A ideia de que o presidente eleito Jair Bolsonaro comporia sua equipe ministerial sem se deixar levar pelas pressões políticas, uma promessa que aparentemente empolgou parte de seu eleitorado, já naufragou, antes mesmo da posse. Com sua equipe ainda incompleta, Bolsonaro percebeu que neutralizar a influência política é uma quimera e cedeu diante do peso de duas frentes parlamentares ao indicar os novos ministros da Saúde e da Agricultura — e os dois nomes, por uma notável coincidência, são filiados ao DEM. O presidente eleito, com o objetivo de manter as aparências de sua promessa, tem dito que atender a frentes parlamentares, que são bancadas de interesse, é diferente de vergar-se aos partidos políticos. Há, sim, diferença, mas é só de forma, e não de conteúdo. Afinal, pleitos de uma bancada de interesse não são mais legítimos — ou ilegítimos, a depender do ponto de vista — do que os de uma legenda.
No entanto, se há uma promessa que a realidade já se encarregou de pulverizar, há outra que Bolsonaro vem cumprindo em bons termos. Até aqui, deu carta branca a seus ministros para que montem sua equipe com os auxiliares que desejarem, sem constrangimentos políticos. Nesta edição de VEJA, duas reportagens mostram os resultados concretos dessa abordagem.
Na primeira delas, o leitor encontrará um perfil da equipe de Sergio Moro, o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, que escolheu levar para Brasília alguns dos principais nomes da Operação Lava-Jato. Com isso, Moro garante a continuidade do combate à corrupção, agora em nível executivo, e o fortalecimento do combate ao narcotráfico, uma necessidade imperiosa do país. Até onde se sabe, Bolsonaro autorizou Moro a chamar quem quisesse.
A outra reportagem mostra a liberdade com que Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda, vem compondo a equipe econômica — e os efeitos positivos que já produziu. Ao escolher auxiliares com uma visão liberal muito semelhante à sua, Guedes conseguiu neutralizar, por ora, os temores de que a visão estatista de Bolsonaro, tropegamente abafada durante a campanha, acabasse prevalecendo na condução econômica do governo. A nova equipe, com seu viés claramente liberal, empolgou o mercado e está ajudando no estabelecimento de um clima de otimismo na economia.
São os bons efeitos de promessas mantidas. Que assim seja no novo governo.
O livro do ano
Junto com a atual edição de VEJA, os assinantes estão recebendo o livro do ano — que, desta vez, aborda as três décadas da Constituição promulgada em 1988. A História da Carta, com 225 páginas, reúne uma seleção de 26 reportagens que VEJA publicou de 1968 até 2018 sobre a Constituição. Nos primórdios, ainda durante a vigência da ditadura militar, especialmente depois do AI-5, o assunto era praticamente um anátema. Renasceu com a volta da democracia e ferveu durante o governo do presidente José Sarney (1985-1990). A partir desta semana, A História da Carta também estará à venda nas bancas das principais cidades brasileiras.
Publicado em VEJA de 28 de novembro de 2018, edição nº 2610