O governo Lula negocia assumir o controle total da Eletronuclear, a estatal brasileira voltada à produção de energia atômica. Hoje, 35% da empresa são controlados pela Eletrobras, que foi privatizada no governo de Jair Bolsonaro.
O pano de fundo da discussão vai além do interesse na energia nuclear. Com a medida, o governo ampliaria o seu espaço na própria Eletrobras, garantindo mais assentos no Conselho de Administração da empresa, cuja privatização já foi alvo de diversas críticas feitas pelo presidente Lula.
De tabela, a União conseguiria antecipar o recebimento de uma dívida bilionária, também consequência da privatização. Já a Eletrobras, que não tem o menor interesse em investir em usinas nucleares, se livraria da Eletronuclear.
Questionado sobre o assunto, o presidente da Eletronuclear, Raul Lycurgo, afirmou que não “entra em discussão de acionistas” e ponderou que, para ele, “não tem impacto” o percentual que cada um deles terá sobre o órgão.
O problema maior, diz, é a instabilidade causada pela Eletrobras. A empresa, ao aderir ao plano de privatização, firmou um acordo de investimentos com a Eletronuclear que prevê um aporte de capital e a garantia das operações no mercado privado para a conclusão das obras da usina de Angra 3.
“A Eletrobras não pode sair da raia para Angra 3. A minha dificuldade é em relação às usinas de Angra 1 e e Angra 2, porque ela não quer responsabilidade nenhuma para essas duas usinas. Me dificulta porque eu não consigo nem ir ao mercado para captar. A pior coisa é ter essa instabilidade que é você ter um acionista que, no fundo, não quer. O foco dela é outra coisa, é hidrelétrica e transmissão”, afirmou Lycurgo.
Dessa maneira, a entrada total do governo, apesar de não poder aportar recursos em despesas de pessoal, por exemplo, poderia ajudar na atração de novos investidores na companhia.
Privatização da Eletronuclear
Em entrevista às Páginas Amarelas, Lycurgo também foi questionado se a privatização da Eletronuclear seria um bom caminho. Ele é contra a medida, mas defende uma maior abertura para o mercado.
“Nos Estados Unidos, na Suécia e no Japão, por exemplo, o investimento em energia nuclear é privado. No caso do Brasil, precisaremos de um volume enorme de recursos para atingir as metas que foram pactuadas para 2050 na conferência do clima. Será que teremos suporte, força financeira para isso? Provavelmente, não. O Estado não precisa ser o único investidor”, afirmou.