gables, Miami. Lá, reiterou que vai fazer “respeitar e fazer cumprir a vontade popular do 28 de junho”.