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Bruxismo é recorrente em pessoas que sofrem de estresse pós-traumático

Estima-se que condição afete cerca de 4% das pessoas expostas a eventos violentos ou acidentais, como ameaça de morte, balas perdidas e desastres naturais

Por Julia Moióli, da Agência Fapesp
Atualizado em 8 Maio 2024, 13h55 - Publicado em 7 Maio 2024, 12h12

De acordo com estudo publicado na revista Clinical Oral Investigations, pessoas que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático frequentemente relatam que apertam ou rangem os dentes de forma constante durante o dia – hábito conhecido como bruxismo de vigília. O trabalho, que incluiu o exame clínico de aproximadamente 80 pacientes, entre casos e controles, chama a atenção para a importância de dentistas e psiquiatras trabalharem em conjunto no diagnóstico mais preciso dos dois problemas de saúde.

Conceito cunhado nos Estados Unidos, a partir do comportamento exibido por veteranos de guerra, o transtorno de estresse pós-traumático passou a abarcar, com o tempo, também vítimas de violência urbana. Estima-se que essa condição afete cerca de 4% das pessoas expostas a eventos violentos ou acidentais, como combate, tortura, ameaça de morte, balas perdidas, desastres naturais, lesões graves, violência física ou sexual e sequestros-relâmpagos.

“Considerando que, na Região Metropolitana de São Paulo, mais de 50% dos habitantes já foram expostos a algum tipo de trauma urbano, número comparável a áreas de conflito civil, é de grande importância entender as possíveis manifestações psicológicas e físicas do Tept, que podem perdurar por anos após o trauma”, diz Yuan-Pang Wang, pesquisador do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-FM-USP) e coautor do estudo.

Entre esses sintomas estão a lembrança angustiante, involuntária e recorrente do evento, estado emocional negativo, comportamento autodestrutivo, alterações no padrão de sono e reação dissociativa (alterações em consciência, memória, identidade, emoção, percepção do ambiente e controle de comportamento), entre outros. Poucos trabalhos, no entanto, estudaram a relação do estresse pós-traumático com a dor orofacial e o bruxismo, que é definido como a atividade repetitiva do músculo da mastigação. Sua prevalência na população geral varia entre 8% e 30%.

Neste estudo apoiado pela (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pacientes diagnosticados com o transtorno no Ambulatório de Trauma do Instituto de Psiquiatria da FM-USP foram encaminhados a um exame clínico que tinha como objetivo analisar sua saúde oral.

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De acordo com os pesquisadores, além do bruxismo autorrelatado, pacientes também apresentaram uma diminuição do limiar de dor após o exame clínico.

“Foi constatado que a higiene bucal não estava relacionada ao problema”, conta Ana Cristina de Oliveira Solis, primeira autora do estudo. “A avaliação periodontal, que também incluiu mensuração do nível de placa bacteriana e sangramento gengival, mostrou que pacientes com estresse pós-traumático apresentaram nível de higiene bucal similar aos controles. Entretanto, os pacientes apresentaram mais dor após a sondagem.”

Tratamento multidisciplinar

De acordo com os pesquisadores, atualmente, o bruxismo não é mais considerado um sintoma isolado, mas evidência de um problema maior. “Nosso trabalho mostra que pode existir uma manifestação do transtorno de estresse pós-traumático em nível bucal, evidenciada pelo bruxismo e pelo maior nível de dor após o exame clínico odontológico. Isso demanda a atuação conjunta entre psiquiatras, psicólogos e dentistas, o que pode contribuir para o screening [rastreamento] e o tratamento das duas condições de saúde”, afirma Ana Cristina.

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Para isso, a pesquisadora recomenda que, durante o exame clínico, o dentista fique atento ao relato de dor dos pacientes e considere a possibilidade de estar frente a uma pessoa com problemas psiquiátricos ainda não diagnosticados.

“O paciente que passou por um evento traumático pode sentir vergonha de falar sobre o assunto e procurar ajuda especializada; já o hábito de procurar atendimento odontológico é muito mais comum e frequente”, diz. “Por isso, seria interessante que o dentista incorporasse ao seu atendimento de rotina instrumentos de screening para transtorno mental e os aplicasse nesses pacientes. Também é importante saber aconselhar o paciente a buscar ajuda especializada.”

Os psiquiatras, por sua vez, podem questionar pacientes com estresse pós-traumático sobre sintomas bucais, como bruxismo, dor muscular e da articulação temporomandibular (ATM). Em caso positivo, devem encaminhá-lo ao dentista para que o tratamento multidisciplinar seja realizado e sua qualidade de vida melhore.

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