Governistas querem emplacar um deputado do PSDB ou do PMDB como relator na Câmara da nova denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) por organização criminosa e obstrução de Justiça. A acusação foi apresentada nesta quinta-feira pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) afirmou que o governo quer o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) como relator da segunda acusação. O tucano foi autor do parecer aprovado pela maioria da Câmara, recomendando a rejeição da primeira denúncia contra Temer.
Segundo Mansur, governistas tentam convencer o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), a escolher Abi-Ackel como relator oficial. Procurado, o tucano disse que precisa entender a denúncia antes de decidir se aceitaria ou não ser relator.
Em reservado, outros aliados do governo, porém, defendem um nome do PMDB pró-Temer para relatar a nova denúncia. A avaliação é de que o presidente precisa mostrar que tem força dentro do próprio partido, o que não aconteceu na outra denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Da primeira vez, Pacheco escolheu como relator o deputado Sérgio Zveiter (Podemos-RJ), na época filiado ao PMDB e que deu parecer pela aceitação da denúncia. Com a rejeição do relatório pela CCJ, o presidente do colegiado teve de escolher um novo relator, no caso Abi-Ackel.
Os defensores no governo da tese pró-PMDB para a relatoria avaliam que um deputado do PSDB na posição pode aumentar a crise interna na sigla e, assim, aumentar o número de tucanos que votarão contra Temer. Na votação da primeira denúncia no plenário, a bancada da legenda deu 22 votos pelo arquivamento e 21 pelo prosseguimento da investigação.
Procurado, o presidente da CCJ disse que só decidirá quem será o relator quando estudar a nova denúncia. Ele avaliou, porém, Paulo Abi-Ackel e o deputado Marcos Rogério (DEM-RO), também apontado nos bastidores para relatoria do caso, como “ótimos nomes”.
Governista
Pacheco tem dado sinais de que poderia escolher um nome mais governista para relatar a segunda denúncia. Pessoas próximas ao deputado afirmam que ele deve escolher um relator com um perfil mais moderado, mas não necessariamente um que tenha votado contra o presidente na primeira denúncia.
A decisão de Pacheco deve passar por questões regionais. De olho em uma eventual candidatura ao governo de Minas Gerais em 2018, o deputado não deve indicar um parlamentar que faça franca oposição ao Palácio do Planalto e se indispor com o seu partido, o PMDB.
Além disso, contribuiu para essa percepção a investigação aberta pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que levou à prisão e rescisão do acordo de delação premiada de dois delatores do grupo J&F, que controla o frigorífico JBS: Joesley Batista, um dos donos do grupo, e do ex-executivo Ricardo Saud.
Com a possibilidade de Pacheco escolher um relator com perfil governista, opositores de Temer já planejam apresentar votos em separado recomendando a aceitação da denúncia. “Dependendo do voto do relator, pretendo, sim, apresentar outro voto. Já vou começar a estudar hoje a denúncia”, disse Zveiter.
(Com Estadão Conteúdo)