Quando o assunto é meio ambiente, a produção sustentável de alimentos é temática obrigatória. Cientistas em todo o mundo têm buscado alternativas viáveis para garantir que o acesso a alimentos saudáveis e nutritivos não seja um problema no futuro, especialmente com uma população mundial crescente e recursos naturais cada vez mais limitados. Entre as opções estudadas está a criação de alimentos à base de insetos. Aliás, uma equipe australiana está explorando a possibilidade de adicionar ao cardápio alternativo, “carnes” de gafanhotos e outros insetos para substituir as fontes tradicionais de proteína animal.
Para muitos, a ideia de comer insetos parece absurda. No entanto, um estudo recente mostrou que a ingestão de insetos já é praticada em pelo menos 113 países do mundo. Apenas para os ocidentais, o inseto ainda não é uma alternativa alimentar. Diversas pesquisas indicam que, mesmo deste lado do mundo, esse tipo de refeição seria aceita caso os insetos viessem processados (e disfarçados).
É justamente nessa abertura que os pesquisadores australianos estão atentos. “O maior potencial para a produção sustentável de proteína é com insetos e novas fontes vegetais. Por exemplo, um dos meus alunos criou um sorvete de insetos muito saboroso”, comentou Louwrens Hoffman, da Universidade de Queensland, na Austrália.
Para aqueles que ainda se recusam a tentar, existe outra opção: os cientistas estudam a possibilidade de transformar a carne de coelho e de canguru em novas fontes de proteína. Ainda há empresas que estão investindo em carnes desenvolvidas em laboratório que podem estar disponíveis nos mercados já em 2021.
Fontes alternativas
O consumo de insetos na alimentação humana vem sendo estudado há alguns anos. Até agora foram documentadas mais de 2.000 espécies comestíveis. E os resultados de pesquisas voltadas para esta área mostram que, como fonte de proteína, os insetos são nutritivos e fornecem uma série de vitaminas importantes.
Além disso, são ecologicamente saudáveis, já que em sua produção são emitidos muito menos gases nocivos ao meio ambiente – especialmente se comparado a produção pecuária. Diante dos benefícios, a ideia já foi aprovada até mesmo pelas Organização das Nações Unidas (ONU), que acredita no potencial dos insetos como solução para a escassez global de alimentos.
Entretanto, antes de introduzi-los definitivamente no cardápio, a ciência busca formas de alinhar preferências. A equipe australiana, por exemplo, também tem se concentrado na produção sustentável de frangos de corte. Para tanto, eles pretendem substituir os farelos de grãos, como soja, por farelo de larvas de mosca negra.
De acordo com os pesquisadores, incluir até 15% de farelo de larva na alimentação dos animais não compromete o desempenho da produção de frango, a eficiência no uso de nutrientes nem o aroma, sabor, suculência e maciez da carne. “Frangos na natureza não comem ração. Eles comem insetos e larvas. É tudo muito lógico”, ressaltou Hoffman.
Além de manter o frango na dieta, os pesquisadores ainda querem adicionar outras alternativas, como a carne de canguru e coelhos. Para a equipe, esses animais podem ser melhores fontes de proteína, já que é possível manejar esses animais em áreas consideradas inadequadas para a criação de frangos, porcos e bois. Outro objeto de pesquisa é o rooibos – um arbusto encontrado na África do Sul usado principalmente para a produção de chá. A planta tem sido testada para verificar seu potencial como aditivo natural no processo de fabricação da carne de coelho.
A história da lagosta
Atualmente, a lagosta é considerada um prato exótico e saboroso em todo o mundo. No entanto, quando foi descoberta, ela tinha uma reputação negativa – da mesma maneira que os insetos têm agora. Segundo a CNN, até o final do século 19, a lagosta só era utilizada para alimentar escravos, servos e prisioneiros em algumas cidades costeiras no nordeste dos Estados Unidos, onde era abundantes e baratas.
Agora, ela é considerada um prato sofisticado vendido nos restaurantes mais caros do mundo. “É preciso uma reavaliação global do que pode constituir um alimento saudável, nutricional e seguro para todos”, concluiu Hoffman.