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O direito de cada uma

Ação no STF propõe que o aborto até doze semanas de gestação deixe de ser considerado crime. Não é uma questão de ética nem de religião — é de vida ou morte

Por Luisa Bustamante, Fernando Molica e Thais Navarro
Atualizado em 4 jun 2024, 17h44 - Publicado em 10 ago 2018, 07h00
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  • Assunto delicado, daqueles que fazem os políticos suar frio e sair pela tangente, a liberação da prática do aborto no Brasil chegou ao prédio de Brasília onde aportam todas as decisões relevantes do país nos últimos tempos: o Supremo Tribunal Federal. Ao longo de dois dias, sessenta representantes de diferentes setores da sociedade participaram de audiências públicas no plenário para expressar sua posição sobre o tema e pôr em marcha o julgamento de uma ação que, ao mesmo tempo, questiona a constitucionalidade de dois artigos do Código Penal que punem a prática do aborto e defende a descriminalização do procedimento até a 12ª semana de gravidez. Sendo o STF o guardião da Constituição, coube a ele mexer no vespeiro — o que não deixa de ser promissor. Com a questão examinada sob a letra fria da lei, que é impermeável às paixões e às polêmicas que o assunto desperta, é possível que o Brasil tenha a chance de encarar a realidade. E a realidade é que, no país, cerca de 500 000 mulheres interrompem a gravidez todos os anos, e a cada dois dias uma mulher morre de complicações decorrentes de procedimentos malfeitos.

    1 mulher morre a cada 2 dias no Brasil de complicações decorrentes de aborto clandestino

    Falar de aborto é mexer com emoções, com convicções transformadas em verdades pétreas, em um cenário em que o certo e o errado são difusos e acirram divisões. Na Argentina, país movido a mobilizações populares, a rejeição pelo Senado, na quinta-feira 9, de um projeto de descriminalização do aborto foi recebida com lágrimas e desespero nas ruas tomadas por manifestantes que encararam a derrota como uma tragédia, enquanto os defensores da criminalização celebraram com sorrisos e aplausos o que consideraram uma vitória espetacular. A força da onda pró-­aborto desaguou no Brasil, onde, nos dois dias de audiências públicas, sexta 3 e segunda 6, a frente do STF virou uma pequena Buenos Aires, com grupos a favor da descriminalização replicando slogans, cartazes e até o figurino das manifestações portenhas.

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    ONDA VERDE CONTIDA –  Choro de manifestantes em Buenos Aires na madrugada de 9 de agosto: derrota no Congresso (Eitan Abramovich/AFP)

    A ação que pede a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação foi encaminhada ao STF pelo PSOL em março do ano passado. Em tempo: descriminalizar é uma coisa, legalizar é outra. A primeira determina que o aborto deixe de ser crime passível de prisão (um a três anos para a mulher, três a dez para quem a auxilia). A segunda vai além e obriga o Estado a oferecer o procedimento na rede de saúde pública. “Queremos que o Supremo, a quem cabe interpretar a Constituição, defina quando se dará o início da proteção da vida para fins de aplicação do Código Penal”, resume uma das redatoras da ação, Luciana Boiteux, professora de direito penal e criminologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A ação se apoia em dois argumentos principais. Primeiro: a Carta de 1988 contempla princípios que asseguram às mulheres liberdade, dignidade e voz ativa no planejamento familiar. Segundo: seu texto garante o direito à vida a adultos, adolescentes e crianças, mas não menciona a fase de gestação — brecha, por sinal, que deputados adversários do aborto tentam fechar, incluindo na Constituição um artigo que passe a garantir o direito à vida “desde a concepção”. O prazo de doze semanas que a ação quer que o Supremo avalize baseia-se no consenso científico de que até essa fase da gestação o sistema nervoso central do feto não está formado.

    O aborto é permitido na maior parte do mundo desenvolvido e proibido na porção menos avançada, sobretudo onde predomina a Igreja Católica, terminantemente contra a prática. As questões religiosas e éticas que envolvem a interrupção da gravidez são profundas e relevantes, mas têm caráter intrinsecamente individual. Cada pessoa pode ser a favor ou contra o aborto e é livre tanto para censurar as mulheres que interrompem a gravidez quanto para criticar as que têm filhos sem condições de criá-los. Mas fechar um país ao aborto e qualificá-lo de crime é não só improdutivo, mas também cruel. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são realizados no mundo 25 milhões de interrupções de gravidez em condições precárias a cada ano. Nos países onde a prática é crime morrem 220 mulheres para cada 100 000 abortos realizados. Naqueles em que é permitida, a mortalidade materna não passa de 1,7 para 100 000.

    No Brasil, a limitação do procedimento a situações de estupro, risco de vida da gestante e anencefalia do feto não impede que o aborto seja recorrente em todas as faixas de renda e escolaridade. “Quem são as mulheres que abortam? Essa multidão pode ser descrita por números: uma por minuto, 56% católicas, 26% evangélicas. É a mulher comum brasileira”, disse, em seu depoimento no STF, a antropóloga e ativista Débora Diniz, uma das responsáveis pelo mapeamento de perfil realizado pela Universidade de Brasília. No fim de julho, Débora precisou sair da cidade devido a ameaças que recebeu por sua posição a favor da descriminalização, o que só mostra a que níveis absurdos chegou a intolerância com quem pensa diferente.

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    PELO SIM - A deputada argentina Victoria Donda, nascida em um centro de tortura: “Eu sei bem o que é clandestinidade” (Javier Caamaño/EFE)

    Apesar de estar presente em toda parte, o aborto é mais disseminado — e mais letal — na camada menos favorecida da população. Mulheres que estudaram até a 4a série ou têm renda familiar de até um salário mínimo abortam duas vezes mais. A taxa de mortalidade de grávidas em decorrência de aborto é de 3 por 100 000 nascidos vivos entre brancas, 5 por 100 000 entre negras e 8,5 por 100 000 entre as de baixa escolaridade. “A ilegalidade não impede o aborto, só empurra as grávidas para os riscos da clandestinidade”, diz a pesquisadora Mariza Theme, da Fundação Oswaldo Cruz.

    O levantamento da UnB revela que uma em cada cinco mulheres de até 40 anos já realizou ao menos um aborto no Brasil — com toda a carga de medo, angústia, culpa e dor que o procedimento carrega. Metade delas apelou para o uso de misoprostol, medicamento recomendado pela OMS que aqui só pode ser vendido a clínicas e hospitais cadastrados, mas é facilmente encontrado no mercado paralelo. Mesmo nesse quadro favorável, há riscos quando as mulheres fazem uso errado ou tardio do remédio. Pior ainda: quando dá errado, muitas demoram a procurar um hospital e escondem que fizeram aborto, atrasando intervenções urgentes. “Elas têm medo de ser denunciadas. Metade das notificações parte dos profissionais de saúde que as atendem”, explica Flávia Nascimento, da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.

    A metade que não toma o medicamento recorre a clínicas infectas, médicos inescrupulosos, poções abortivas e introdução de objetos variados no corpo. Uma análise da Defensoria do Rio dos depoimentos de 42 mulheres que respondem na Justiça por ter abortado mostra que vinte fizeram o procedimento sozinhas e apenas três interromperam a gravidez antes que ela completasse doze semanas. As 22 que procuraram clínicas clandestinas pagaram de 600 a 4 500 reais. Tiveram sorte, pois sobreviveram. Em 2014, Jandira dos Santos Cruz, de 27 anos, deixou as duas filhas em casa, em Campo Grande, bairro da Zona Oeste do Rio, seguiu para submeter-se a um aborto clandestino e morreu. Seu corpo, carbonizado, só foi encontrado um mês depois.

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    CARA E CORAGEM –  Rebeca, a primeira brasileira a requerer na Justiça o direito ao aborto: o pedido foi negado, e ela interrompeu a gravidez em uma clínica na Colômbia (Claudia Valsani/Piauí/.)
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    Para não cair no que classifica de “açougue”, e com medo de ser presa, a paulistana Rebeca da Silva Leite, de 31 anos, mãe de dois filhos e disposta a interromper uma terceira gravidez, tomou no ano passado a inédita iniciativa de pedir à Justiça autorização para abortar. A ideia partiu da antropóloga Débora, que também ajudou na elaboração da ação levada ao STF e propôs a Rebeca que ela fosse a “face humana” do processo. Mesmo alertada de que seria alvo de críticas, Rebeca se assustou com a repercussão. Grupos contra a legalização do aborto conseguiram o número de seu telefone e ligavam para sua casa. Uma mulher foi bater à sua porta, pedindo que desistisse. O STF não aceitou conceder a liminar no âmbito da ação do PSOL. Pouco depois, Rebeca foi convidada a participar de um seminário na Colômbia, onde o aborto é permitido, e interrompeu a gravidez em uma clínica de lá. “Foi um alívio”, disse a VEJA. Abortos inseguros no Brasil levam à hospitalização de 250 000 mulheres por ano. Na última década, o SUS gastou 500 milhões de reais no tratamento de complicações.

    O aborto legal já chegou a 63 países, com a inclusão mais recente da católica Irlanda, onde a medida foi aprovada por 66% dos votos em um plebiscito, em maio. Caminhando na direção contrária, o Senado da Argentina rejeitou descriminalizar o aborto até catorze semanas, depois de a Câmara ter aprovado o projeto por diferença de quatro votos. A vitória inicial impulsionou quase dois meses de manifestações diárias nas ruas, com participantes vestidas de manto vermelho e touca branca — referência ao uniforme das raras mulheres férteis forçadas a reproduzir em uma sociedade dominada pelo conservadorismo religioso, tema da premiada série The Handmaid’s Tale. “As novas gerações, protagonistas dessa mobilização, representam a mudança e a certeza de que, se não sair agora, o projeto será lei em breve”, afirma a deputada Victoria Donda antes da rejeição pelos senadores, que já era esperada.

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    SUSTO – Débora: a atuação pró-aborto resultou em ameaças que a forçaram a deixar sua casa em Brasília (Carlos Moura/SCO/STF)

    Uma das vozes mais vibrantes da campanha pró-aborto, Victoria, de 41 anos, nasceu na Escola Superior de Mecânica da Armada (Esma), em Buenos Aires, o principal centro de tortura na ditadura militar argentina. Seus pais até hoje são considerados desaparecidos. “Se vamos falar de aborto clandestino, eu sei muito bem o que é clandestinidade. A clandestinidade entra no corpo. A pessoa se sente só”, disse ela para uma matéria no jornal The New York Times. Embora seja sensível aos argumentos de quem é contra o aborto, a deputada reitera que criminalizá-­lo é uma afronta inaceitável à liberdade das mulheres. “Sinto pesar pelos embriões que não vão nascer, mas também sinto pesar quando vejo o rosto das mulheres que desfrutam todos os direitos e, mesmo assim, são impedidas de trocar a clandestinidade pela saúde pública”, diz.

    O movimento pela descriminalização do aborto se intensificou nas últimas duas décadas na América Latina. A prática foi aprovada na Colômbia, na Cidade do México (apenas na capital, e não no país), no Uruguai, na Guiana, na Guiana Francesa e em Porto Rico. Antes disso, o aborto só era praticado legalmente em Cuba, como política nacional para garantir uma baixa taxa de mortalidade infantil. A mobilização agora está se disseminando na região. “É uma ação protagonizada pelas mulheres. Elas estão quebrando o velho sistema ao declarar que são donas do seu corpo”, reflete a antropóloga uruguaia Susana Rostagnol. No Uruguai, onde a liberação se deu em 2012, as mortes em decorrência do procedimento despencaram: foram 8% dos óbitos maternos entre 2011 e 2015, contra 37% de 2001 a 2005.

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    Nos Estados Unidos, a liberação também foi alcançada no Judiciário. Em 1973, a Suprema Corte deliberou sobre o caso Roe vs. Wade, junção do pseudônimo Jane Roe, inventado para proteger a identidade da mulher que foi aos tribunais pelo direito ao aborto em Dallas, no Texas, e do nome do promotor Henry Wade, contrário ao pedido. Os juízes americanos deram ganho de causa à mulher, com base nas liberdades individuais garantidas pela 14ª emenda à Constituição. Posteriormente, Jane Roe foi identificada como Norma McCorvey, que veio a se converter a uma religião an­tiaborto e renegou sua ação. Se a virada de casaca de Norma não teve maior efeito, a virada ultraconservadora na Presidência de Donald Trump pode ter. A reabertura da questão foi tema de campanha e a Suprema Corte, na composição atual, não é refratária a reverter a decisão.

    A relatora do processo de descriminalização movido pelo PSOL, a ministra Rosa Weber, começará agora a redigir seu voto, e a ação só deve ser levada ao plenário do STF no ano que vem, quando um novo governo terá assumido (veja a posição dos presidenciáveis abaixo). Com base em opiniões emitidas no passado, os grupos pró-descriminalização estão otimistas: calculam que seis dos onze ministros sejam favoráveis à proposta. A própria Rosa já questionou, no debate de uma ação anterior, a constitucionalidade dos dois artigos do Código Penal na berlinda. A atual presidente, Cármen Lúcia, escreveu em Vida Digna: Direito, Ética e Ciência que as mulheres pobres têm muitos filhos por causa “da ordem penal vigente”. É um sinal de que talvez essa ordem mude.

     


    A OPINIÃO DOS PRESIDENCIÁVEIS

    Entre os oito principais candidatos, só dois são favoráveis à descriminalização do aborto

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    Geraldo Alckmin (PSDB)
    É a favor da regra atual, que libera o aborto em poucos casos e prevê prisão para quem o faz ou ajuda a fazê-lo ilegalmente
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    Ciro Gomes (PDT)
    Não deixa claro o que pensa e recusa-se a expressar um posicionamento pessoal sobre o assunto
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    Marina Silva (Rede)
    Embora concorde com a lei em vigor, diz que é “pessoalmente” contra o aborto. É a favor de um plebiscito para decidir a questão
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    Jair Bolsonaro (PSL)
    É contra a legalização e acha que a atual legislação, ao permitir o aborto em três situações, também é inadequada
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    Fernando Haddad (PT)
    O vice que, na prática, é cabeça de chapa encampou a defesa ao aborto como “questão de saúde pública”, apesar de já ter afirmado ser pessoalmente contra
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    Alvaro Dias (Podemos)
    Considera a legislação atual adequada e suficiente, mas aceita a ideia de fazer um plebiscito sobre o tema
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    Henrique Meirelles (MDB)
    Coloca-se a favor do exercício das liberdades individuais, mas defende o “respeito” à lei em vigor, que restringe a escolha
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    Guilherme Boulos (PSOL)
    Afirma que o aborto deveria deixar a esfera do Código Penal e defende sua legalização

     


    “Os políticos não querem discutir o aborto”

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    BAIXO RISCO – Anand Grover: a importância de seguir a cartilha da OMS (Pradeep Gaur/Mint/Getty Images)

    O jurista indiano Anand Grover, de 66 anos, já rodou dezenas de países para estudar in loco as diferentes legislações sobre o aborto. Só o Brasil ele visitou duas vezes quando era relator especial em saúde pública da Organização das Nações Unidas, cargo que ocupou entre 2008 e 2014. De volta ao país na semana passada para participar da audiência pública que tratou do tema no Supremo Tribunal Federal, em Brasília, Grover concedeu uma entrevista ao repórter João Batista Jr., em que explica por que a proibição cega do aborto é sinônimo de atraso.

    Como são as condições para o aborto no Brasil? Nos casos em que o procedimento é ilegal, falta segurança, como ocorre em outros países. Mas, mesmo nas situações em que o aborto é previsto por lei (se a mulher foi vítima de estupro, se ela corre risco de vida ou se o feto apresenta anencefalia), veem-se barreiras enormes para sua realização no Brasil. Os serviços de referência concentram-se nas capitais e nem sempre funcionam: das 68 entidades credenciadas pelo Ministério da Saúde, apenas 37 estão ativas.

    Muitos países legalizaram o aborto há décadas. O que explica a posição brasileira? A religião tem um grande peso nisso — maior até do que o grau de desenvolvimento do país. Nações de fortes raízes católicas, como o Brasil, costumam demorar mais para progredir nesse campo por acreditarem que o direito à vida começa no momento da concepção.

    O aborto foi legalizado na Índia em 1971. Significou um avanço? Sim. Menos mulheres morrem hoje em consequência do procedimento. Mas ainda há problemas. Por questões culturais, muitas indianas fazem o chamado aborto seletivo: se esperam uma menina, preferem interromper a gravidez. Por isso proibiram no país o ultrassom para determinar o sexo do bebê.

    Em que medida a condenação ao aborto é uma decisão política? Como pode custar votos, sua legalização acaba não entrando na pauta de políticos que estão no poder mais para representar os interesses de certos grupos do que para pôr para a frente assuntos verdadeiramente importantes.

    O Brasil terá eleições neste ano, mas os candidatos não trouxeram o aborto à discussão. Isso o preocupa? É triste que o assunto não esteja sendo debatido. Em um Estado democrático de direito, porém, os políticos têm um papel e o Supremo Tribunal Federal, outro. Se do lado político se foge da questão do aborto, a Suprema Corte tem se encarregado de liderar a mudança.

    Qual é a posição da Organização Mundial da Saúde sobre o tema? Quando os abortos seguem as recomendações da OMS, o risco de complicações é baixíssimo. Existem medicamentos básicos para o procedimento que funcionam bem até a 12ª semana de gestação — justamente o limite em que a Justiça brasileira estuda liberar o aborto no Brasil.

    O senhor é casado com a advogada e ativista Indira Jaising. Por que decidiram não ter filhos? O mundo está superpopuloso, sobretudo a Índia. Não quisemos colaborar com o problema (risos).

     

    Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595

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