O dia em que Otoni de Paula encontrou Lula em Brasília
Deputado federal fiel ao bolsonarismo nos últimos anos passou a se aproximar do mandatário em 2024, durante ato no Palácio do Planalto

Ferrenho defensor do bolsonarismo desde seu primeiro mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília, depois da eleição de 2018, Otoni de Paula está cada vez mais distante do capitão. Na última terça-feira, 25, foi derrotado na eleição para o comando da Frente Parlamentar Evangélica, após campanha de Jair Bolsonaro contra seu nome, e prometeu não mais manifestar solidariedade às derrotas do, agora, desafeto. E apesar de afirmar que em 2026 seguirá à direita, o movimento volta a lhe aproximar politicamente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem se encontrou em ruidoso ato no Palácio do Planalto no ano passado.
A primeira aparição pública de Otoni com Lula aconteceu em razão de um projeto de lei aprovado pelo Congresso, e sancionado pelo presidente durante um ato especial preparado na sede do governo federal. Ao lado do petista, Otoni orou e posou para fotos na oficialização do dia 9 de junho como o Dia Nacional da Música Gospel — à época, uma tentativa do Planalto de acenar ao eleitorado evangélico, que nos últimos anos apresentou grande rejeição a candidatos de esquerda. Além dos dois, também estavam presentes ministros da Esplanada, como o advogado-geral da União, Jorge Messias, um dos interlocutores do governo com esse segmento religioso, e o ministro das Cidades, Jader Filho.
Àquela altura, a relação de Otoni de Paula com o núcleo duro dos políticos bolsonaristas já não era positiva. Divergências na eleição municipal de 2024 haviam afastado o parlamentar dos ex-aliados, e lhe aproximado do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) — o responsável por costurar a aproximação entre Otoni e Lula. O ato, contudo, foi o estopim para que a máquina virtual do ex-presidente se voltasse contra o deputado.
Não à toa, desde então Otoni se tornou alvo frequente das ácidas críticas do pastor Silas Malafaia, aliado de primeira hora de Bolsonaro. O religioso, inclusive, voltou a ter papel importante na desidratação do deputado na eleição desta terça, para o comando da bancada evangélica.
A aproximação com o Planalto, por outro lado, deu confiança a Otoni de Paula para que ele nutrisse a esperança de, inclusive, chefiar um ministério na Esplanada, caso Lula decidisse fazer novo aceno aos evangélicos na aguardada reforma ministerial. O desejo esfriou. E, neste momento, o deputado afirma que o petista não será sua escolha para a eleição presidencial de 2026. “Me mantenho com Ronaldo Caiado”, diz, em meio à conjuntura atual.